Eu não havia me manifestado sobre a polêmica Raí/Caio Ribeiro, umas semanas atrás. Vamos lembrar? Raí criticou o presidente Bolsonaro pela maneira "irresponsável" como está conduzindo o país na pandemia global de nos atinge em cheio e mata tanta gente. Caio criticou o dirigente são-paulino por dar margem para tumulto interno com suas declarações - diz ele que o problema não era o conteúdo.
Eu entendo o ponto de vista do Caio. Ele não estava negando o direito de Raí se expressar, apenas achava que não era o melhor para o clube. Se Caio for coerente, também irá criticar Alexandre Pato, que após o vergonhoso vídeo da reunião ministerial que tivemos de assistir levantou-se da zona de conforto para ir às redes sociais demonstrar apoio a Bolsonaro.
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Entendo, mas discordo do Caio. Acho que manifestações políticas públicas são bem vindas por parte dos atores que fazem parte da nossa sociedade. Assim como gosto de saber o posicionamento de Raí, gosto de saber o posicionamento do jogador Pato. Sebastião Lazaroni é outro que se manifestou, assim como, claro, Felipe Melo - que já o faz há tempos.
O perfil de jogadores brasileiros é bem conhecido. Muitos vêm de uma situação social precária e, como em todo país pobre e de baixos níveis de educação, a religião fala alto no Brasil, muito mais alto do que o desejado.
Bolsonaro e seu entorno sacaram isso faz tempo. Um mundo liberal nos costumes é um mundo que agride quem sofre lavagem cerebral moralista desde que saiu do berço. No Brasil, a estratégia eleitoral combinada com religião é fácil de ser identificada. Não à toa, temos um congresso cada vez mais ocupado por pastores, pseudo-pastores, pseudo-profetas e charlatães.
Na tal reunião ministerial que assistimos ontem, só a ministra Damares da goiabeira parecia preocupada com religião. Na conversa sobre legalização de cassinos, falou que seria um "pacto com o diabo" e foi calada. Mas, isso, talvez Pato e outros jogadores de futebol não tenham percebido. Até porque o que não falta no mundo são exemplares de "faça o que eu falo, não faça o que eu faço", e jogadores adoram uma jogatina.
O discurso deste governo do "Deus acima de todos" é apenas um discurso. Que soa bem aos ouvidos de muitos, incluindo Pato e colegas.
Enquanto a maioria de nossos compatriotas boleiros vão para fora do país sem qualquer intenção de conhecer a cultura local (male male aprendem o idioma), Raí foi um caso à parte. E hoje, já aposentado dos campos, é um cara capaz de ler jornais do mundo todo, se informar sobre o que está acontecendo e entender a boçalidade do que está sendo feito no Brasil na gestão do coronavírus.
Vamos na contramão de tudo, um país sem planejamento, que deixa os seus morrerem. Enquanto Raí, com razão, detecta a irresponsabilidade de um presidente que, um mês atrás, quando milhares já morriam, comandava uma reunião que simplesmente não tratou do único tema importante para ser tratado, Pato limita-se a declarar seu apoio incondicional e pedir união.
Que união você quer, Pato? Desculpe, mas não me unirei a você nem a ninguém neste suicídio coletivo que estão tentando promover no Brasil. Quer seguir mesmo o presidente? Pois tire a máscara, pegue tua família e vá para a rua viver a vida. É isso o que ele fala há meses que precisa ser feito. Aproveite e tome uma cloroquina e reze umas Ave Marias antes. Vai que...
Pato tem todo o direito de se expressar. E eu, como cidadão, tenho todo o direito de concordar com Raí e lamentar o alinhamento político de pessoas que validam a insanidade de um governo hipócrita, despreparado e que não é capaz nem mesmo de mostrar algum apreço por vidas perdidas. Pelo contrário, um governo que quer armar suas milícias para nos "proteger" de supostos ditadores fantasmas.
Jesus pregava paz e compaixão. Quem defende esse governo agressivo e totalitário, com a Bíblia embaixo dos braços, nem mesmo da palavra de Jesus entende. Esse é um país sem qualquer direção, rumo ao abismo. Vá lá aprender alguma coisinha com Raí, Alexandre. e deixe de ser Pato.
São Paulo, Alexandre Pato, Direito, Posicionar, Politicamente, Raí, SPFC
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