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Cartolas deixam de lado o politicamente correto e superam jogadores em polêmicas

Com boleiros orientados por assessores à cartilha do discurso sem graça, discussões extracampo transformam dirigentes em torcedores. Chilique de Zezé Perrella, do Cruzeiro, segue rotina dos últimos anos


Dirigentes protagonistas de confusões em retas finais de competições importações viraram regra nos últimos anos no futebol brasileiro, superando provocações entre boleiros. Saíram de cena os Mários Sérgios, Vampetas, Edílsons, Paulos Nunes, Renatos Gaúchos e Edmundos, substituídos por atletas com o discurso “ bola, campo e três pontos” que são instruídos por assessores cada vez mais bem pagos para evitar polêmicas. Só falta esses mesmos assessores controlarem aqueles que pagam seus salários. Zezé Perrella, presidente do Cruzeiro, detonou no final de semana passado o árbitro Sandro Meira Ricci e o chefe da arbitragem brasileira, Sérgio Corrêa, depois de seu time perder para o Corinthians por 1 a 0. “Safado” foi o termo mais leve.

Se não voltar atrás publicamente, o que parece improvável, ele deve ser punido pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), como foi em 2009 o presidente palmeirense Luiz Gonzaga Belluzzo, que usou palavras semelhantes para criticar arbitragem de Carlos Eugênio Simon no tropeço de seu time, então líder do Brasileiro, contra o Fluminense – a ANAF (Associação Nacional dos Árbitros Profissionais) anunciou nesta terça-feira que também pretende processar Perrella na Justiça comum.


“Eu tenho certeza que o Andrés não comprou o juiz, mas alguém, com certeza fez isso por ele. Todo mundo viu. Você trabalha o ano inteiro, com uma dificuldade danada. O vencedor desse jogo é o campeão brasileiro, com todo respeito ao Fluminense. Hoje nós fomos eliminados por um incompetente, por um safado”, disse Perrella, que chefia a delegação brasileira que está no Catar para enfrentar nesta quarta a argentina – e não tem aparecido nos treinos para evitar mais polêmica.
Acusar “alguém” de ter comprado o árbitro, mas poupar o presidente corintiano parece absurdo, mas não é. Perrella e Sanchez estão atualmente do mesmo lado político, aquele do time do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira. Ambos votaram em Kléber Leite, candidato de Teixeira na eleição do Clube dos 13 (entidade que reúne os principais clubes do país e que, por exemplo, negocia contratos de televisão). Leite perdeu para Fábio Koff, o que dividiu os grandes clubes brasileiros em dois grupos – os pró e os contra Leite e Teixeira.

DVDs e punições
A diretoria do Cruzeiro promete, apesar de toda a amizade entre os presidentes, montar um DVD com imagens de erros de arbitragem contra seu time e colocará no vídeo os jogos contra o Corinthians no primeiro e segundo turnos. Não será a primeira vez que dirigentes batem boca e montam dossiês.

Em 2009, antes da finalíssima da Copa do Brasil em Porto Alegre, vencida pelo Corinthians, o colorado Fernando Carvalho (este desafeto de Sanchez) fez um DVD mostrando supostos favorecimentos de arbitragem a favor do Corinthians. O protagonista era o pênalti não marcado por Márcio Rezende de Freitas em Tinga, no Brasileiro de 2005 – ano do escândalo de manipulação de resultados na arbitragem, que teve jogos remarcados e o Corinthians campeão com o Internacional em segundo. O caso gerou provocações engraçadas.

“Corinthians é uma verdadeira vaca sagrada nacional, que não pode ter nada contra”, disse Carvalho. Sanchez, claro, respondeu: “O vice-presidente de futebol que falou isto (sobre o favorecimento da arbitragem ao Corinthians) deve estar pensando no futebol de 10 ou 12 anos atrás”. Carvalho na época era o vice de futebol colorado.

O bate-boca entre corintiano e colorado não rendeu punições, como a que provavelmente suspenderá Zezé Perrella por alguns meses. A procuradoria do STJD deve denunciá-lo por ofensa moral e ato hostil, o que pode render até um ano de suspensão (quando ele não poderia assinar documentações relacionadas ao futebol cruzeirense).

Foi o que aconteceu em 2009 com o presidente palmeirense Luiz Gonzaga Belluzzo. Depois de dar entrevista ao jornal “Lance” dizendo que gostaria de dar uns tapas em Carlos Eugênio Simon por causa do gol anulado contra o Fluminense, Belluzzo foi condenado a nove meses de suspensão, depois diminuído para pouco menos de quatro meses e dez dias.

Encrencas regionais
A rivalidade entre times também acirra os ânimos. Dirigentes do São Paulo e do Corinthians não se bicam desde fevereiro de 2009, quando os são-paulinos limitaram em seis mil os ingressos para os corintianos em um clássico no Morumbi. Andrés Sanchez, alegando que a praxe nos duelos entre ambos era a divisão do estádio, prometeu que nunca mais mandaria jogos no Cícero Pompeu de Toledo. E cumpriu.

Desde então, os rivais se agridem verbalmente via imprensa. A última foi de Juvenal Juvêncio, presidente são-paulino que criticou o distrito de Itaquera, local onde o Corinthians construirá seu estádio e que será o palco de abertura da Copa do Mundo no lugar do Morumbi. “Se o Blatter (Joseph, presidente da Fifa) se lesionar, como ele será socorrido? Não é diferente em outros locais. Para chegar em Itaquera, é preciso de um carro do Corpo de Bombeiros”, disse Juvêncio. O Corinthians o acusou de preconceituoso.

No Rio Grande do Sul, as conquistas continentais dos rivais Grêmio e Internacional renderam provocações. Em 2008, quando o Inter venceu a Copa Sul-Americana, os gremistas saudaram o rival como campeão da “Série B” da América do Sul. Na época, o Grêmio era bicampeão da Libertadores (83 e 95), contra um título do Inter (2006). Tudo mudou em 2010, com o bi colorado, o que rendeu um novo tipo de provocação, o institucional.

Primeiro o Inter colocou a venda camisa em que se auto intitulava o “maior do Rio Grande do Sul”, já que agora os gremistas não poderiam mais provocar que tinham um título da América a mais. Pois no dia seguinte a diretoria de marketing do Grêmio lançou anúncio nos principais jornais gaúchos: “o primeiro clube gaúcho a conquistar o bi da América parabeniza o segundo”.

“Não me arrependo do que disse, a não ser da parte de que daria uns tapas nele. Isso as pessoas têm razão (de criticar) porque num país como o Brasil pode gerar problemas. Acho que fiz mal”. A frase de Belluzzo, seguida por um “futebol mexe com as pessoas”, mostra que dirigentes torcedores continuam em alta apesar do apregoado profissionalismo do futebol. Neste ponto, atletas que mudam de time a cada semestre não estão nem aí para entrar em polêmicas. Afinal podem estar do outro lado no campeonato seguinte.

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