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Gerente de futebol elogia Diniz e fala sobre bastidores de vídeo feito pelo São Paulo após gritos de 'burro'

Pássaro e Diniz conversam durante treino no CT da Barra Funda - FOTO: Divulgação

Alexandre Pássaro, gerente-executivo de futebol do São Paulo, telefonou para Fernando Diniz há alguns dias e deu-lhe os parabéns pelos dois meses completos sem perder uma partida. Uma brincadeira que evidencia o clima leve que havia tomado conta do clube antes da pausa forçada dos campeonatos devido à pandemia da COVID-19. Depois de um período turbulento provocado pelas derrotas para Binacional, na altitude de Juliaca, e Botafogo-SP, com reservas, o time teve atuações imponentes nas vitórias sobre LDU e Santos e fez com que muitos torcedores trocassem a desconfiança pela exaltação ao treinador, cujos métodos passaram a ser definidos mais comumente como "dinizismo".



Intramuros, a sensação de que Diniz colocou o São Paulo em um bom caminho vem de antes. O clube escancarou isso em 17 de fevereiro deste ano, dois dias depois de completar três jogos sem um triunfo ao empatar sem gols com o Corinthians, em um sábado que terminou com gritos de "burro" ecoando no Morumbi. Em resposta, o Tricolor publicou um vídeo com as inúmeras chances criadas pela equipe no Majestoso, todas com jogadas muito bem construídas, e uma mensagem de apoio ao trabalho. Pássaro conta que, na cabeça dele, alguma coisa precisava ser feita pelo treinador naquele momento de pressão.



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- No dia seguinte eu sempre dou uma olhada no jogo completo, pego o iScout, que é a plataforma que a gente tem, e olho de novo, porque no calor do momento você acaba não enxergando o jogo do jeito tático da coisa. Eu percebi que a gente teve muitas chances claras e que a grande maioria era com muita coisa que o Diniz tinha treinado, ou seja, saindo com o goleiro e tomando uma pressão lá na frente, mas conseguindo chegar no gol adversário. Eu falei: "A gente precisa fazer alguma coisa, porque nem todo mundo viu". Se a gente mesmo não teve essa clareza no jogo, porque naquele momento você está nervoso, as outras pessoas também não viram - lembrou o dirigente, em entrevista ao LANCE!.



- Na segunda-feira eu cheguei no clube, o Raí já estava lá, eu entrei na sala dele e falei: "Raí, preciso falar um negócio com você". Ele falou: "Eu também preciso falar com você". Respondi: "Então fala primeiro". E ele falou: "Olha, eu acho que a gente precisa fazer alguma coisa pelo Diniz, porque a gente só não está respondendo sobre as críticas a ele porque teve o pênalti (em cima de Igor Gomes, no minuto final, sonegado pela arbitragem)". Eu falei: "Bom, então casou, deixa eu te mostrar os lances". Eu já tinha separado, abri o computador e mostrei para ele. Eu e ele pensamos praticamente a mesma coisa. Chamamos nosso pessoal de comunicação, fomos na análise de desempenho para pegar os lances e em seguida eu e o Raí fomos para o Morumbi. A gente estava com o Leco e chegou o vídeo, exatamente aquele que a gente postou, mostramos também para o Leco e ele falou: "É exatamente o que eu penso, exatamente o que eu quero". Acho que aquilo foi uma forma não de dar força ao Diniz, mas uma forma diferente de se comunicar. Nem todo mundo conseguiria ver, nem todo mundo tinha acesso, o jogo só passou no pay-per-view, às vezes as pessoas só veem o resultado. Acho que foi um acerto nosso, o Diniz se sentiu muito respaldado e lisonjeado.

A torcida se dividiu. Parte dela, já satisfeita com o futebol que o São Paulo vinha apresentando, gostou da posição do clube. Outra parte, indignada com a exaltação a qualquer outra coisa que não seja o resultado positivo, criticou e ironizou a ideia. A mesma gestão que demitiu de forma traumática o ídolo Rogério Ceni do cargo de treinador agora fazia uma explícita defesa a um profissional sem nenhum lastro histórico no clube. Pássaro diz que o risco foi calculado.

- A gente pensou: "Olha, pode ter uma repercussão negativa, mas não importa. É nisso que a gente acredita aqui dentro? É. Então nós vamos transmitir para o mundo lá fora que estamos seguros, que é com essa ideia que os jogadores estão fechados. É isso que a gente quer que as pessoas entendam, concordando ou não".

Essa também é uma gestão marcada pela rotatividade de treinadores. Diniz foi o quarto a comandar o São Paulo depois da controversa demissão de Diego Aguirre a cinco rodadas do fim do Brasileirão de 2018. André Jardine, Vagner Mancini (interino) e Cuca passaram pelo Morumbi entre a saída do uruguaio e a chegada dele, que manteve a equipe no mesmo sexto lugar em que a encontrou (o que valeu uma vaga direta na fase de grupos da Libertadores, mas graças ao desempenho de outros clubes) e foi mantido pela diretoria para 2020 apesar da pressão.

- Tudo o que a gente via e continua vendo do Fernando Diniz indica um futuro promissor, embora os resultados do ano passado não tenham sido satisfatórios. Ele veio depois de um pedido de demissão do Cuca, a gente precisa lembrar disso, não foi a gente que trocou o Cuca. Assumiu jogando quarta e domingo, tivemos grandes derrotas e também grandes vitórias, e conseguimos o objetivo de ir para a Libertadores. Neste ano, embora possa ter havido uma ou outra oscilação, vendo o relacionamento dele conosco, com os atletas, vendo o jeito que ele trabalha, vendo como pensa no clube e sabendo que está muito alinhado com tudo e com todo mundo, não teria outra decisão que não fosse mantê-lo - disse Pássaro, antes de salientar que Diniz vai muito além das quatro linhas.

- O Diniz é um cara diferente mesmo, costumo dizer que é uma honra, uma sorte, uma bênção poder conviver com ele todo dia. Esquecendo a parte tática, técnica, o futebol, falando como ser humano mesmo. É um cara que te inspira demais. E acho que houve um casamento com o nosso perfil, o meu, o do Raí, o do presidente, o do clube. O grande diferencial do Fernando Diniz é trabalhar por igual com todos os atletas e com todos os funcionários. Ele não tem os preferidos, ele não dá dez horas de atenção para um jogador na semana e uma hora para outro. Ele está sempre equilibrado, com os que jogam e os que não jogam. Acho que o jogador, principalmente depois de alguns meses, sente a melhora da parte pessoal, da parte tática, da parte técnica. Jogador se empolga com isso. Jogador gosta de jogar futebol, ele começou a jogar não por necessidade, mas pelo prazer, pela coisa lúdica que é jogar futebol, e o Diniz traz muito disso. Ele resgata em todos os jogadores, na gente que está assistindo, nos funcionários, o prazer desse ambiente bom e dessa coisa gostosa que é estar no futebol. O próximo passo dele, e é pelo que ele luta sempre, é que isso se reverta em resultado. Nada adianta a gente se divertir jogando, a gente gostar dos treinos, a gente gostar dos jogos e não ter resultado. Como a gente compete em nível alto, os resultados precisam ser bons. Se a gente estivesse no futebol amador não seriam tão importantes, mas aqui a gente não pode esquecer deles - elogiou Pássaro.

O gerente cita a preleção de Diniz antes de sua estreia, o empate sem gols diante de um Flamengo amedrontador no Maracanã lotado, como um exemplo da habilidade dele para se comunicar com os jogadores. O que também surpreendeu foi a ordem dada logo nos primeiros dias de treinamento: se estiver apertado chuta para a frente.



- Na preleção, ele conhecia tão bem os jogadores e as características de cada um que parecia que ele já era nosso treinador há mais tempo. Conseguiu tocar nos jogadores de forma tão direta, tão incisiva, olhando tanto no olho deles, que foi uma coisa que me chamou a atenção. Logo depois ele teve uma semana de trabalho para enfrentar o Fortaleza e treinou muito a saída de jogo. Tanto durante os treinos quanto na preleção, que a gente acompanha sempre, ele tinha uma ordem muito clara que parecia que seria a última ordem a vir dele: se estiver apertado chuta para a frente. Para quem não tem a oportunidade de conhecê-lo nesse íntimo, é uma coisa que não parece que ele possa falar. E ele continua falando isso até hoje: nós vamos jogar quando tiver espaço para jogar, quando não tiver espaço nós vamos jogar a bola para a frente, para a lateral, para a arquibancada, para onde for. Isso é uma coisa que já nos primeiros dias desmistificou tudo aquilo que a gente sempre ouviu falar. E outra coisa que ele falou e me chamou muito a atenção, e é verdade, é que o risco que se corre saindo jogando lá atrás é menor do que o número de vezes que você consegue chegar no ataque saindo jogando desde o goleiro. Tem um jogo lá no Morumbi com o Audax em que o goleiro já sai jogando errado duas vezes e saem os gols, parece uma catástrofe, e aquilo fica marcado. Mas as vezes que o time sai jogando lá de trás e chega no gol adversário com facilidade pouca gente vê. Na hora que você coloca na balança, o risco é muito menor do que o eventual benefício - completou.

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