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Igor Gomes (Apenas uma modesta reflexão)

De uns tempos para cá, a torcida do São Paulo parece ter perdido a paciência com Igor Gomes – mais um egresso de Cotia que compõe o elenco principal em 2022. Estive nas arquibancadas do Morumbi no Choque-Rei e pude presenciar o ritual: basta o garoto tocar na bola e a energia sobe, coordenadamente, como se o ciclo do rapaz já tivesse se esgotado e o garoto fosse praticamente um inimigo em campo. As vaias, naquele jogo, começaram cedo para Igor, que deixou o campo sob uma chuva de uivos para dar lugar a outro cria da base, o seu companheiro Marquinhos.

Naquela partida o Tricolor, a despeito da derrota, jogou bem e dominou as ações durante grande parte do embate. O revés, contudo, foi sacramentada quando Rafinha, de 36 anos, foi expulso aos 35 minutos do segundo período. E a reação da torcida foi antagônica ao que ocorreu com Igor: o veterano lateral-direito foi ovacionado pela torcida, como um herói que perdeu a batalha, mas lutou de cabeça erguida. Natural; apesar da idade, Rafinha fez grande partida e mereceu ser louvado, ainda que tenha sido displicente no lance. O problema mesmo são as vaias, em campo, a Igor Gomes. As razões irei apresentar nas próximas linhas.

Igor Gomes é são-paulino desde criança. Além disso, é atleta do clube desde os dez anos de idade e colecionou troféus aos montes nas categorias de base: Paulistão, Taça BH, Copa do Brasil. Copa Ouro e Copa RS. Só não se sagrou também campeão da Copinha porque na final, jogando mais à frente, enfrentou um Flamengo que abriu o placar de maneira relâmpago e contou com um dia inspirado do goleiro Yago Darub, hoje no Remo, para segurar o então poderoso ataque do São Paulo. Igor subiu com o moral alto, mas chegou nos profissionais com um peso grande: um clube falido, uma torcida exigente e uma pressão fora do comum. Era a fórmula do insucesso.

Ainda assim, Igor não decepcionou. Quando o Tricolor estava desacreditado no Paulistão de 2019, ele, Liziero, Luan e Antony assumiram uma responsabilidade precoce e deram novos ares ao time. Foram dele, Igor, os dois gols que classificaram o São Paulo diante do Ituano. Um deles, um sem-pulo magistral de quem sabe o que faz perto da área, tal qual o seu gol de bicicleta contra o Inter, no Beira-Rio, no Brasileirão de 2020. Na mesma competição estadual, aliás, ele carregou Felipe Melo nas costas na semifinal e participou ativamente da primeira glória do São Paulo no Allianz Parque. Mas isso tudo parece esquecido diante do que veio depois, com a impaciência gradativa perante uma expectativa que ele nunca nutriu para a torcida.

Igor Gomes não é Kaká. E nunca prometeu ser. É um jogador voluntarioso, honesto em seu futebol, que corre o tempo inteiro e se dedica pelo clube que ele considera como seu. “O São Paulo é o clube do meu coração, da minha família e sou muito feliz aqui“, disse ele, à época da renovação de contrato. Com um bom trabalho sem a bola, Igor tem o reconhecimento efetivo dos companheiros; tanto que, após as vaias de ontem, Calleri, Nestor e o próprio Rogério Ceni saíram em defesa do meia. E não é que ele esteja jogando abaixo; é que a torcida espera dele algo que ele definitivamente não é. Igor é operário, tem uma saída de pressão incrível e cumpre bem a função em campo. Mas isso não aparece tanto quanto fazer gols. Ou fazer média.

Ontem, na coletiva de imprensa, Ceni fez uma importante pergunta: quanto custou Igor Gomes?! E eu vou além: quanto custou Biro Biro, Everton Felipe, Pablo, William, Tchê Tchê, Orejuela, Diego Souza, Jean, Jucilei, Willian Farias, Kieza? Por que Sidão? Com jogadores da base que conhecem e defendem o clube, de graça, por que gastar e dar espaço para ilustres forasteiros, que pouco ou nada sabem da história do São Paulo? O mesmo processo, aliás, ocorreu com Rodrigo Caio. Escorraçado do clube, Rodrigo representava para a torcida o arquétipo da derrota. Foi para o Flamengo ser campeão da Libertadores e do Brasileirão; é campeão olímpico pela Seleção. E declarou ter deixado de ser são-paulino; ocorrerá o mesmo com Igor.

Por
Matheus Conceição.


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