A inesperada eliminação contra um desfigurado Mirassol pelas quartas de final do Campeonato Paulista colocou Diniz e seus métodos novamente em xeque. A menos de um ano no cargo, o treinador de 46 anos chegou ao São Paulo para substituir Cuca e respaldado pelos veteranos Hernanes e Daniel Alves, que, recentemente afirmou: "Diniz hoje é um treinador que não é para o Brasil. O conceito é muito mais inovador, mais moderno, mais completo".
Logo de cara, um empate em 0 a 0 contra o embalado Flamengo, no Maracanã, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro. O time oscilou bastante, mas Diniz levou o time à sexta posição, o que garantiu uma vaga para a Copa Libertadores deste ano. Até a parada forçada pela pandemia do novo coronavírus, o São Paulo vivia um momento de calmaria. O time, já classificado para o mata-mata do Paulistão, parecia prestes a engrenar de vez e dar o passo além, capaz de tirar o clube de uma fila indigesta de títulos - a última taça levantada foi a Copa Sul-Americana, em 2012.
Se a ira atual dos são-paulinos é visível nas redes sociais, nas notas publicadas pelas organizadas, ou até mesmo pelas declarações de membros da oposição política dentro do clube, como Fernando Diniz é enxergado pelos olhos dos torcedores de seus ex-clubes? Há algum ponto de convergência ou indício de um roteiro parecido?
Fernando Diniz ganhou visibilidade quando levou o Audax ao vice-campeonato Paulista contra o Santos, em 2016. Sem chutão e com toque de bola envolvente, uma anarquia muito bem organizada. Mas seria capaz de repetir a fórmula entre clubes maiores, onde é intrínseca a obrigação por títulos?
"Não foi o futebol mais eficiente, como os próprios resultados mostraram, mas foi o mais vistoso em relação a toque de bola, construção de jogadas, de um modelo de jogo bem definido", diz Gabriel Menezes, torcedor do Fluminense, justamente o último time treinado por Diniz antes de assumir o São Paulo.
"O que mais decepcionava era a conclusão de jogadas. O Fluminense chegava bastante no ataque, mas não conseguia transformar em gol", complementa.
Apesar da demissão com o time na zona de rebaixamento do Brasileiro (9 derrotas nas 15 primeiras rodadas), houve comoção dentro do elenco. "Foi uma chuva de mensagens dos jogadores em apoio ao Diniz após sua demissão. Não era um 'paizão', mas sabia inflamar o vestiário", relembra Gabriel.
As variações táticas de Fernando Diniz já renderam frutos para alguns jogadores. É o caso de Tchê Tchê que, ainda no Audax, se tornou um volante que flutua por todo o meio de campo e logo após o vice-paulista foi comprado pelo Palmeiras. Hoje jutos novamente, o treinador admite que a relação nem sempre foi amistosa. No programa "Mesa Redonda", da TV Gazeta, Diniz confessou: "Quando eu cheguei no Audax, o Tchê Tchê não me suportava. Ele ficava bravo porque eu cobrava, falava que ele tinha que mudar".
Não foi um episódio isolado. Em 2017, também pelo Audax, a imagem de Fernando Diniz com o dedo em riste, mandando o zagueiro e capitão do time André Castro se calar após falhar em um gol do São Paulo, lhe fez ganhar o selo de alguém explosivo e arbitrário. Curiosamente, Fernando Diniz é formado em Psicologia e por diversas vezes justificou seus excessos como forma de estimular a evolução dos atletas.
Em 2015, pelo Paraná Clube, Diniz também discutiu com Rafael Carioca no gramado e, após um atrito, rebaixou Jean, um dos principais jogadores do time à época, para a equipe sub-23. Para Gabrielle Bizinelli, torcedora do Tricolor, os problemas de relacionamento tiveram grande impacto em sua curta passagem pelo clube - apenas 17 partidas.
"O Diniz chegou ao Paraná já implementando seu estilo, com muita posse de bola, mas não funcionou com o passar do tempo. Ele era bastante enérgico nos treinamentos, o grupo já não jogava por ele e a situação ficou insustentável. Não era uma unanimidade e sua saída nem foi contestada pela torcida", diz.
Os últimos anos foram de grandes conquistas para o Athletico-PR, campeão da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana. Os títulos coincidiram com a saída de Fernando Diniz e a promoção de Tiago Nunes, que treinava a equipe sub-23, mas para Lucas Filus, torcedor do Furacão, a passagem de Diniz foi importante para moldar o time que se destaca no futebol brasileiro atual.
"O Tiago Nunes pegou este embrião do trabalho do Fernando Diniz e transformou em um time muito mais competitivo, que sabia dosar entre uma saída de bola mais corajosa e o momento de fazer um jogo mais direto, co menos riscos", explica.
Em 2018, Mário Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo do Athletico, garantiu, em entrevista ao blog do jornalista Julio Gomes, do Portal UOL, que Fernando Diniz só sairia do Furacão por vontade própria. "Pode perder, pode cair para a segunda divisão. É uma realidade. Pela primeira vez eu tenho dentro do projeto algo que me encaixa”. Seis meses depois, com o time na zona de rebaixamento do Brasileirão, demitiu o treinador.
"O torcedor tinha muita expectativa em relação ao Diniz, que já era considerado especial pelo estilo de jogo e pelas ideias, mas no fim os pontos negativos foram maiores, com o time muito espaço entre os setores, quando perdia a bola era um sofrimento uma bagunça", diz Filus, que também destaca a questão do relacionamento com o elenco.
"Surgiram vários rumores de rachas dentro do grupo por conta de algumas ideias extremas do treinador. Também havia o incômodo dos jogadores da base, que não tinha espaço ou eram aproveitados fora de posição. O Bruno Guimarães, que hoje brilha no Lyon, chegou a jogar de zagueiro", lembra.
A uma semana da estreia do Campeonato Brasileiro, o departamento de futebol do São Paulo não dá sinais de que pretende romper com Fernando Diniz. Mas a pressão por resultados continuará intacta. As eleições no fim do ano também farão a temperatura aumentar nos bastidores do clube. Gênio ou louco, Fernando Diniz tem pouco tempo para provar que as suas ideias correspondem aos fatos.
São Paulo FC, Tricolor, SPFC, Fernando Diniz
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