A decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) de castigar o Sport pelo atentado ao ônibus do Fortaleza, no último dia 22, tem sido mais discutida por sua natureza do que pelo que representa de fato. A entrada do tribunal no território da punição esportiva parece ser um tema digno de posições apaixonadas, a julgar pelas manifestações efervescentes de quem deve imaginar que vive numa sociedade virtuosa a ponto de permitir que se escolha como tratar um caso, mais um, como este.
Até esta sexta-feira (15), quando as autoridades pernambucanas anunciaram as primeiras prisões de envolvidos no ataque, o clamor contra a pena de oito jogos com portões fechados imposta ao Sport não dizia respeito à condenação em si, mas ao fato de os autores do crime estarem à solta, e, de acordo com uma comunicação oficial do presidente do clube cearense, “rindo do STJD”.
Para reforçar o argumento, houve quem se enxergasse apto a dizer que “punição esportiva não serve para nada”, eliminando, assim, qualquer campo válido para debate. Ora, se fôssemos capazes de identificar, julgar, prender e manter preso quem comete atos de violência relacionados ao futebol, é escandalosamente óbvio que não teríamos chegado à selvageria de uma tentativa de assassinato como se viu em Recife.
A escalada de episódios assustadores em diferentes pontos do país, com níveis crescentes de periculosidade e objetivos alcançados, é longa e generosa em detalhes para evidenciar que não somos, de modo que o alarido para punir os culpados - algo de que ninguém em sã consciência pode discordar - não deve ser uma bandeira que exclui outras penalizações da conversa. Nossos defeitos não nos autorizam a este luxo.
A questão é que a pena aplicada ao Sport, a partir do momento em que o STJD entendeu a necessidade de ultrapassar a linha e penalizar o clube esportivamente, é irrelevante em seu objetivo. Com algum exagero, é quase um pedido oficial do tribunal para que um crime com esses contornos aconteça de novo. Não porque os bandidos estão rindo, mas porque a decisão não altera absolutamente nada na agenda do futebol no Brasil, e, portanto, nem começa a cumprir o que seria seu papel.
Se a justiça desportiva preferisse a ação ao holofote, punições a clubes por ocorrências como a emboscada ao ônibus do Fortaleza seriam drásticas, educativas e, ao longo do tempo, raras. Essas medidas existem para que tragédias sejam evitadas em contextos nos quais a violência está fora de controle, quadro que se observa no país há tempo suficiente para que se deixe de clamar, apenas, para que as autoridades façam sua obrigação. O futebol é um retrato da sociedade nos problemas que o atingem e naqueles que ele mesmo cria, não reconhece e se exime de solucionar. O último exemplo se deu em São Paulo, onde a suspensão de jogadores foi trocada por um vídeo que banaliza um pedido de desculpas e multas que renderão dinheiro à federação, que abriga o tribunal em que a piada se tornou sentença.
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