Após ser chamado de burro pela própria torcida, ouvir uma bronca pública de seu técnico e ser multado pelo patrão, poderia um jogador de futebol dar a volta por cima?

Dagoberto está provando que sim. Depois de ser expulso logo na primeira partida do São Paulo no ano, contra a Portuguesa, teve de conviver com a repreensão de Ricardo Gomes e da diretoria, sem falar na reprovação calada de parceiros dentro do CT da Barra Funda.

Após pouco mais de dois meses, o atacante voltou a ser titular, tem quatro gols e três assistências (melhor início de temporada com a camisa do Tricolor) e, de quebra, mostra ter assimilado a cobrança do comandante: nos dez jogos dos quais participou após a expulsão, recebeu apenas um cartão amarelo, contra o Nacional (PAR), em Assunção, pela Copa Libertadores.

– Creio que mudei muito nessa parte. Além de colocar Deus acima de tudo na vida pessoal, passei a me cobrar mais e fazer as coisas com alegria. Assim, tudo acontece de maneira mais tranquila – festejou.

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Depois de ser poupado no último domingo, Dagoberto volta ao time contra o Bragantino, às 21h50, no Marcelo Stéfani (com transmissão em tempo real pelo LANCE!NET).

Na reta final do Brasileirão-2009, o cartão vermelho recebido contra o Grêmio e a suspensão no STJD prejudicaram o São Paulo na briga pelo título e revoltou os dirigentes, que decidiram negociá-lo. A expulsão na estreia parecia ser a gota d’água.

Além de Ricardo Gomes, o vice-presidente de futebol, Carlos Augusto de Barros e Silva, teve uma conversa decisiva com Dagoberto que, sem boas propostas do futebol europeu, ficou no clube, mas perdeu 10% do salário e a condição de titular.

Águas passadas. O camisa 25 só tem recebido técnico e dirigentes para escutar elogios nas últimas rodadas. E sabe a receita para seguir assim: muitos gols e nenhum cartão.

Confira um Bate-Bola com Dagoberto:

Desde a expulsão contra a Lusa, você mudou sua postura e teve melhora no rendimento...
Creio que mudei muito essa parte (expulsões bobas). Minha vida pessoal está centrada em Deus, e quando você centra sua vida nisso, as coisas acontecem de uma forma tranquila e consciente. Comecei a me cobrar mais e fazer as coisas com mais alegria. Estou feliz por elas darem certo com naturalidade.

Faltava alegria, então?
Não digo isso, mas queria acertar muito. Ao perder uma bola, já queria pegá-la novamente, mas acabava levando o adversário junto. Tem de saber que você não vai acertar todas. Em qualquer trabalho, é preciso se preparar para quando as coisas não andarem. Senti muito naquela semana pelas críticas.

Admite que prejudicou o time com a suspensão de 2009?
Claro, pelo momento que eu vivia, como peça fundamental. Mas isso é coisa do passado. Tenho certeza que nisso eu evoluí.

E quanto à multa de 10%, ela mexeu com a sua cabeça?
Não. Claro que é difícil porque você vive disso, mas eu sabia que estava errado. Foi tranquilo. Sei que, a partir desses 10%, vou ganhar muito lá na frente pela minha atitude de mudar e melhorar a cada dia.

Leco disse que vocês tiveram uma conversa decisiva. Falou com mais alguém do clube?
Com ele. Com o Ricardo eu passei (respira fundo)... Quando as coisas não estão andando bem, muita gente vira a cara para você. Naquela semana aqui dentro foi difícil mesmo, com quem você conversava parecia que estava sendo julgado, tachado de bandido, pôxa... Errei, claro que errei, foi uma atitude errada minha, mas a vida segue, todo mundo erra. Então, me respeite como um ser humano, me trate como atleta profissional, que isso acontece. Infelizmente foi comigo, mas foi de boa. Conversei com ele (Ricardo), passei o que eu queria, foi tranquilo.