James Rodríguez, de forma surpreendente, estreou no futebol brasileiro neste ano. Em 19 minutos em Brasília pelo Campeonato Paulista, participou de 23 ações com a bola, fez um gol, deu uma assistência e duas finalizações. Seu mapa de calor, mesmo com pouco tempo em campo, mostra que ele circulou por vários espaços na defesa e no ataque. Desfilou um pouco de seu talento contra a Inter de Limeira e ajudou o São Paulo a recuperar um futebol aceitável após quatro jogos sofríveis.
Mas como um atleta desse nível pôde ter sido descartado depois de ter ficado escanteado no Tricolor de Dorival Júnior e no de Thiago Carpini? Só razões extracampo e uma suposta falta de comprometimento explicam essa “geladeira” para James nos últimos meses? Infelizmente, eu acho que não. Há uma certa resistência hoje no Brasil com jogadores mais clássicos, craques que não se matam fisicamente dentro das quatro linhas, atletas que pensam mais o jogo.
Vimos o que se falava do Ganso, tido como “jogador dos anos 60”, “lento”, “bichado”, “desconectado” e nada “intenso”, palavra que mais está na moda no futebol faz um tempo. Será que não é possível mais ter um jogador bem acima da média, criando, passando a bola e lançando com excelência? Já vi críticas ao Cristiano Ronaldo no Manchester United em sua última passagem porque ele era o atacante que menos marcava o rival.
Já me falaram coisas boas e ruins de James Rodríguez no elenco são-paulino. Dizem que é extremamente profissional, costuma treinar bem e tem um considerável número de amigos, considerando que é um estrangeiro que chegou faz pouco tempo ao país.
Em contrapartida, já ouvi relato de que ele curte bem a vida fora de campo, até por ser muito popular e descontraído, mas não vejo isso influindo em seu rendimento dentro de campo.
Era um tanto quanto compreensível que, no início, James tivesse dificuldade para entrar no time operário e competitivo de Dorival Júnior, afinal a equipe avançava bem na Copa do Brasil, que enfim foi conquistada pelo clube. Mas, depois disso, alguns destaques foram tratar lesões, sobretudo Calleri e Lucas Moura, e o que se viu nos jogos do Tricolor foi um festival de atletas com limitações e alguns sem a devida motivação na reta final do Brasileiro passado.
James não tinha os minutos que merecia, diferentemente de atletas discutíveis, como David, que nem está mais no grupo, ou o garoto Juan, que talvez tenha entrado tantas vezes em campo para ser colocado na vitrine.
A bola parada e a canhota de Rato são úteis, mas James entrega isso até com mais elegância e requinte. Os dois finalizaram com o pé direito uma vez em Brasília contra a Inter, e a diferença dos lances diz muito sobre eles dois.
Os torcedores são-paulinos, desde o início, estão encantados com James, pelo seu passado e, sobretudo, pelo seu talento, raro na América do Sul hoje.
A comemoração de seu gol com a torcida, mostrando sua camisa 55 (10, somando os cincos), foi emblemática. Os jogadores, que poderiam estar chateados com ele pela Supercopa, foram abraçá-lo, em especial Alisson e Calleri o reverenciaram. Os torcedores festejaram duplamente o gol, pois selou a vitória por 3 a 0 e foi marcado pelo cara em campo que mais precisava dar uma resposta.
Agora, busca reconquistar espaço em um elenco supercampeão brasileiro. Mas James já defendeu alguns dos maiores clubes do mundo e ainda hoje é a estrela maior de sua seleção, não é alguém que parece se importar com a cobrança para render no mais alto nível em campo. Mesmo sem forçar muito, ele (que ainda tem apenas 32 anos de idade) já joga em um nível bem superior ao da maioria dos jogadores aqui do Brasil.
Usei James apenas por ser um bom exemplo de jogador muito talentoso que enfrenta resistência em alguns lugares para desenvolver seu futebol tão vistoso. Se ele é tão bom como todos entendem que ele é e se ele é admirado pelos torcedores mesmo cometendo erro ao desistir do clube e do time em uma final, como descartá-lo hoje em dia no futebol brasileiro? Será que nossos treinadores não estão muito presos a sistemas táticos e esquemas mais engessados?
Futebol ainda tem como grande estrela o jogador. E quanto mais técnico, inteligente e capacitado for esse jogador, melhor para seu time e para o esporte como um todo. O futebol não é apenas para craques, até os grandes times têm os seus “carregadores de piano”, mas tomara que os craques não desapareçam de vez, não fiquem esquentando o banco só porque não é um “operário”.
Próximos jogos do São Paulo: Palmeiras (C): 03/03, 20h (de Brasília) - Paulistão Ituano (F): 10/03, 16h (de Brasília) - Paulistão
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