Com o aumento das cotas de TV, os clubes brasileiros passaram a investir em reforços caríssimos. As contratações atingiram um padrão europeu, e os salários estão cada vez maiores. Só que ficou difícil pagar a conta. Resultado: três dos principais clubes brasileiros enfrentam dificuldades financeiras neste início de temporada. Flamengo, Vasco e Cruzeiro ressuscitaram um velho fantasma, o do atraso de salários. E isso pode atingir outros gigantes em breve.

No ano passado, os clubes passaram a negociar as cotas de televisionamento dos jogos individualmente com a TV Globo, enfraquecendo o Clube dos 13 e aumentando os valores recebidos por cada equipe. Mas esse incremento nas finanças fez os dirigentes perderem a cabeça. Em meio à gastança, para desespero dos clubes, a TV Globo deixou de antecipar o pagamento sempre que solicitado, algo comum em outros tempos.

Antes, o Clube dos 13 era avalista dos empréstimos bancários, mas agora os clubes precisam se virar como podem. No Cruzeiro, o ex-presidente Zezé Perrella virou avalista nas dívidas. “O Cruzeiro viu-se obrigado a recorrer às instituições financeiras em 2011, assumindo compromissos que estão sendo saldados. Nessas operações, o ex-presidente (Zezé Perrella) foi avalista, como sempre fez durante seus anos à frente da presidência, um procedimento absolutamente normal”, explicou a atual diretoria.

No clube mineiro, os atrasos salariais geraram uma crise com os jogadores, que resolveram publicar uma carta contra a diretoria. A cúpula cruzeirense, por sua vez, chegou a ironizar os atrasos e culpou o governo de Minas Gerais pela crise, já que os dois estádios da capital foram fechados simultaneamente para reformas. Estima-se que, em 2012, o clube receberá R$ 55 milhões pelos direitos de transmissão do Brasileirão, R$ 30 milhões a mais do que no ano que passou.



O Flamengo começou o ano em crise financeira, mesmo sendo, ao lado do Corinthians, o clube que mais recebe cotas de televisão (previsão de R$ 84 milhões em 2012, segundo a Revista Placar). O time da Gávea atrasou direitos de imagem de parte do elenco, como do atacante Deivid, que teria que receber mais de R$ 6 milhões por 18 meses de atraso. Ao mesmo tempo, o time desembolsou cerca de R$ 20 milhões para contratar o atacante Vágner Love.

A crise explodiu e o zagueiro Alex Silva está de saída do clube, exatamente por cobrar publicamente o que tinha a receber. A presidente do clube, Patrícia Amorim, desmente os atrasos salariais, mas reconhece o não pagamento dos direitos de imagem. "Nossa avaliação é que as coisas foram exageradas. Quando se fala em crise, eu garanto que não é crise financeira. Os direitos de imagem, nesse caso, estão atrasados. É uma coisa que assumimos e que estamos procurando restabelecer", disse Patrícia Amorim.

No rival Vasco, que teve um incremento de mais de R$ 40 milhões com as cotas em 2012, os atrasos salariais geraram até um boato de greve, logo negado pelo meia Felipe. “Ganhamos a Copa do Brasil e havia salário atrasado. Isso (atraso) não é novidade, mas aqui ninguém vai fazer uma coisa dessa (greve), nem corpo mole. A dedicação será a mesma, nosso comprometimento não vai mudar”, afirmou o armador.

Apesar da declaração do meia, os atletas decidiram boicotar a concentração para a partida contra o Bangu, pelo Campeonato Carioca. Os atletas se apresentarão às 10h da quarta-feira, no dia do jogo, para o compromisso.

O clube carioca alega que perdeu dois patrocinadores (Banco BMG e Ale) no início do ano, o que teria dificultado o acerto dos pagamentos. "Nós deixamos de contar com dois patrocinadores no começo da temporada. E isto certamente dificultou nosso fluxo de caixa", explica o diretor executivo Daniel Freitas. Além desses dois patrocínios perdidos, o clube corre atrás de uma certidão de débito negativa para receber R$14 milhões da Eletrobrás, principal parceiro do time cruzmaltino.