A Federação Paulista de Futebol (FPF) iniciou, nesta quinta-feira, uma verdadeira cruzada contra o caos que invariavelmente cerca a venda de ingressos para jogos de futebol dentro do Estado de São Paulo, principalmente envolvendo grandes equipes ou decisões de campeonatos.

Em evento realizado na sede da entidade, que contou com a presença do chefe da Comissão de Arbitragem da Federação, coronel Marcos Marinho, além de dois torcedores que mandaram e-mails à ouvidoria relatando problemas na compra de ingressos e foram convidados, a imprensa foi notificada do primeiro passo da iniciativa da Federação.

Ex-integrante da Comissão Paz no Esporte, criada pelo Ministério do Esporte, Marco Aurélio Klein proferiu uma longa palestra sobre o tema, a primeira de uma série de quatro que serão realizadas antes da elaboração de um dossiê definitivo (autoridades, fornecedores e clubes virão a seguir). Klein foi nomeado presidente da Comissão Gestora de Ingressos da entidade, formada há pouco mais de um ano, com o objetivo de detectar os principais problemas enfrentados pelos torcedores no momento da aquisição dos ingressos e, principalmente, criar alternativas para solucioná-los.

"O primeiro fato detectado é que o serviço oferecido aos torcedores na venda de ingressos e acesso aos estádios é muito ruim. O torcedor é desrespeitado", disparou Klein, que tratou imediatamente de isentar a Federação Paulista de qualquer culpa sobre o tema. "A Federação não vende ingressos. Isso é de responsabilidade dos clubes, mas, como muitas vezes ela é estabelecida como responsável, tomou essa iniciativa para buscar uma melhoria", explicou.

Klein relatou que a comissão realizou um profundo trabalho de campo e acompanhou atentamente cerca de 70 partidas em vários estádios paulistas, implementando, em algumas delas, as mudanças que pretende tornar definitivas no guia que será entregue à Federação em meados de outubro. "No jogo entre Palmeiras e Corinthians, em Presidente Prudente, funcionou legal. Quando a fila anda e o torcedor tem a confiança que irá receber seu ingresso na sua vez, a coisa funciona", testemunhou Klein, confiante em contar com o apoio maciço dos clubes para implantar as mudanças no Paulistão de 2010. "A receptividade de Corinthians e Palmeiras aos testes foi excelente".

Pontos falhos: Dentre os muitos pontos apontados como falhos durante o trabalho de campo realizado pela comissão está a dinâmica da venda de ingressos. "Analisamos fluxos de fila e acessos aos campos e detectamos que, mais do que tecnologia, é preciso organização. Não há sistematização de procedimentos, o nível de informação é baixo e de má qualidade, a identificação de crianças ou estudantes é ineficiente e a venda paralela (cambismo) sobrevive, sobretudo, porque as filas não andam", opinou.

Para solucionar estes e outros problemas, incluindo o dos ingressos falsos, que tanta dor de cabeça deu aos torcedores nos últimos anos, Klein conta com uma base formada por cinco pontos fundamentais: responsabilidade, organização, ação, gestão e transparência. "Precisamos implantar uma padronização nos procedimentos básicos e atender a padrões mínimos de operação e atendimento. Ter um monitoramento constante dos guichês de venda, pois isso, por si só, altera o comportamento dos torcedores, às vezes violentos, e criar uma central de gestão de problemas", alongou-se.

Acostumar o torcedor a comprar os bilhetes com antecedência e de formas alternativas, como a internet, criar um disque-denúncia, diferenciar ingressos inteiros de meias-entradas por cores padronizadas, oferecer um treinamento melhor aos funcionários das bilheterias e aumentar a segurança para os torcedores que enfrentam longas filas também estão na pauta da Comissão. "A intenção não é acabar com o ingresso falsificado, pois nem o Banco Central consegue acabar com dinheiro falsificado. O que queremos é proteger o torcedor destes ingressos e oferecer um serviço de melhor qualidade a todos que gostam de ir ao futebol", concluiu.