Quem diria que o São Paulo, grande algoz do Flamengo na temporada 2020, vencendo até com treinador interino, seria surrado no Brasileiro seguinte com um placar agregado de nove a um, que poderia tranquilamente ter superado, em apenas dois jogos, os 11 a 3 em quatro partidas do tricolor, nos pontos corridos e mata-mata?
Quem diria que o Flamengo, encarando um Morumbi com bom público, praticamente resolveria o jogo em oito minutos, com os gols de Gabigol e Bruno Henrique, mais a expulsão de Calleri por entrada dura e arriscada sobre David Luiz?
Por fim, quem poderia imaginar que Michael, com dois gols, assumiria a artilharia do Brasileiro, agora com 13? Segue a dúvida: o camisa 19 será titular ou a primeira opção de Renato Gaúcho para a final da Libertadores?
A goleada por 4 a 0 resgata a confiança de um Flamengo que agora desiste da luta pelo tri e entra com o mesmo espírito do Palmeiras: de preparação para o grande duelo em Montevidéu. Mais leve, focado em recuperar desempenho e menos preocupado com o resultado.
Mas o placar histórico precisa ser relativizado. Porque foi um cenário único, motivado principalmente pelo erro grotesco de Rogério Ceni na escalação do São Paulo. Como improvisar na lateral direita o zagueiro Diego Costa, que não começava uma partida desde agosto, voltando à linha de quatro na defesa depois de atuar com um trio de zagueiros, para encarar Michael?
O primeiro gol, antes do primeiro minuto, nasce de uma recuperação de bola no ataque depois de subir pressão. Por dentro, Andreas Pereira tocou para Bruno Henrique, que serviu Gabigol. Nada a ver com o lado esquerdo do ataque rubro-negro. Mas a mudança na retaguarda, que não deve ter sido muito treinada, já que o time paulista jogou na quarta em Fortaleza, pode ter afetado o emocional dos companheiros.
Difícil entender essas mudanças "autorais" de Ceni. Voltou resgatando ideias e propostas do melhor momento recente do São Paulo em nível nacional, que foi justamente o período com Fernando Diniz em que se impôs sobre o Flamengo, de Dome e de Ceni, e liderou o Brasileiro com folga. Mas a vaidade de deixar a própria marca é capaz de destruir tudo que é bom, se não tem a assinatura do "Mito".
Ceni deveria ter aproveitado a expulsão de Calleri para corrigir logo o equívoco na formação inicial, porém só tirou Diego Costa aos 24 minutos do segundo tempo, com tudo já perdido e Michael ainda deitando e rolando no setor.
Melhor para Renato Gaúcho, que contou também com a boa atuação de Everton Ribeiro, ajudando Willian Arão e Andreas defensivamente e sendo protagonista na organização das jogadas, ainda que errando muito pela própria tendência de sempre arriscar dribles e passes diferentes. Mas a dinâmica com e sem bola é fundamental para a equipe.
De Arrascaeta e Filipe Luís devem voltar contra o Corinthians e o time ideal para enfrentar o Palmeiras - com exceção de Isla, que não deve chegar a tempo e em boas condições da data FIFA - só não estará em campo se a nova lesão de Rodrigo Caio, agora na panturrilha, for mais grave que a mera consequência de uma pancada.
A partida no Maracanã será o primeiro teste real pensando no dia 27. Porque a goleada no Morumbi, embora memorável, teve uma enorme colaboração do treinador adversário. O ainda último campeão brasileiro, pelo próprio Flamengo. Agora no São Paulo, que vê o Z-4 se aproximar perigosamente.
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