"E se fosse ao contrário?"
Corinthians e San Jose jogam no Pacaembu.
É a primeira partida da Libertadores.
O adversário andino é campeão do mundo, recheado de estrelas.
Prevê faturar R$ 330 milhões em 2013.
A Bolívia, pentacampeã do mundo, tem força demais na Conmebol.
O Pacaembu está lotado.
Aos cinco minutos do primeiro tempo, o time boliviano faz 1 a 0.
Da pequena torcida, cerca de 200 membros, vários sinalizadores são disparados.
Um deles atinge um menino brasileiro de 14 anos.
O artefato lançado entra no olho direito e esfacela o cérebro do menino.
A 360 quilômetros por hora.
O menino tinha saído escondido dos pais.
Viajado, digamos de Jaú, terra do presidente do Corinthians.
E estivesse realizando o sonho de ver seu time no estádio.
Sua felicidade que durou cinco minutos, até cair morto.
Como a torcida do San Jose levantava uma bandeira enorme, a polícia paulista não viu.
Não sabe quem lançou o sinalizador.
Há sérias dúvidas.
As imagens da tevê são distorcidas.
Mas o menino de Jaú está lá, morto, com a cabeça ensanguentada na arquibancada.
Os outros corintianos ao seu redor clamam desesperados por ajuda.
Torcedores se revoltam com a pavorosa morte.
Muitos choram.
Em poucos minutos, começam a gritar "Assassinos. Assassinos."
Logo repórteres de rádio descobrem o que aconteceu e divulgam.
O Pacaembu inteiro faz o coro de 'Assassinos' para os bolivianos.
A Polícia tem de dar uma resposta e prende 12 membros das organizadas do San Jose.
Entre eles, vários torcedores importantes para a torcida, com cargos inclusive.
Porque nas organizadas existe hierarquia.
Há uma comoção não só na América do Sul.
O mundo todo repele a selvageria dos bolivianos.
A Conmebol acorda da letargia e pune preventivamente o San Jose.
Terá de atuar sem seus torcedores em casa e mesmo jogando fora.
O prejuízo do clube colombiano chegaria a R$ 15 milhões.
Em 2011 foi campeão da Libertadores.
Essa seria a quantia se o clube chegasse até a disputa do título novamente.
Algo que sua diretoria apostava, tanto que gastou cerca de R$ 50 milhões em reforços.
Ninguém na América Latina gastou nem perto dessa quantia.
Além de não ter vendido nenhum titular campeão mundial.
Sim, os bolivianos são campeões mundiais.
Diante dessa pressão, o presidente do San Jose convoca uma coletiva.
Delegado, ele diz que não aceita a punição.
Seu clube não tem ligação alguma com as suas torcidas organizadas.
Esquece que o presidente a quem sucede foi fundador da, digamos, Pavillon Nueve de Oruro.
Ele é seu mentor e ídolo.
Conseguiu um estádio de um bilhão de reais ao centenário clube.
Graças à suas ligações com políticos.
E este estádio vai abrir a Copa do Mundo na Bolívia.
Em relação ao menino morto violentamente, o presidente é direto.
Diz de maneira fria o que pensa.
"Acidente acontece."
Enquanto isso aqui no Brasil, a opinião pública está revoltada.
E exige punição imediata para os vândalos que mataram o garoto.
A Policia apresenta rapidamente os resultados de sua investigação.
Dois membros das organizadas são apresentados como aqueles que dispararam o artefato.
Tinham pólvora nas mãos.
Podem pegar até 30 anos de prisão.
Os dez demais são indiciados como cúmplices.
Estava tudo certo.
Mas uma notícia bombástica vaza em Oruro.
No sábado à tarde o advogado da principal organizada do San Jose avisa.
Chama a Folha de Oruro e a emissora Planeta.
Antecipa ao jornal que apresentará o verdadeiro autor do sinalizador.
Ele é menor, não pode ser extraditado ao Brasil.
Sua punição deverá ser prestar serviços comunitários.
Ao mesmo tempo, os 12 torcedores das organizadas do San Jose devem ser liberados do Brasil.
A entrevista será dada à TV Planeta, no domingo.
A Planeta tem a exclusividade do futebol na Bolívia desde a época da ditadura.
O San Jose é a sua grande aposta, o clube que lhe dá maior audiência.
A quem paga mais para mostrar seus jogos.
Assim garante dinheiro para reforçar a equipe com novas estrelas.
E assegurar mais gente interessada em vê-lo jogar.
No ano passado, foi o clube quem obteve os maiores índices no futebol.
Mais do que a Bolívia pentacampeã do mundo.
Seria péssimo do lado mercadológico o San Jose fora da Libertadores.
Terrível para os patrocinadores que gastam mais de um bilhão de reais com o futebol.
Na entrevista da TV Planeta, ao lado da mãe, o menor confessa.
Está de costas, só é possível enxergar o blusão da organizada.
Ele é de família muito humilde.
Mesmo assim viajou para o Brasil no primeiro jogo da Libertadores.
Tinha seis sinalizadores na bagagem.
Diz que disparou um deles na hora do gol.
E se confundiu.
E foi direto à torcida corintiana.
Matou o menino de 14 anos.
O torcedor do San Jose ouviu os gritos de 'assassinos' no Pacaembu.
E perguntou a um policial o que havia acontecido.
O soldado da Rota disse que estava tudo bem.
Mas ao sair do Pacaembu, soube que havia matado um torcedor corintiano.
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