por Thiago dos Reis
Como de praxe, assisti à estreia de Rivaldo num boteco aqui na zona sul de São Paulo.
Eis que no segundo tempo, 2 a 1, minutos após o golaço do camisa 10 chegam dois meninos no boteco. Param, olham fixamente para a TV e me perguntam se o São Paulo está vencendo. Dada a resposta, perguntam quem fez os gols.
"Rivaldo?", perguntou o menor, de uns 7 anos de idade, após minha resposta. "É, ele tá no São Paulo", respondeu o maior, de uns 13 anos.
Foi quando olhei para os dois (até então respondia às perguntas sem tirar os olhos da TV) e vi que eram garotos pobres. Estavam sujos, de calça jeans rasgada e blusa moletom velha.
O maior perguntou se Rivaldo estava jogando bem e então descrevi o golaço, com direito a chapéu. Ele disse que ia comprar a camisa do craque esse mês. Perguntei se ele sabia o preço (prevendo que fosse uma camisa pirata) e ele disse que estava juntando 170 reais pra comprar a camisa original.
Dois garotos, sujos, roupas gastas. Entraram no boteco para pedir um copo de água da torneira. No entanto, a paixão pelo São Paulo os faz comprar uma camisa original do Rivaldo. Esse é o verdadeiro espírito de um torcedor.
Quantos são os que ganham muito mais, se dizem torcedores e não têm uma camisa do time? Aqueles meninos estavam juntando tudo o que tinham para comprar uma.
Passados alguns minutos, um rapaz maior, também aparentando ser morador de rua, chamou os dois. Eles reclamaram pois queriam assistir a partida o menor disse "só porque teu time foi eliminado ontem eu não posso assistir?".
Os dois saíram do boteco zoando o rapaz, chamando-o de "virgem da América". Ele estava com uma camisa roxa do Corinthians. Nitidamente pirata.