Obra de arte
"A taça é a segunda escultura mais vista do mundo. Só perde para a Pietá, do Michelangelo.
Maurício Salgueiro
Artista plástico


O artista plástico Maurício Salgueiro de Souza não torce pelo São Paulo, tampouco pelo Flamengo, mas acompanha com atenção a interminável disputa pela Taça das Bolinhas. Afinal, foi o escultor capixaba, de 80 anos, quem concebeu o troféu. "Estou ansioso para saber se a minha filha vai morar em São Paulo ou no Rio", explica.

Salgueiro criou a Taça das Bolinhas em 1975, ao participar de um concurso promovido pela Caixa Econômica Federal. Não poderia imaginar que, depois de tanto tempo, sua obra continuaria no olho do furacão. "É a segunda escultura mais vista do mundo. Só perde para a Pietá, do Michelangelo", exagera, citando a estátua que representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria.

Em entrevista concedida ao DIÁRIO, o artista plástico e torcedor do Botafogo sugere a duplicação do polêmico troféu, de modo a agradar tanto a gregos quanto a troianos.
DIÁRIO - Como o senhor tem visto esta incessante disputa entre São Paulo e Flamengo pela Taça das Bolinhas?
MAURÍCIO SALGUEIRO - Leio diariamente o noticiário. A taça é minha filha e, como pai, quero o melhor futuro para ela.

E qual seria o melhor futuro, no entendimento do senhor?
Tenho certeza de que a taça vai ficar bem na Gávea ou no Morumbi. Flamengo e São Paulo são clubes grandes e ambos a merecem. Se eu pudesse escolher, entregaria o troféu ao Botafogo, time pelo qual torço desde que me mudei para o Rio de Janeiro, ainda criança.

O senhor imaginava que o troféu se transformaria num objeto de cobiça extracampo?
Nunca. Na verdade, não tinha a pretensão de criar uma taça até ser convidado pela Caixa Econômica Federal a participar de uma concorrência, em 1975. Competi com nove escultores que na época se destacavam no cenário nacional. Ainda estava elaborando a minha tese de doutorado. Fiquei surpreso por ter vencido o concurso.

Em que se inspirou?
Não me baseei em outros troféus, mas, sim, nas pesquisas que vinha fazendo.

Qual a remuneração que o senhor recebeu pelo trabalho?
Não me lembro do valor exato, mas foi o suficiente para passar um bom tempo em Nova York e visitar o Museu de Arte Moderna, o MoMA.

Tem ideia do valor da taça?
É impossível mensurar, principalmente porque ela se tornou uma obra disputada, fato que, obviamente, eleva o preço estimado. Mas não acredito que a Caixa Econômica, assim como São Paulo e Flamengo, tem interesse em vender o troféu.

Depois de tanto tempo, ainda se orgulha da taça?
Claro que sim. Evoluí ao longo dos anos, graças ao conhecimento que adquiri. Mas é certo que a Taça das Bolinhas, como vocês a chamam, é minha obra mais popular. Costumo brincar com os amigos que o troféu é a segunda escultura mais vista do mundo. Só perde para a Pietá, do Michelangelo.

Como criador da taça, o senhor tem alguma sugestão?
O jeito é duplicar o troféu. Sou partidário da teoria de que tanto Flamengo quanto São Paulo são merecedores da posse do troféu. Então, é o caso de uma taça ficar em São Paulo e outra no Rio. O problema estaria resolvido e não se discutiria este assunto à exaustão, como tem acontecido. Com um pouco de boa vontade, todas as partes poderiam se entender.

O senhor não se importaria, portanto, com a existência de uma réplica?
Não. Inclusive, já fui procurado por um torcedor do Flamengo disposto a pagar por uma segunda Taça das Bolinhas. Ele me disse que encheria o Maracanã com 150 mil pessoas para a entrega do troféu. Do jeito que as pessoas gostam de falar da minha taça, eu não duvido.