Bonito ver atletas da bola exibirem atitude, como no tempo em que jogador falava e tinha barba

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, muito interessante e raríssima -não só no futebol mas na vida-, a atitude dos atletas do São Paulo em defender o técnico Ricardo Gomes, cuja cabeça está a prêmio.

E isso bem antes de saberem, pelo blog do Birner, que um espectro chamado Dunga rondava o Morumbi e a vizinhança. Não, os tricolores não merecem. Seria muito castigo, mesmo considerando que a soberba costuma vestir as cores do clube e sair por aí na estica.

Em um meio em que ninguém fala, ninguém tem opinião formada neste esporte desde a Democracia Corintiana, ainda nos anos 1980, é comovente ouvir boleiros na defesa do comandante-em-chefe. A culpa é nossa, declarou com sinceridade o zagueiro Miranda. O Ricardo somos nós, deixou explícito o goleiro Rogério Ceni.

Além de contemplar a ética da vida em grupo, as declarações dos atletas tricolores também servem para mostrar que os técnicos, nas vitórias ou nas derrotas, são superavaliados, tese sempre lembrada pelo colega Tostão aqui nesta Folha.

Bonita a atitude dos são-paulinos, mas ninguém está livre da burrice que assola a cartolagem. O time pode mudar de técnico em cima da decisão das semifinais da Libertadores, essa obsessão em vermelho, branco e preto. Se é que algum dirigente já não foi ao Twitter a essa altura e o demitiu.

Consideremos que os cartolas foram sensatos e o civilizadíssimo professor Gomes continua no cargo. Terá valido a voz do grupo e o treinador ficará devendo essa à brava e destemida equipe. Isso pode ser muito bom para os desafios do São Paulo Futebol Clube daqui por diante.

Uma atitude do tempo em que os jogadores de futebol falavam e muitos tinham barba e bigode como rebeldia e desobediência. Porque hoje ninguém se pronuncia, todo mundo é obediente e cordato. Tudo bem, amigo, você não precisa ser assim um Afonsinho, um Paulo Cesar Caju, um doutor Sócrates, mas que fale, desembuche, seja homem.

A reação do elenco tricolor foi desse porte.