PORTUGAL E ESPANHA, dois dos países mais endividados da União Europeia, falharam no seu objectivo de atrair para a Península Ibérica o Campeonato Mundial de futebol de 2018. Não posso dizer que tenha ficado triste. Na verdade, até fiquei muito contente.
Quando o meu país vive sob um programa económico de austeridade, que poucos acreditam que conseguirá evitar a intervenção do Fundo Monetário Internacional, a última coisa que me apetece é ver esbanjar mais dinheiro público com o futebol.
Infelizmente, Portugal tem o exemplo do Euro-2004, cujo investimento público inicial foi estimado em 200 milhões (fora o dinheiro que custaram os serviços de Luiz Felipe Scolari na seleção) e cuja fatura final para os contribuintes ficou mais próximo dos mil milhões de euros.
Construímos dez estádios-dez, e se é inegável que esses equipamentos oferecem magníficas condições para os clubes e os adeptos, não podemos esconder que foram obras megalómanas incapazes de se sustentar financeiramente.
Poderíamos até argumentar que, agora que o país já está dotado dessas infraestruturas, a Copa até seria uma oportunidade para a sua rentabilização.
Só que, com a (má) experiência do passado, alguém duvida que os nossos dirigentes esportivos e governantes arranjariam uma maneira de reivindicar mais uns tantos milhões?
Agradeço, por isso, a decisão da Fifa, que em boa hora -e em nome da expansão e rotatividade da competição- soube desviar a competição do território fértil da Europa Ocidental para outras paragens, nunca antes exploradas: Rússia em 2018 e Qatar em 2022. Isto é, países com economias em crescimento, com disponibilidades financeiras e com opiniões públicas bem menos renitentes ao "desperdício" dos recursos em eventos efémeros.
Se eu fiquei grata, os britânicos, pelo seu lado, ficaram enfurecidos. Estavam convencidos de que iriam ganhar o concurso e agora bradam contra aqueles que alegadamente os olharam nos olhos, garantindo-lhes o voto na sua candidatura. Mentiram com todos os dentes, constatam, indignados, humilhados.
A sua explicação é que foi uma retaliação da Fifa pelas denúncias de corrupção dos corpos dirigentes da organização do futebol, que a imprensa se recusou a abafar.
Não duvido que seja verdade. E voltei a respirar de alívio. Nenhuma Copa do Mundo sairia mais cara do que aquela que seria paga com a liberdade de imprensa.
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