Nação do Maior do Mundo;

Improviso é uma arte que nem todo mundo tem. Na música, guitarristas como Jimmy Hendrix, Stevie Ray Vaughan e B.B. King fizeram seus nomes em apresentações que ficaram registradas na história, como o festival de Woodstock e o célebre show de Mocambo (no caso do texano Stevie).

No teatro, o improviso é utilizado apenas por aqueles que tem amplo domínio de palco. Os mestres da interpretação tem como um de seus grandes recursos a arte de viver situações diferentes num mesmo texto. São eles que fazem o público comparecer até mais que uma vez no mesmo espetáculo, sabendo que tudo pode acontecer e que o texto pode mudar de uma hora para outra nas mãos de quem entende. Na comédia, por exemplo, os grandes mestres dos últimos tempos são Jerry Lewis e Jerry Seinfeld. Tem que ter muito talento para fazer o que eles fazem.

No futebol, quando falamos em craques do passado, lembramos da grande capacidade de improviso que faziam as multidões delirarem nos estádios. Talvez o maior caso de talento na arte de improvisar em campo seja de Garrincha, em seu período áureo no Botafogo e na seleção brasileira. O gênio das pernas tortas confundia de vez a cabeça dos “Joãos” que o marcavam e foi um dos mais clássicos exemplos de jogador que conquistou “sozinho” uma Copa do Mundo. Maradona foi outro exemplo de genialidade e capacidade de improviso, mas não vamos nos estender muito nisso.

Acontece que a improvisação nos dias de hoje vem sendo usada como uma norma e não como um recurso. Ao invés de vermos jogadores talentosos utilizando o improviso para incrementar o sistema tático da equipe, somos obrigados a ver gente mediana tentando ocupar espaço que claramente não é a delas. Este é o típico caso do mau uso do improviso. O jogador muitas vezes acaba se queimando na tentativa de ajudar o grupo.

Isso é um caso crônico no São Paulo há anos. Além de termos que conviver desde 2006 sem um meia talentoso que organize as jogadas da equipe (o último foi Danilo, que tinha o carinho da torcida por ser muitas vezes decisivo), desta vez mais uma posição é carente no clube; a de lateral direito. É incrível mas depois de Ilsinho nenhum outro jogador se firmou na posição. Para mim um dos maiores defeitos da administração Juvenal Juvêncio (e do trabalho de Milton Cruz) tão propagado pela “excelência no futebol” é não arrumar um meia que orquestre esse time, como sempre foi nosso DNA.

Nomes como Gérson, Pedro Rocha e Raí (para não citar os mais velhos) honraram com talento e garra esse título de maestros do meio campo. Sempre foram o terror dos adversários em qualquer lado do campo que estivessem com a bola nos pés. Tem clube no Brasil que tem a honra de ter até quatro meias criativos em seu elenco, nós não temos nenhum e os jovens da posição sequer atuam por não estarem ainda prontos.

Espero sinceramente que essa situação acabe o mais rápido possível. Tanto os improvisos de posição como a ausência de um meia capaz não só de jogar com a bola no pé como também com talento para administrar a partida vestindo a maior camisa do futebol brasileiro. Juvenal, antes de entregar seu cargo no começo do ano que vem (com as eleições), por favor, faça o que você deveria ter feito desde que entrou na presidência: Contrate um camisa 10 e acabe com os maus improvisos que atrapalham muito nosso clube.

Saudações tricolores!