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Fifa recorre à Justiça para calar denúncias

Entidade tenta impedir a divulgação de nomes dos membros acusados de receber propina nos anos 90 da empresa ISL

A Fifa decidiu adotar a censura para tentar evitar a publicação de informações sobre o escândalo do pagamento de propina pela empresa ISL a três de seus membros e, para isso, recorreu à Justiça suíça. A intenção é impedir a divulgação dos nomes das pessoas envolvidas, além de arquivar de forma permanente o caso, encerrado em junho por acordo com o Judiciário.

No escândalo da ISL, dois membros da Fifa pagaram US$ 5,5 milhões (cerca de R$ 9,4 milhões) em multas ao tribunal da cidade suíça de Zug e, assim, o caso foi dado por encerrado. Mesmo assim, pelas leis do país, os nomes das duas pessoas que fizeram os pagamentos deveriam ser publicados. No entanto, a entidade abriu processo para garantir que a divulgação não ocorra, alegando que o impacto desse anúncio seria "devastador" para a sua reputação.

Na segunda-feira, a emissora inglesa BBC revelou como três integrantes da Fifa, entre eles Ricardo Teixeira, receberam um total de US$ 100 milhões (R$ 171 milhões) em propinas pagas pela ISL, empresa de marketing que quebrou. Segundo a investigação, os valores dados ao presidente da CBF, no total de US$ 9,5 milhões (R$ 16,2 milhões), foram feitos em uma conta secreta no paraíso fiscal de Liechtenstein em nome da empresa Sanud entre agosto de 1992 e 28 de novembro de 1997. As remessas teriam sido feitas com valores de US$ 250 mil (R$ 427 milhões) cada, em 21 parcelas.

A BBC descobriu que a Sanud é a mesma empresa que a CPI do Futebol, no Brasil, já havia indicado como tendo a participação de Teixeira. Em um documento obtido pela emissora, 175 pagamentos de propina são descritos pela ISL aos membros da Fifa. O programa questiona também um pagamento da ISL para "Garentie JH" no valor de US$ 1 milhão e especula se tal quantia não seria para João Havelange, já que JH são suas iniciais.

Oficialmente, a Fifa apenas alega que a investigação desse caso já foi encerrada e que, no processo, nenhum membro da entidade foi considerado culpado.

O que a Fifa não revela e que a Justiça confirma é que, em plena Copa do Mundo da África do Sul, a entidade fechou o tal acordo com o tribunal em que pagou os US$ 5,5 milhões de multa em troca do arquivamento do processo e do fim das acusações. O problema é que esse pagamento não foi feito pela Fifa, mas sim por dois indivíduos envolvidos no caso - que deveriam ter o nome revelado pelas leis suíças.

Para evitar que isso ocorra, a Fifa recorreu à Justiça. Entre os argumentos apresentados, alega que a divulgação dos nomes traria impacto negativo para a credibilidade da entidade no mundo e para as duas pessoas que fizeram os pagamentos. A Fifa afirma, também, que a imprensa exageraria na difusão da notícia, com implicações para a reputação dos membros em questão, e lembram que o pagamento de propinas nos anos 90 era "uma prática comum e aceita" pela lei. De fato, a lei naquela época não impedia o pagamento de propinas. Mas sim seu recebimento.

No Brasil, o problema está ligado a lavagem de dinheiro. Ricardo Teixeira foi denunciado pelo Ministério Público Federal do Rio em 2008 e o processo continua aberto.

Expulsão. Pressionada diante de suspeitas de corrupção, a Fifa decidiu se isolar da imprensa às vésperas da escolha, hoje, das sedes das Copas de 2018 e 2022. O evento, que tradicionalmente é acompanhado por jornalistas, foi fechado ontem, no primeiro dia de apresentações. A imprensa apenas acompanhou por um telão em uma sala que fica a 6 quilômetros do local em que as reuniões ocorriam. "Um dia vocês desaparecerão", afirmou Julio Grondona, vice-presidente da Fifa, a um jornalista alemão, ao ser questionado sobre a corrupção.

Procurado por repórteres de vários países, Teixeira também se recusou a falar. No hotel em que se hospedam os 22 integrantes da Fifa, jornalistas que normalmente são aceitos no saguão e podem conversar com os cartolas foram expulsos do local e postos na rua, onde fazia temperatura de 3 graus negativos. Segundo a gerência, foi um pedido dos 22 hóspedes. "Eles precisam de privacidade", justificou um funcionário do hotel.
No hotel em que estava o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o príncipe Williams, a circulação era autorizada, ainda que o local estivesse repleto de policiais e agentes secretos. A mesma situação de tranquilidade se vivia onde estava hospedado o rei da Espanha, Juan Carlos, apesar de todos os alertas de terrorismo que existem na Europa.

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