Nos últimos dias, um assunto político passou a ser debatido entre o Conselho Deliberativo do São Paulo. A proposta relacionada à reeleição de Julio Casares, que foi aprovada pelos conselheiros na última terça-feira (6). Agora, o próximo passo será a votação feita pelos sócios-torcedores do clube, que acontecerá no dia 24 de setembro, às 17h. Em conversa ao LANCE!, Mario Braga, um dos conselheiros que votou 'Sim', explicou sobre as motivações da sua resposta e rebateu críticas realizadas pelos torcedores quanto ao processo.
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Esta proposta debate a mudança no estatuto a fim de permitir a reeleição de Julio Casares e de Olten Ayres de Abreu Júnior - presidente do Conselho. O assunto é visto com polêmica. Isso porque a nova tentativa de alteração do estatuto tricolor acontece oito meses após o grupo situacionista que sustenta a gestão Casares tentar passar a volta da reeleição aos mandatários do clube em votação.
O entendimento dentro do órgão é que a gestão de Julio Casares está sendo positiva para 'reconstrução' que o São Paulo enfrenta - principalmente no quesito financeiro, uma vez que atravessa uma dívida estimada em mais de R$ 700 milhões. O mandato do presidente do clube terminaria no final do próximo ano.
Feita de forma virtual, contou com 157 conselheiros a favor e 68 contra. Também houveram duas abstenções. A proposta precisa ainda passar por uma votação em Assembleia Geral do Clube. Conforme adiantado pelo LANCE!, seria o primeiro passo para a medida retornar ao estatuto do Tricolor paulista. Sua saída foi promovida por Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, em 2017.
O conselheiro Mario Braga relatou que, sob seu ponto de vista, a alteração do estatuto sob a gestão de Leco foi feita de forma equivocada. Conforme suas palavras, isso 'impede o clube de dar andamento a uma boa gestão que está sendo benéfica'.
- Eu não participei da alteração do estatuto que definiu a não possibilidade de reeleição. Na minha opinião, essa decisão não foi benéfica para o clube, justamente por não dar a oportunidade para que uma gestão bem feita possa continuar beneficiando o clube. Dessa forma, eu acredito que existe a necessidade de sanarmos essa decisão equivocada do passado - justificou.
Ao L!, também explicou o porquê de ter estado entre os 157 conselheiros a favor. Para Mario Braga, com a conquista do Campeonato Paulista de 2021 - após mais de oito anos em jejum de títulos - e a necessidade de 'recompor' a credibilidade do clube, o voto em favor a reformulação do estatuto foi visto como uma forma de 'evitar riscos'.
- São Paulo vem de uma situação extremamente delicada tecnicamente e financeiramente. Agora, começamos a retomar o rumo. Tecnicamente, voltamos a conquistar um título e a chegar nas fases decisivas dos campeonatos. Financeiramente, conseguimos honrar dívidas altíssimas e importantes, além de prorrogamos alguns prazos para conseguirmos um fôlego. Com isso, voltamos a conquistar uma credibilidade no mercado que estava muito abalada. Portanto, não podemos interromper esse processo na metade. Não estamos numa situação para correr tal risco.
Assim, o meu voto pelo "sim" foi no sentido de evitarmos um risco que não precisamos, ou melhor, não devemos correr - alegou.
Mesmo que a grande parte do Conselho seja a favor da decisão, os torcedores mostraram uma opinião oposta. Durante a votação, na última segunda-feira (5), o LANCE! apurou que cerca de 40 torcedores protestaram contra a medida, em frente aos portões do estádio do Morumbi. Agora, como próxima etapa, os sócios-torcedores irão votar se o assunto seguirá para frente ou não.
Ainda em conversa ao L!, Mario Braga opinou sobre a reação negativa da torcida. Para ele, quem vai contra 'não tem noção da dimensão dos problemas que o clube atravessa'.
- Primeiramente, eu gostaria de destacar que respeito a opinião de todos, afinal, vivemos em uma democracia. Entretanto, a maioria não tem conhecimento da real situação do clube. É muito difícil ter dívidas altíssimas para honrar e, ao mesmo tempo, montar um time forte. Há que se ter um equilíbrio, ou seja, contratar jogadores para formar uma equipe competitiva, mas continuar cumprindo os compromissos financeiros. Olhando para trás, conquistamos um Campeonato Paulista, chegamos novamente à final do Campeonato Paulista, chegamos na semifinal da Copa do Brasil e na final da Copa Sul-Americana, com possibilidade de título. Tudo isso, em 18 meses. Há quanto tempo não tínhamos resultados tão relevantes?! Claro que estamos longe do ideal, mas estamos caminhando e o torcedor tem percebido isso, tanto que está apoiando e vindo ao estádio - disse.
Nas redes sociais, alguns torcedores chegaram até mesmo a acusar a proposta como se fosse um 'golpe', justificando que a ação não seria positiva para o clube, uma vez que prevê uma mudança no estatuto em busca de uma possibilidade de reeleição com Casares ainda no comando.
Para Mario Braga, o processo está sendo feito de maneira democrática. O conselheiro também trouxe à tona que os sócios do clube também participarão do processo.
- Repito, respeito a opinião de cada um e aproveito para esclarecer que o primeiro pleito tinha um "pacote" de alterações no estatuto. Eram 24 itens dos quais 14 foram aprovados pelo Conselho Deliberativo e levados para a votação dos sócios. E o sócio só podia votar "sim" ou "não", ou seja, ou aprovava todos os 14 itens em conjunto ou não aprovava nenhum. Agora é apenas um item: a possibilidade ou não de reeleição. Se lá atrás os itens tivessem sido votados separadamente, talvez (e muito provavelmente) a possibilidade de reeleição tivesse sido aprovada e nós não estaríamos aqui falando sobre isso.
- Quanto a palavra "golpe", me causa bastante tristeza quando a ouço. Em primeiro lugar, porque o processo está sendo conduzido de maneira democrática, em todas as instâncias. Em segundo lugar, porque a decisão final caberá aos sócios. E, em terceiro lugar, porque essa palavra só ajuda a manchar a imagem do clube, o que é lamentável sob todos os aspectos - opinou.
O L! questionou sobre o porquê desta proposta ser votada agora e não no mandato do próximo presidente. O conselheiro revisitou o fato do Conselho acreditar que três anos seriam pouco para que Casares conseguisse agir na reconstrução o clube, demandando mais tempo para o processo.
- Porque é a chance dos sócios avaliarem essa gestão atual. Repito, é um pleito democrático. Os sócios dirão se a gestão é boa ou ruim. Além disso, é arriscado para o clube a interrupção de um planejamento em tão pouco tempo. E não podemos correr esse risco. O processo de reconstrução do SPFC é visível e necessita de mais tempo para ser ainda mais eficiente - destacou.
- A recuperação e a consequente estabilidade financeira oferece segurança na relação com credores e instituições. Mas para que isso aconteça é preciso tempo. Em apenas três anos fica muito difícil - completou.
O que também chamou atenção foi a proposta começar a ser debatida e votada em um período de decisões para o São Paulo. Além da tentativa de recuperação na tabela do Campeonato Brasileiro, o clube atravessa um período de calendário apertado, decisões em competições importantes e muita pressão por parte da torcida. Para Mario, tais decisões precisam ser pensadas independente do desempenho da equipe.
- Existem decisões que precisam ser tomadas independentemente de desempenho em campeonatos. É algo essencial para o futuro do São Paulo e que precisa ser tratado com urgência. Além disso, há uma série de processos de datas e ritos que precisam ser seguidos de acordo com o estabelecido pelo estatuto. E seria complicado fazer essa votação em período de Copa do Mundo ou Eleição Presidencial - concluiu.
Apesar da votação iniciada na segunda-feira (6) ter sido virtual, com duração até às 17 horas de terça-feira (7) - como é o padrão após o início da pandemia do coronavírus - a Assembleia Geral votará de forma presencial, nos ginásios I, II e III do clube, no Morumbi. Esta será restrita apenas a sócios que tenham pelo menos dois anos de contribuição ininterrupta.
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