Andreas e três das suas paixões: Sepultura,
guitarra e o São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Era o começo da década de 90, e o Sepultura começava a ganhar a projeção internacional que alguns anos mais tarde faria dele o grupo brasileiro de rock mais bem-sucedido no exterior. Contrato com gravadora americana, participação na segunda edição do Rock in Rio e o começo das turnês internacionais, tudo isso cercado pelo interesse da mídia estrangeira. E foi nesse furacão que o guitarrista Andreas Kisser viveu um dos momentos mais emocionantes da sua vida. Mas não estamos falando de um show num estádio lotado, com centenas de milhares de fãs gritando o nome da banda.
O palco da história era, sim, um estádio lotado, o Morumbi, e Andreas, um dos mais de cem mil tricolores que, no dia 17 de junho de 1992, gritavam “é campeão” após a cobrança de Gamboa, do Newell’s Old Boys, parar nas mãos de Zetti. O São Paulo conquistava a primeira de suas três Taças Libertadores ao derrotar os argentinos nos pênaltis, por 3 a 2, após devolver o placar de 1 a 0 no tempo normal.
A derrota no jogo de ida, com um gol de Berizzo, fez com que o São Paulo entrasse em campo precisando vencer por dois gols de diferença. Empate, nem pensar. E parte da aflição só acabou aos 21 minutos da etapa final, quando Raí, de pênalti, deixou o confronto igual e garantia, no mínimo, as penalidades máximas. Foi o que aconteceu. Ao lado de Andreas, um repórter e um fotógrafo da “Hai Magazine”, da Indonésia, o acompanhavam para uma matéria especial sobre o Sepultura. Acabaram conhecendo um pouco mais do que a paixão pela música. Mais do que isso, com muita tensão.
- O primeiro título da Libertadores tinha que ser o mais marcante, e ainda estava acompanhado por um pessoal que fazia uma reportagem sobre o Sepultura. Acabou que consegui ingressos em cima da hora, para a numerada inferior, e com cambista mesmo – lembrou o guitarrista, que não poupou os indonésios da comemoração. Ou quase. – Tive de ficar de babá deles. Um monte de gente invadindo o campo após o jogo, e eu lá, com vontade, mas sem poder deixá-los na mão. Mas teve o lado legal, porque eles puderam registrar a festa no Morumbi, depois na Avenida Paulista. Acabou ajudando na reportagem, e eu apareci na capa da revista com a camisa do São Paulo que estava usando no dia do jogo.
Surpresos e pouco acostumados à paixão que o futebol desperta nos brasileiros, a participação dos indonésios foi restrita. Andreas os deixou no hotel e partiu para a comemoação com os amigos.
- Só que não sou muito de muvuca, por isso voltei para Santo André, onde morava na época. Ainda não era casado, e o Sepultura começava a ter uma carreira internacional. Então, tive mesmo o privilégio de curtir a primeira Libertadores junto com os amigos, comemorar tomando umas cervejas – disse o músico, valorizando um título conquistado numa época peculiar. - Era muito mais difícil vencer a Libertadores, e o Grêmio havia sido o último campeão (em 1983). Depois desse hiato, o São Paulo começou a se tornar o clube do Brasil mais vitorioso do século, não apenas da década de 90 para cá.
A ligação vitoriosa do São Paulo com a Seleção Brasileira
Animado com as lembranças de uma conquista histórica, o músico traça um paralelo do título tricolor com a volta vitoriosa do futebol brasileiro ao cenário mundial – “A conquista representou muito não só para o São Paulo, mas também para o país” – e lembra com carinho de uma figura emblemática: o saudoso técnico Telê Santana, que repetiria o feito com o Tricolor Paulista no ano seguinte, acompanhado dos títulos mundiais contra Barcelona e Milan.
Cena comum: guitarra estilizada do Sepultura na mão, camisa do São Paulo no corpo (Foto: Arquivo Pessoal)
- Uma das coisas mais emocionantes foi ver o Telê fazer parte daquilo tudo, depois das duas Copas perdidas (1982, na Espanha, e 1986, no México), de carregar uma fama de pé-frio. A primeira Libertadores do São Paulo foi um momento importante para a história do clube e do futebol brasileiro, e não à toa foi pré-Copa de 94, quando o Brasil conquistou um título depois de 24 anos. Lá estavam jogadores como Cafu, Raí e Leonardo, e teve muito desse lado psicológico. O Brasil não precisava dessa história de campeão moral, como em 1978 (na Argentina). O Telê faz parte de uma mudança sintomática para a Seleção voltar a ser uma potência respeitada mundialmente.
Politicagem e os dois anos sem títulos
Acostumado a grandes conquistas, Andreas e todos os são-paulinos não sentiram o gostinho de títulos em 2009 e 2010. Um sabor amargo para quem comemorou o inédito tricampeonato brasileiro (2006/2007/2008) na era dos pontos corridos. E o guitarrista tem na ponta da língua a explicação para este pequeno jejum: a diretoria tricolor se preocupou demais em ser uma das forças para a Copa de 2014.
- O São Paulo se prejudicou muito por causa dessa história, de o Morumbi ser ou não o palco do estado para o Mundial. Não dá para negar que houve um pouco de arrogância de diretoria, mas chamar o estádio de ultrapassado é um absurdo.
Andreas defende o Morumbi com unhas e dentes, sem deixar de provocar um recente rival criado pela polêmica do hexacampeonato.
- Quantos títulos importantes foram conquistados lá? Quantos grandes shows foram realizados no Morumbi? Mas é fato que o clube perdeu um tempo precioso, gastou demais em projetos e atrapalhou o futebol. O São Paulo é grande demais, provou ao longo dos anos que tem de estar sempre disputando títulos. Não é que nem o Flamengo, que leva dezessete anos para ganhar um Brasileiro, mas nesse meio tempo fica é brigando para não ser rebaixado.
Volta por cima e mais provocação
Com uma tradição em disputar a Taça Libertadores e sempre fazendo grandes campanhas, o Tricolor Paulista recomeça do zero na temporada 2011. O objetivo é voltar à principal competição sul-americana no próximo ano, desta vez sem vê-la escorrer entre os dedos.
- As últimas Libertadores escaparam por detalhes. Aquela para o Fluminense foi a mais dolorida – revelou Andreas, referindo-se ao jogo em 2008 no qual o Tricolor Paulista perdia por 2 a 1, mas se classificava para as semifinais, até Washington marcar nos acréscimos e classificar o time carioca. – Como torcedor, foi a pior derrota. Mas agora tem a Copa do Brasil, que é um título que o São Paulo não tem, ou seja, uma motivação.
Andreas também não escapa da polêmica ao falar do arquirrival Corinthians, principalmente após a derrota para o Fluminense na reta final do Brasileirão 2010 – o Tricolor perdeu por 4 a 1, e uma vitória beneficiaria o Timão, que lutava pelo título com a equipe carioca.
- O São Paulo não precisava vencer, não havia uma necessidade natural de se esforçar para conquistar a vitória, porque precisava beneficiar A ou B. E é estranho falar em entregar quando o Rogério Ceni foi o destaque do time. Além disso, sejamos sinceros, o time do Fluminense era muito melhor. Quem fez feio foi o Corinthians contra o Flamengo (em 2009). O São Paulo honrou a camisa como sempre, ao contrário do Felipe (goleiro que, à época no Timão, ficou parado no meio do gol numa cobrança de pênalti de Léo Moura). Isso é choro de corintiano, que precisa arrumar desculpas para as cagadas que a diretoria do seu clube faz.
Amenizando: Rogério Ceni, um ídolo como poucos
Andreas e seu pai, Siegfried Kisser, posam
com Rogério Ceni (Foto: Arquivo Pessoal)
Andreas esquece os rivais, mas não as glórias são-paulinas, ao falar de um ídolo: Rogério Ceni. O atual capitão tricolor não estava no gol naquela Libertadores de 1992, mas escreveu seu nome conquistando a competição e o Mundial de Clubes da Fifa em 2005, além de se tornar uma verdadeira referência em meio a vários outros títulos.
- Quando o Rogério parar, aí as pessoas vão sentir, entender a importância dele para o Brasil. Porque os são-paulinos já entendem. Marcar mil gols, como o Pelé fez, é muito difícil, mas um goleiro chegar ao centésimo, e tenho certeza de que ele vai chegar lá, também é um feito e tanto. Ele é inacreditável. Nós, tricolores, sabemos da importância do Ceni. e o restante ainda será convencido – afirmou Andreas, dias antes de o camisa 1 marcar o 94º gol da carreira, na vitória por 2 a 0 sobre o Mogi Mirim, na estreia do Tricolor no Paulistão 2011.
guitarra e o São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Era o começo da década de 90, e o Sepultura começava a ganhar a projeção internacional que alguns anos mais tarde faria dele o grupo brasileiro de rock mais bem-sucedido no exterior. Contrato com gravadora americana, participação na segunda edição do Rock in Rio e o começo das turnês internacionais, tudo isso cercado pelo interesse da mídia estrangeira. E foi nesse furacão que o guitarrista Andreas Kisser viveu um dos momentos mais emocionantes da sua vida. Mas não estamos falando de um show num estádio lotado, com centenas de milhares de fãs gritando o nome da banda.
O palco da história era, sim, um estádio lotado, o Morumbi, e Andreas, um dos mais de cem mil tricolores que, no dia 17 de junho de 1992, gritavam “é campeão” após a cobrança de Gamboa, do Newell’s Old Boys, parar nas mãos de Zetti. O São Paulo conquistava a primeira de suas três Taças Libertadores ao derrotar os argentinos nos pênaltis, por 3 a 2, após devolver o placar de 1 a 0 no tempo normal.
A derrota no jogo de ida, com um gol de Berizzo, fez com que o São Paulo entrasse em campo precisando vencer por dois gols de diferença. Empate, nem pensar. E parte da aflição só acabou aos 21 minutos da etapa final, quando Raí, de pênalti, deixou o confronto igual e garantia, no mínimo, as penalidades máximas. Foi o que aconteceu. Ao lado de Andreas, um repórter e um fotógrafo da “Hai Magazine”, da Indonésia, o acompanhavam para uma matéria especial sobre o Sepultura. Acabaram conhecendo um pouco mais do que a paixão pela música. Mais do que isso, com muita tensão.
- O primeiro título da Libertadores tinha que ser o mais marcante, e ainda estava acompanhado por um pessoal que fazia uma reportagem sobre o Sepultura. Acabou que consegui ingressos em cima da hora, para a numerada inferior, e com cambista mesmo – lembrou o guitarrista, que não poupou os indonésios da comemoração. Ou quase. – Tive de ficar de babá deles. Um monte de gente invadindo o campo após o jogo, e eu lá, com vontade, mas sem poder deixá-los na mão. Mas teve o lado legal, porque eles puderam registrar a festa no Morumbi, depois na Avenida Paulista. Acabou ajudando na reportagem, e eu apareci na capa da revista com a camisa do São Paulo que estava usando no dia do jogo.
Surpresos e pouco acostumados à paixão que o futebol desperta nos brasileiros, a participação dos indonésios foi restrita. Andreas os deixou no hotel e partiu para a comemoação com os amigos.
- Só que não sou muito de muvuca, por isso voltei para Santo André, onde morava na época. Ainda não era casado, e o Sepultura começava a ter uma carreira internacional. Então, tive mesmo o privilégio de curtir a primeira Libertadores junto com os amigos, comemorar tomando umas cervejas – disse o músico, valorizando um título conquistado numa época peculiar. - Era muito mais difícil vencer a Libertadores, e o Grêmio havia sido o último campeão (em 1983). Depois desse hiato, o São Paulo começou a se tornar o clube do Brasil mais vitorioso do século, não apenas da década de 90 para cá.
A ligação vitoriosa do São Paulo com a Seleção Brasileira
Animado com as lembranças de uma conquista histórica, o músico traça um paralelo do título tricolor com a volta vitoriosa do futebol brasileiro ao cenário mundial – “A conquista representou muito não só para o São Paulo, mas também para o país” – e lembra com carinho de uma figura emblemática: o saudoso técnico Telê Santana, que repetiria o feito com o Tricolor Paulista no ano seguinte, acompanhado dos títulos mundiais contra Barcelona e Milan.
Cena comum: guitarra estilizada do Sepultura na mão, camisa do São Paulo no corpo (Foto: Arquivo Pessoal)
- Uma das coisas mais emocionantes foi ver o Telê fazer parte daquilo tudo, depois das duas Copas perdidas (1982, na Espanha, e 1986, no México), de carregar uma fama de pé-frio. A primeira Libertadores do São Paulo foi um momento importante para a história do clube e do futebol brasileiro, e não à toa foi pré-Copa de 94, quando o Brasil conquistou um título depois de 24 anos. Lá estavam jogadores como Cafu, Raí e Leonardo, e teve muito desse lado psicológico. O Brasil não precisava dessa história de campeão moral, como em 1978 (na Argentina). O Telê faz parte de uma mudança sintomática para a Seleção voltar a ser uma potência respeitada mundialmente.
Politicagem e os dois anos sem títulos
Acostumado a grandes conquistas, Andreas e todos os são-paulinos não sentiram o gostinho de títulos em 2009 e 2010. Um sabor amargo para quem comemorou o inédito tricampeonato brasileiro (2006/2007/2008) na era dos pontos corridos. E o guitarrista tem na ponta da língua a explicação para este pequeno jejum: a diretoria tricolor se preocupou demais em ser uma das forças para a Copa de 2014.
- O São Paulo se prejudicou muito por causa dessa história, de o Morumbi ser ou não o palco do estado para o Mundial. Não dá para negar que houve um pouco de arrogância de diretoria, mas chamar o estádio de ultrapassado é um absurdo.
Andreas defende o Morumbi com unhas e dentes, sem deixar de provocar um recente rival criado pela polêmica do hexacampeonato.
- Quantos títulos importantes foram conquistados lá? Quantos grandes shows foram realizados no Morumbi? Mas é fato que o clube perdeu um tempo precioso, gastou demais em projetos e atrapalhou o futebol. O São Paulo é grande demais, provou ao longo dos anos que tem de estar sempre disputando títulos. Não é que nem o Flamengo, que leva dezessete anos para ganhar um Brasileiro, mas nesse meio tempo fica é brigando para não ser rebaixado.
Volta por cima e mais provocação
Com uma tradição em disputar a Taça Libertadores e sempre fazendo grandes campanhas, o Tricolor Paulista recomeça do zero na temporada 2011. O objetivo é voltar à principal competição sul-americana no próximo ano, desta vez sem vê-la escorrer entre os dedos.
- As últimas Libertadores escaparam por detalhes. Aquela para o Fluminense foi a mais dolorida – revelou Andreas, referindo-se ao jogo em 2008 no qual o Tricolor Paulista perdia por 2 a 1, mas se classificava para as semifinais, até Washington marcar nos acréscimos e classificar o time carioca. – Como torcedor, foi a pior derrota. Mas agora tem a Copa do Brasil, que é um título que o São Paulo não tem, ou seja, uma motivação.
Andreas também não escapa da polêmica ao falar do arquirrival Corinthians, principalmente após a derrota para o Fluminense na reta final do Brasileirão 2010 – o Tricolor perdeu por 4 a 1, e uma vitória beneficiaria o Timão, que lutava pelo título com a equipe carioca.
- O São Paulo não precisava vencer, não havia uma necessidade natural de se esforçar para conquistar a vitória, porque precisava beneficiar A ou B. E é estranho falar em entregar quando o Rogério Ceni foi o destaque do time. Além disso, sejamos sinceros, o time do Fluminense era muito melhor. Quem fez feio foi o Corinthians contra o Flamengo (em 2009). O São Paulo honrou a camisa como sempre, ao contrário do Felipe (goleiro que, à época no Timão, ficou parado no meio do gol numa cobrança de pênalti de Léo Moura). Isso é choro de corintiano, que precisa arrumar desculpas para as cagadas que a diretoria do seu clube faz.
Amenizando: Rogério Ceni, um ídolo como poucos
Andreas e seu pai, Siegfried Kisser, posam
com Rogério Ceni (Foto: Arquivo Pessoal)
Andreas esquece os rivais, mas não as glórias são-paulinas, ao falar de um ídolo: Rogério Ceni. O atual capitão tricolor não estava no gol naquela Libertadores de 1992, mas escreveu seu nome conquistando a competição e o Mundial de Clubes da Fifa em 2005, além de se tornar uma verdadeira referência em meio a vários outros títulos.
- Quando o Rogério parar, aí as pessoas vão sentir, entender a importância dele para o Brasil. Porque os são-paulinos já entendem. Marcar mil gols, como o Pelé fez, é muito difícil, mas um goleiro chegar ao centésimo, e tenho certeza de que ele vai chegar lá, também é um feito e tanto. Ele é inacreditável. Nós, tricolores, sabemos da importância do Ceni. e o restante ainda será convencido – afirmou Andreas, dias antes de o camisa 1 marcar o 94º gol da carreira, na vitória por 2 a 0 sobre o Mogi Mirim, na estreia do Tricolor no Paulistão 2011.
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