
Adilson Batista atendeu a reportagem no LANCENET! na última sexta-feira (Foto: Ari Ferreira)
Adilson Batista chegou ao São Paulo com desconfiança por parte da torcida e até mesmo de algumas pessoas do clube. Com 14 partidas à frente do São Paulo, ainda está longe de ser unanimidade, mas ganhou o respeito de todos ao demonstrar postura correta e determinação. Ainda assim, pela maneira como fala, os métodos de trabalho e o estilo de vida (desde que chegou, mora no CT), é visto por alguns como um cara um pouco louco.
– Não (sou louco). Sou um cara normal. Quem me conhece aí, quem convive comigo, sabe. Vocês têm de tirar informação de quem convive comigo – disse o técnico.
– Tenho tempo para minha família. O pouco que tenho, também curto meus pais, irmãos, amigos, jogo minha bolinha, como meu churrasquinho, tomo meu vinho, vou à igreja, rezo, leio... Não perco tempo com baboseira, programa ruim, conversa fiada. Gosto de política, mas não vou falar. Tenho meu jeito de pensar, temos de melhorar muita coisa. Mas não vou nem entrar nesse mérito, deixa eu ganhar do Grêmio – completou
Confira a entrevista com Adilson Batista, técnico do São Paulo
Na última sexta-feira, antes de comandar o treino do São Paulo, que neste domingo vai a Porto Alegre enfrentar o Tricolor gaúcho, Adilson atendeu à reportagem do LANCE! no CT da Barra Funda, local onde, desde o último dia 19 de julho, tem passado a maior parte do tempo. Durante o papo, o comandante confessou que não gosta de ler o que falam sobre ele. Inclusive, que não leria esta entrevista. Trabalhador dedicado, o técnico falou, entre outras coisas, sobre seu futuro no clube, suas últimas experiências frustradas, as mudanças em certas atitudes e os métodos modernos de trabalho.
LANCENET!: Como está sua rotina no São Paulo?
ADILSON BATISTA: Está boa. É clube organizado, que lhe oferece as melhores condições. Estou morando aqui. Em função de jogos quarta, domingo, as viagens. É bom para chegar, se interar, então procurei olhar os jogos dos mais jovens, que eu não conhecia, que tinham feito anteriormente, com o Paulo (César Carpegiani) e o Milton (Cruz). Uso a academia, corro, me sinto em casa.
LANCENET!: Mora no trabalho ou trabalha em casa?
ADILSON BATISTA: Estou trabalhando em casa. Independentemente do local, se lhe dá a condição, é melhor. Você ter o alojamento, o refeitório... A sala, ali com o Romildo e o Rafael (auxiliares de vídeo), sempre pedindo as coisas para editar, então é bem melhor.
LANCENET!: Como é ficar longe da família? Já se acostumou?
ADILSON BATISTA: Desde o tempo em que iniciei no Mogi Mirim (2001), já fui sozinho. No Japão, tive uma experiência de um ano e quatro meses que fiquei no Jubilo, em que morei sozinho, mas a cada dois meses elas (esposa e duas filhas) iam lá. Aqui elas também vêm, no jogo do Rogério (milésimo) vieram, então dá para conciliar. A cada 15 dias estou em casa (Curitiba). Faz parte da profissão.
LANCENET!: Após últimos trabalhos ruins, esperava que logo teria uma nova chance em um clube grande?
ADILSON BATISTA: Acho que tudo na vida é um aprendizado e você cresce profissionalmente. Não vou entrar no mérito do porquê das situações, mas entendo e respeito. Evidentemente que gostaria de ter contribuído e vencido, mas eu sei o porquê. Temos uma parcela de culpa, mas ela não é grande. E fico feliz porque o meio (do futebol) me respeita. E isso é o mais importante. Os atletas, quando você joga contra, vêm, cumprimentam, sabem que você deu seu melhor. No Atlético-PR, pedi para sair. Daí, junta uma coisa com a outra e cria um fato negativo, falam que você só fica três meses, não consegue fazer um trabalho. Achei melhor pedir para sair e surgiu mais uma nova oportunidade. Não guardo mágoa, tenho respeito e vamos falar do São Paulo.
LANCENET!: No Santos, você não teve o Ganso, no Corinthians, o Ronaldo, e agora, o Luis Fabiano. Tem azar?
ADILSON BATISTA: Não é questão de azar, eu já sabia. Um estava se recuperando, o outro já vinha de lesão e quando cheguei ao São Paulo também sabia que teria um tempo para esperar.
LANCENET!: Como foi com o Ronaldo?
ADILSON BATISTA: Foi ótimo, só tentou me ajudar. Infelizmente, teve algumas lesões, mas só fez me ajudar. Não falei com ele sobre aposentadoria (na época).
LANCENET!: Como é seu dia a dia?
ADILSON BATISTA: Eu descanso bem. Durmo cedo, umas 23h. Quando tem jogo, um pouco mais tarde, mas só quando o jogo é bom. Senão, não vejo. Acordo umas 7 horas, tomo café e começo a trabalhar. Preciso vivenciar, tem o treino, programação, departamento médico, físico, olho os jogos, vejo o material. Pela manhã (de sexta-feira) terminei o terceiro jogo do Grêmio. A gente olha e manda editar. No Cruzeiro, estava até entrando no computador e editando.
LANCENET!: Desde quando usa vídeos?
ADILSON BATISTA: Sempre gostei. Primeiro porque os treinadores chamavam a gente na sala. O Carlos Alberto Silva, Ênio (Andrade), Felipe (Felipão). E você acaba achando interessante saber o que vai enfrentar, o que ajuda no posicionamento. Sou quarto zagueiro, preciso orientar meu zagueiro, meu central, meu lateral-esquerdo, mostrar como joga. Quando machuquei no Grêmio, iríamos jogar contra o Ajax (em 1995), e passei a assistir a jogos deles todo domingo. Assisti muito e passava tudo para o Felipão. No Japão, a mesma coisa. Lá e eles não tinham esse costume, da fita ser editada, eles deixavam lá três, quatro jogos.
LANCENET!: O que faz fora do futebol?
ADILSON BATISTA: Vejo tênis, documentário, entrevista em um canal pago, leio, rezo, vou à igreja, faço academia e, quando vou para Curitiba, jogo tênis.
LANCENET!: Gosta de jogar pôquer?
ADILSON BATISTA: Baralho eu não gosto. Até sei jogar, mas não me atrai. Não jogava pôquer, sei o que você está querendo falar sobre pôquer, se tem jogador que joga. Jogador tem de se concentrar. Tem o lado bom, ajuda, mas eu não jogo baralho.
LANCENET!: Qual seu estilo como técnico?
ADILSON BATISTA: Deixo para vocês. Já peguei inúmeros técnicos que ajudaram no meu crescimento. Às vezes você vai ser melhor taticamente, às vezes tem um treino melhor, dialoga, tem horas que é mais firme, paizão, melhor de vestiário, intervalo... Você não vai ficar bitolado em um sistema, mas sim no que tem em mãos.
LANCENET!: Costuma ler o que escrevem sobre você? E sobre o adversário?
ADILSON BATISTA: Procuro me policiar e vivenciar aqui. As coisas externas fico tranquilo e deixo um pouco de lado. Vou atrás do meu adversário, das notícias do Grêmio. Sobre mim, não. Estou deixando de lado. Para mim está fazendo bem. É uma mudança minha, que acho importante, não estou lendo. Preciso é concentrar, já passei dessa fase. Acho melhor.
LANCENET!: O que mudou de jogador para agora como técnico?
ADILSON BATISTA: A função é diferente, a responsabilidade é maior, o trabalho para quem leva a sério é mais intenso. Para o jogador, a preocupação é só com o jogo. Existe a preparação, mas como treinador é diferente.
LANCENET!: Você ganhou como atleta o Mundial (2001) pelo Corinthians, que o São Paulo chama de "torneio de verão". Como você considera?
ADILSON BATISTA:Todos os títulos foram importantes. Desde o torneio início, chutava a bola nas pernas dos zagueiros porque ganhava no escanteio. Começando com Levir Culpi, que me subiu dos juniores. E o término da carreira com o título que se refere. Todos têm valor. Deixei de ganhar alguns como atleta e como técnico.
LANCENET!: Mas foi Mundial?
ADILSON BATISTA: Era Mundial da Fifa. Não sei se o Real Madrid (ESP) estava de férias, tem de perguntar para eles. Joguei com seriedade, jogo assim e tem de respeitar a camisa.
LANCENET!: Para que serve esta prancheta (Adilson chegou para entrevista com uma e colocou na mesa)?
ADILSON BATISTA: Prancheta é do Joel (Santana). Tem scout, algumas coisinhas, mas deixa quieto. Tem sobre o Grêmio, sobre a gente, treino, mas também tenho ipad 2. Às vezes pode me avacalhar, né? (risos). Tem o irmão da minha esposa, um crânio nessa hora, e a gente mexe, vai para lá, para cá e vai aprendendo.
LANCENET!: Vislumbra jogar outra Copa Libertadores ano que vem?
ADILSON BATISTA: Poderá ser a quinta. Tenho como treinador 37 jogos em Libertadores. Uma oitava, uma quartas e uma final. E uma primeira fase, no primeiro jogo (risos). Estou pensando no Grêmio, que tenho carinho. Penso jogo a jogo.
LANCENET!: Algum atleta já soltou pum durante seu treino?
ADILSON BATISTA: Se soltou, não vi, não cheirei, não senti. Acontecem 500 coisas, mas não vou falar. Vocês tem de esperar o Muricy ser campeão do mundo para falar os 10% de novo.