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Homem que manda há 25 anos em rival do São Paulo explica escolha por Londrina e lamenta saída de Eurico: 'Faltam pessoas como ele'

Adversário do São Paulo na estreia da Copa do Brasil na noite desta quarta-feira, o Madureira Esporte Clube é presidido por Elias Duba, 68, há 25 anos, marca bastante incomum atualmente no futebol brasileiro.



Descendente de libaneses e ex-comerciante do Mercadão, o mais famoso centro comercial do bairro da zona norte do Rio de Janeiro, Dubas prevê ficar mais dois anos no comando do clube, período em que concluirá o mandato para o qual foi reeleito em 2017.

Decidido a sair, aponta alguns desgastes. O principal é a falta de perspectiva para que possa fazer seu clube crescer. Avalia que o comando do futebol piorou nos últimos anos, com a CBF tendo uma visão voltada apenas para os que jogam a primeira e a segunda divisão Nacional, inibindo os pequenos.

O presidente do Madureira disse que, há alguns anos, durante um encontro com Marco Polo Del Nero, então presidente da CBF (hoje está afastado), discutiu melhorias para os participantes da Série C, torneio que disputaria. Ouviu que a entidade nacional já fazia mais do poderia.

“A gestão da CBF é uma covardia, porra”, afirmou Duba para o ESPN.com.br.

Mesmo assim não vê em Del Nero um desafeto, diz até que fez mais amigos do que inimigos em quase três décadas no poder, mas lamenta que o futebol esteja perdendo figuras como Eurico Miranda, que deixou de ser presidente do Vasco neste ano.

“Ele foi talvez o maior amigo que tive no futebol. Depois de tantos anos juntos. Ele tem uma postura do bem, como eu. Vou sentir falta dele”, disse Duba.

Confira abaixo a entrevista do presidente do Madureira, na qual ele explica os motivos de ter levado o jogo contra o São Paulo para Londrina e fala sobre como é iniciar seu 26º ano como presidente.

ESPN – Presidente, qual o benefício para o Madureira jogar contra o São Paulo em Londrina?
Elias Duba –
O beneficio é financeiro. Não tem um beneficio técnico porque o Madureira acaba perdendo com essa mudança. Mas o jogo não poderia ser em Madureira por causa do horário que a televisão marcou para a partida. Às 21h45 teria de ser em outro estádio. Qualquer outro estádio do Rio de Janeiro que a gente marcasse esse jogo seria prejuízo financeiro certo porque é um jogo com um time de fora. Embora o São Paulo tenha boa torcida, um jogo desse talvez não atraísse os torcedores. E aí a gente teve uma proposta para ir para uma outra praça, com uma cota, e achamos interessante. Os organizadores ficam em Londrina. A gente concordou e o São Paulo também.

ESPN – Por que o horário foi um dificultador?
Elias Duba –
O campo do Madureira não tem refletor. Escolher outro campo no Rio de Janeiro para pagar aluguel não dá. Não posso pagar para jogar como fiz com o Fluminense agora, no último domingo, em jogo que a televisão marcou 19h. Aí não pude jogar no meu estádio [na rua Conselheiro Galvão] e fui jogar em Xerém. Tive um prejuízo de R$ 50 mil, somando tudo.

ESPN – Como foi a negociação para levar o jogo desta quarta para Londrina?
Elias Duba –
Os organizadores compraram o mando de jogo e escolheram Londrina porque o São Paulo tem bastante torcida lá. E é interessante financeiramente para eles. Nada da renda ficará conosco. Tem um valor em disputa para quem ganhar o jogo, fruto de um acordo para servir de motivação para os dois lados. Mas já recebemos uma cota antecipada. Tanto o Madureira quanto o São Paulo.

ESPN – A cota da CBF ou dos organizadores? E qual foi o valor?
Elias Duba –
Recebemos a cota dos organizadores. Eles pagaram viagem e hospedagem e a cota de R$ 120 mil para cada clube. Se ganharmos o jogo, recebemos mais R$ 60 mil. E se houver empate a gente divide R$ 30 mil para cada um [o empate, contudo, elimina o Madureira].

ESPN – Vê alguma chance para o Madureira?
Elias Duba –
É difícil, mas fomos para lá buscar a classificação. A gente entra em campo para ganhar jogos. A gente joga contra dois resultados [por ser jogo único, o time carioca só avançará em caso de vitória no tempo normal]. Mas no futebol nada é impossível.

ESPN – No Rio de Janeiro seria também impossível?
Elias Duba –
Não, de jeito nenhum. Se fosse no campo do Madureira, eu apostaria no Madureira. Aqui o Madureira sabe impor seu jogo, sabe tirar vantagem do adversário. Mas se fosse em São Januário, no Engenhão, em qualquer um desses campos, a vantagem seria toda do São Paulo.

ESPN – Qual é a situação do Madureira? O time tem um histórico de grandes revelações, com Jair Rosa Pinto, Nair, Evaristo de Macedo, Marcelinho Carioca e outros. E hoje?
Elias Duba –
Mudou muito o futebol e a cada dia vai ficando pior pela quantidade de empresários presentes, pela Lei Pelé, que te toma um jogador a hora que quer. O jogador que está começado e não quiser renovar, não renova e vai para outro time sem que o clube ganhe nada. E temos perdido jogadores assim. Time pequeno sofre muito. A gente continua trabalhando, formando, tendo uma boa base. Agora para o time profissional é muito difícil. O único campeonato rentável que o Madureira joga é o Estadual, competição que o Madureira recebe para jogar. Os outros a gente paga para jogar. Como o Nacional que começará após o Estadual. Pagou para jogar na Série D, pagou na Série C e neste ano vai pagar de novo na Série D. A gente paga para entrar em campo. A grande verdade é que essas competições nacionais não sendo Série A e Série B são totalmente deficitárias.

ESPN – Vocês formam jogadores e perdem para outros times?
Elias Duba –
Eu tenho perdido. Perdi pro Corinthians, para o Cruzeiro e outros clubes de ponta. Basta o empresário chegar ao pai do jogador com qualquer merreca, que o pai se vende ao empresário e entrega o filho. E os jogadores saem. Não me lembro o nome do que perdemos para o Corinthians. No Cruzeiro foi o Maranhão, que estava no Fluminense. Fomos jogar uma Taça BH, o Cruzeiro aliciou o jogador e o levou. E aí não tem jeito. Pai se une ao empresário e o clube perde. O Madureira é um clube formador, mas não tem título de clube formador. Não temos espaço, centro de treinamento, coisas que um clube formador precisa hoje para não sofrer essas coisas no futebol. Clube pequeno é difícil trabalhar, cara. Não é clube pequeno. É time pequeno porque o clube tem tradição de 104 anos. É difícil porque não tem arrecadação permanente para que você possa manter um trabalho o ano todo. É muito sazonal. Você joga o Estadual que te dá dinheiro e depois fica malhando o ano todo para ganhar algum e colocar o time em campo.

ESPN – Como o senhor monta os times?
Elias Duba –
Faço dois times, um para o Estadual e outro para a Série D. Tem a Copa Rio, mas este a gente joga com a prata da casa. Procura jogar com juniores para fazer a rodagem. A grande verdade é que depois do Estadual você não pode fazer investimento.

ESPN – Como é orçamento do futebol hoje?
Elias Duba –
Na época do Estadual, gira em torno de R$ 300 a R$ 400 mil mensais a folha de pagamento do futebol. Na Série D, fica em torno de R$ 150 mil por mês. Não tenho receita nenhuma. Não tem de patrocínio, nem de campo. A receita que tenho é quando negócio um jogador.

ESPN – O senhor está há 25 anos na gestão do Madureira, desde 1992, vê o futebol brasileiro caminhando para a melhor ou pior?
Elias Duba –
Cada dia tá pior. A cada momento piora. Os times pequenos têm mais dificuldade para se mexer. Eu acho que precisamos de uma mudança urgente no comando para que a CBF consiga olhar para todos os clubes que jogam pelo menos os campeonatos nacionais. Não se discute que a Série A é um grande campeonato, assim como a Copa do Brasil, que hoje tem uma premiação fantástica [só o campeão leva R$ 50 milhões], a Série B é muito boa e financeiramente a CBF ajuda muito. Mas e a Série C e a Série D? Os patinhos feitos não merecem ajudam? Ajuda de passagem e hospedagem é muito pouco. Eu já banquei muito do meu bolso e sei que hospedagem e passagem ajudam, mas e o time? Como vai fazer um time competitivo para subir uma divisão. Ninguém paga. É muito difícil. Eu tive uma conversa com o Marco Polo Del nero e discuti isso com ele em um conselho arbitral quando o Madureira estava na Série C. Disse a ele que achava uma covardia isso que a CBF fazia com os times da Série C. Ele me disse que a CBF já pagava muito com passagem e hospedagem. Isso não é nada perto do que a CBF recebe. Ela poderia ajudar muito mais clubes que são seus filiados e jogam seus campeonatos.

ESPN – É um olhar apenas elitista?
Elias Duba –
Claro. A Série A tem clube que ganha R$ 100 milhões. Na Série B ganham na faixa de R$ 5 milhões e R$ 4 milhões. E na Série C e D não se dá nada. É uma covardia, porra.

ESPN – Impede os menores de crescerem, sonharem?
Elias Duba –
Alguns têm condição de fazer isso. O Fortaleza é um time de massa, que estava na Série C batalhando para subir e conseguiu isso no ano passado. Mas é um time de massa no Ceará. Tem patrocínios a vontade para ele. O poder público ajuda. Diferentemente de tantos outros clubes que jogam a Série C. O Madureira é um clube que tem 104 anos. E quem ajuda? Quem é o patrocinador? Quem quer botar um centavo aqui se não for por amizade com presidente ou a alguém do clube? É difícil competir. Como vou competir com o Fortaleza? Uma covardia. Se tivesse ajuda da CBF poderia fazer um time como faço no Estadual. Se é bom ou se é ruim, não importa. Se deu resultado ou não deu, também não importa. Importa depois no final. Mas você teve condições de fazer, de contratar.

ESPN – A realidade do Madureira é de quem sonha ou de quem não pode dar voos altos?
Elias Duba –
Madureira não voa alta porque temos os pés no chão. Não faço loucura, mas em compensação não devo nada a ninguém. Está tudo em dia.

ESPN – Em 25 anos, como vê a gestão do futebol carioca?
Elias Duba –
Os pequenos sempre chegam mesmo com investimento mais baixo. Às vezes por desequilíbrio técnico, às vezes por questões físicas. Tem muito disso. Mas no final, na hora do bem bom, acaba dando só grandes. Eu cheguei muito perto. Outros também chegaram. No final o peso da camisa dos grandes é muito maior e faz diferença.

ESPN – O formato atual do Campeonato Carioca te agrada?
Elias Duba –
Acho que essa fórmula é boa. Dá mais chance de sobrevida aos pequenos. Com essa fórmula deveria ter mais clubes na primeira divisão, com seletiva, um torneio antes para classificar. Poderia dar mais chance a mais clubes.

ESPN – O senhor preferia o período em que Caixa D’Água mandava no futebol do Rio?
Elias Duba –
Era outra época. O atual presidente é uma pessoa sensata. Tem uma visão boa sobre futebol. É um cara do bem, bem-intencionado. São os clubes que criam problema durante o início do campeonato. Sempre foi assim. Esse ano menos. Mas todo ano tem uma complicação para fazer o campeonato. Os nossos clubes depreciam o nosso campeonato e o campeonato do Rio não é melhor hoje justamente por isso. Alguns, nem todos, depreciam o campeonato. A impressa não gosta do campeonato e baixa o pau no campeonato. É a fórmula que é ruim, é o torneio que não vale nada. Isso afasta o torcedor do estádio. Você tem uma média de público na poltrona maravilhosa, mas a média de público nos estádios é pequena. Eu joguei há uns cinco anos com o Fluminense no Maracanã com 70 mil pessoas. Com o Botafogo, na decisão em 2006, fizemos dois jogos com lotação esgotada. Quando o jogo vale, há um apelo, o torcedor vai. Agora se começa o campeonato você falando que não presta, que não vale nada, ninguém vai. Como vai incentivar o torcedor a ir ao estádio.

ESPN – Como é estar há 25 anos na presidência do clube? Não há concorrentes?
Elias Duba –
O grande problema é esse. Eu estou há 25 anos e ganhei uma eleição disputando com a situação. Isso lá em 1992. Depois nunca mais teve outro candidato. Depois do que eu fiz pelo Madureira nunca mais apareceu um candidato. Eu sempre fui eleito por aclamação sem nenhum tipo de oposição. Acho que é fruto de um trabalho, de algo bom que eu fiz, para que não aparecesse alguém que quisesse ser presidente. Eu torço para que isso aconteça. Está chegando na minha hora de abandonar… Abandonar não, porque até morrer eu vou continuar participando indiretamente ou direitamente. Mas vou continuar. Agora estou cansado. Já há um desgaste, físico, de estar todos os dias aqui. Mas eu gosto muito de mexer no patrimônio do clube. Gosto muito de obras. Uma época ficou parado por falta de recurso. Mas esse ano foi ótimo. O Madureira não é só futebol. Ele vive hoje em função do seu patrimônio.

ESPN – Quando termina o atual mandato?
Elias Duba –
Fui reeleito no final do ano passado por mais dois anos. E acho que são os últimos dois. Não penso em seguir.

ESPN – Tem candidatos para administrar o Madureira no futuro?
Elias Duba –
Com vontade até vejo. Tenho dúvidas com relação a capacidade deles. Mas tem aparecido um pessoal novo no Madureira, que veste a camisa e vejo que tem perfil para ser presidente. Para a gente poder sair daqui e ficar tranquilo, para que não vá tudo por água abaixo. Se for transformar para melhor tudo bem, mas para pior não.


ESPN – Em 25 anos, fez uso de recursos próprios para ajudar o clube?
Elias Duba –
Muitas vezes. Meu e de alguns amigos. No início principalmente. Eu era comerciante e podia até ajudar. Quando eu assumi era um caminhão de dívidas, processos trabalhistas. Não tinha um jogo de camisa, um meião. Fomos superando. Hoje o Madureira é um clube que não deve nada. Não precisamos entrar em Profut, nada disso, porque não tinha o que parcelar. Fizemos avanços modestos, mas com os pés no chão. Talvez minha família tenha tido arrependimento por eu ter deixado ela de lado nesse período. Já me dediquei mais. Eu ficava no clube o dia todo e todos os dias. Não tinha sábado nem domingo. Abandonei minha família. Meus filhos eram pequenos. Foi muito gratificante. Fiz muitos amigos, tem muitas pessoas que me querem bem.

ESPN – Dizem que a sua relação com Eurico Miranda era bem forte. É mesmo?
Elias Duba –
Ele foi talvez o maior amigo que tive. Depois de tantos anos juntos. Ele no Vasco e eu Madureira. Mas são raros os que não gosto. Gosto dos que têm a mesma postura que a minha. Eu tenho postura do bem. Mas tem uns que são aproveitadores. Eles me elogiam, me agradavam. Do Eurico eu vou sentir falta. Claro que vou. Faltam pessoas como ele no futebol. Mas o presidente que assumiu o Vasco é uma pessoa do bem. Não tenho tanta amizade. É um homem do bem, médico, formado. Quero ver o senso dele para administração. É preciso ter tino de administrador em clube, não adianta ser médico, advogado. Tem de administrar problemas. Um presidente de clube grande só administra problema. Vamos ver.

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