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Enquanto faz documentário, neto de Adhemar critica Jadel e Nuzman

Diego exibe escultura de madeira feita pelo avô
Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Diego Menasse é o único neto de Adhemar Ferreira da Silva. Formado em Rádio e TV, ele prepara um documentário sobre o avô desde 2007 e também atua como humorista em shows de stand-up comedy. Em entrevista à GE.Net, no entanto, o rapaz de 27 anos falou sério para criticar o triplista Jadel Gregório e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
De acordo com Menasse, Jadel, recordista sul-americano do salto triplo com a marca de 17,90m, desconhecia a carreira de Adhemar Ferreira da Silva. Além de criticar o maior triplista brasileiro da atualidade, o neto do bicampeão olímpico ainda acusou Carlos Arthur Nuzman de descredenciá-lo dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro-2007.

Sentado no sofá da sala da mesma casa em que viveu ao lado do avô até o dia 12 de janeiro de 2001, data do falecimento do único atleta da história do Brasil a conquistar duas medalhas de ouro em Olimpíadas consecutivas, Menasse disse que Adhemar foi ludibriado por algumas pessoas: "muita gente usou ele".

Fã de basquete, o rapaz jamais pensou em tentar repetir os feitos do avô no atletismo e contou que todas as medalhas do ídolo foram vendidas para Roberto Gesta de Melo, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (Cbat), que mantém uma coleção particular de artigos olímpicos. Dez anos após a morte de Adhemar, o neto do ex-triplista permanece ligado ao esporte como coordenador de um programa de intercâmbio de jovens atletas com a Austrália.

GE.Net - Desde 2007, você prepara um documentário sobre a trajetória do seu avô. Como surgiu a ideia de fazer esse filme?
Diego - Eu pensei em fazer o filme pelo fato de nunca ter visto algum documentário sobre ele. Ele tem uma história muito rica, muitas histórias que as pessoas e amigos mais próximos me contavam sobre o meu avô me motivaram a fazer o filme.

GE.Net - Como você planeja montar o documentário? Pretende usar mais imagens de arquivo ou fez várias entrevistas?
Diego - Peguei bastante imagem de arquivo, a própria Gazeta me cedeu bastante coisa. Tentei colher o máximo de entrevistas de amigos e de pessoas que conviveram com ele, além de atletas da atualidade. Conversei com a Maurren, que é uma pessoa que gosto muito, com o Róbson Caetano, com o Claudinei Quirino, mais um cara muito bacana. Quando entrevistei o Jadel, fiquei surpreso pelo fato de ele não conhecer a carreira do meu avô.


Diego Menasse ao lado de Adhemar em 1994
Sergio Barzaghi/Gazeta Press

GE.Net - Como foi a entrevista com ele?
Diego - Tive que fazer duas entrevistas com o Jadel. Na primeira, ele disse que meu avô foi o único brasileiro a ganhar duas medalhas de ouro numa única Olimpíada. Depois, me pediu uma semana para ler a biografia do meu avô e fazer a entrevista de novo. A primeira entrevista foi ruim, mas a segunda foi muito legal. Digamos que ele compensou a primeira. Fizemos uma espécie de mesa redonda com ele, o Róbson Caetano e o Nelson Prudêncio em Belém um dia antes de ele bater o recorde (sul-americano) do João do Pulo com 17,90m.

GE.Net - Por tudo que seu avô representou no salto triplo e no atletismo em geral, você acha que o Jadel tinha obrigação de conhecer a carreira dele?
Diego - Eu fiquei muito surpreso, porque acho que se você se propõe a fazer uma coisa, tem que buscar referências através dos ídolos do passado. Qualquer jogador de futebol sabe quem foi o Pelé, o Zico, o Garrincha. Essa geração nova do vôlei se lembra do Marcelo Negrão, do Pampa, do Maurício. Assim como todo mundo que joga basquete lembra do Oscar. Você tem que ter referência no esporte que faz. Ele conhecia o João do Pulo, o que é uma boa referência, porque ele foi o mais recente. Mas ele precisava ir além para ter mais referências também.

GE.Net - Sei que é difícil fazer isso em relação ao Adhemar, mas o filme terá alguma coisa inédita?
Diego - Procurei pegar mais o lado humano dele, até porque o lado atleta todo mundo conhece. É claro que peguei o lado atleta, mas foquei mais o lado humano. Tem alguns depoimentos de atletas que conviveram com ele e contaram histórias bacanas. O Tetsuo Okamoto, eu filmei mais ou menos um mês e meio antes de ele falecer. Ele era um figura, eu gostava muito dele. (Bronze em Helsinque-1952, Okamoto foi o primeiro nadador brasileiro a ganhar uma medalha olímpica)

GE.Net - Tem alguma história interessante que você descobriu com o filme e pode contar?
Diego - O próprio Tetsuo disse que em 1952, quando meu avô foi para a Finlândia, alguns jornais brasileiros começaram a falar que o Adhemar foi fazer turismo, que foi para conhecer o país, para namorar e para dançar, porque ele era festeiro. No dia seguinte, meu avô bateu o recorde mundial quatro vezes no mesmo dia. O João Havelange também deu uma entrevista muito boa. Tive a honra de conhecê-lo e eventualmente ainda trocamos e-mails. Ele ajudou muito o meu avô e o mais legal é que, na época, ninguém ficou sabendo. Hoje em dia, seria o contrário: a pessoa que ajuda vai para a mídia e aproveita para aparecer. (Em 1961, Havelange, então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), contribuiu financeiramente com o tratamento da tuberculose ganglionar do atleta)
GE.Net - Você começou a fazer o filme em 2007. Aproveitou os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro para filmar?
Diego - Eu tinha conseguido credenciais para fazer meu documentário no Pan. Depois, uma pessoa do credenciamento me ligou dizendo que o próprio Nuzman mandou cancelar essas credenciais. Nem fomos convidados para a abertura, mas a Xuxa, por exemplo, que não tinha nada a ver com esporte, estava na cerimônia. A gente não recebeu convite para a abertura, não recebeu convite para acompanhar o atletismo lá, nem nada. Não fizeram uma obra com o nome do meu avô, nem um banheiro com o nome do meu avô eles fizeram.

GE.Net - O Comitê Olímpico Brasileiro (COB), presidido pelo Carlos Arthur Nuzman, oferece um troféu com o nome do seu avô no Prêmio Brasil Olímpico...
Diego - Não somos mais convidados para essas entregas. Fomos em uma cerimônia após a morte do meu avô e depois não nos chamaram mais. Não lembro de eu e minha mãe termos dado algum vexame na festa, então não sei por que não recebemos mais convites.

GE.Net - Você considera isso desrespeitoso com o seu avô?
Diego - Com certeza. Depois que ele morreu, não serve mais?

GE.Net - Você está fazendo o filme de forma completamente independente?
Diego - Estou procurando qualquer apoio. Os patrocínios e parcerias são sempre bem-vindos. Uma coisa que me entristece muito é que o atleta só é lembrado em época de Olimpíada e Pan-Americano. Dificilmente sai alguma coisa do meu avô em ano que não tenha nada. É muito difícil mesmo. Infelizmente, é a cultura do brasileiro. O que busco é que a história dele sirva de exemplo para quem está começando, porque temos muitos talentos aqui no Brasil. Quero que isso faça com que as pessoas se lembrem, mesmo fora da época de competições esportivas, que o Adhemar ganhou dois ouros olímpicos, três pan-americanos, 10 brasileiros. Também quero que as pessoas não foquem só no esporte. Na época que ele competia, não ganhou nada em relação a dinheiro. Era amadorismo total. Mesmo assim, fez cinco faculdades e falava sete idiomas fluentes. Meu avô viajou o mundo por conta do esporte e da figura diplomática que acabou sendo.

GE.Net - Quando você planeja lançar o filme e como pretende exibi-lo?
Diego - Quero estar com tudo pronto em 2014 para lançar em 2016. Essa coisa de o brasileiro só lembrar em ano olímpico e de Pan-Americano pode até ajudar na questão de divulgação. Estou pensando em fazer dois cortes: um para televisão e outro, para cinema. Eu quero que o filme vá para o cinema.

GE.Net - Você tinha apenas 16 anos quando seu avô faleceu. Como está sendo reconstruir a história dele através do filme?
Diego - É emocionante. Morávamos aqui em casa eu, meu avô e minha mãe, e eu tinha o costume de chamá-lo de pai. Não tem um dia em que eu não pense nele. Sempre que mexo com o filme e converso com alguém da época, isso vem mais forte. Neste dia 12 de janeiro, faz mais um ano que ele faleceu, o 10º ano. Nessa época, no Natal, no Ano Novo e no aniversário dele a gente acaba pensando mais, mas não tem um dia em que eu não pense nele. Tenho certeza que ele está num lugar bem melhor do que a gente aqui.

GE.Net - Você chegou a tentar fazer atletismo em algum momento da sua vida?
Diego - Quando eu tinha uns 12 anos, me mandaram dar uma volta na pista para aquecer e já desisti. Mas participei de duas São Silvestrinhas. Foi uma vergonha para mim e uma vergonha maior ainda para o meu avô (risos). Na primeira, cheguei em 10º e acho que tinham umas 20 crianças na minha categoria. Um ano depois, fui o último, sendo que na primeira volta eu já era retardatário. Aí eu fui jogar basquete, porque cansa menos (risos).

Adyel Silva, filha de Ademar, é cantora e atriz

GE.Net - Seu avô nunca te incentivou a praticar atletismo?
Diego - Não. Minha mãe até hoje tem o costume de ver a São Silvestre aqui na Avenida Rudge. Então, eu falei que queria participar da São Silvestrinha. Era uma criança boba achando que era fácil correr. Quando cheguei em 10º, falei para o meu avô: "o senhor podia me treinar para o ano que vem". Ele disse que tudo bem, mas o único treino que ele deu foi um "boa sorte". Não adiantou muito (risos).

GE.Net - Então você nunca chegou a saltar?
Diego - Eu tenho duas curiosidades: quanto tempo faria nos 100 metros e que distância eu pularia na caixa, mas nunca saltei. Mesmo assim, acompanho o esporte e coordeno uma bolsa com o nome do meu avô.

GE.Net - Como funciona essa bolsa?
Diego - Todo ano, vem um atleta da Austrália para disputar o Troféu Brasil como convidado e um brasileiro viaja para participar do Nacional Australiano. Estou procurando fazer uma parceria com algum clube para trazer os atletas que participam do projeto para São Paulo para treinar com mais estrutura. Tentei um contato com o Pinheiros e com o São Paulo. Vamos ver no que dá. Seria legal se fosse com o São Paulo, que agora está com atletismo e foi o clube que meu avô defendeu. Mas como no Brasil o ano só começa depois do Carnaval, preciso esperar mais um pouco.

GE.Net - A Maurren, campeã olímpica do salto em distância, atualmente compete pelo São Paulo. Como é vê-la no mesmo clube que o Adhemar defendeu e que ostenta as duas estrelas douradas na bandeira em homenagem a ele?
Diego - É legal, eu achei isso fantástico. A Maurren é alguém que eu gosto muito como atleta e como pessoa. Torço muito por ela e quero vê-la colocar mais umas estrelas na bandeira do São Paulo, porque ela tem potencial para isso.

GE.Net - A Maurren é bicampeã pan-americana e atual campeã olímpica. Se ela repetir os títulos no Pan-Americano de Guadalajara-2011 e nos Jogos de Londres-2012, iguala o seu avô...
Diego - Quero muito que isso aconteça. Nós temos ótimos atletas no Brasil e o nosso país tem uma tradição no salto. Eu torço demais por ela, muito mesmo. Quando ela ganhou em Pequim, eu vibrei muito. Gritei aqui assistindo. Achei fantástico e torço muito por ela.

GE.Net - O mundo inteiro conheceu o seu avô pelo grande atleta que ele foi. E você, como se lembra dele?
Diego - Tenho muitas lembranças da convivência que tive com o meu avô. Eu era criança e quando ele chegava do trabalho a gente costumava brincar. A gente jogava baralho aqui, ficava vendo televisão juntos. Mas meu avô era meio quietão. Muitas vezes, ele chegava do trabalho, ligava a televisão, assistia o jornal, subia e dormia. Outra coisa que me lembro muito é que ele tinha um corpo invejável até pouco tempo antes de morrer. Ele sempre acordava, fazia flexão de braço, abdominal, polichinelo. Estava com 73 anos e um corpo de 25. Depois que comecei a mexer com essas coisas do filme, acho também que muita gente usou meu avô. Ele não soube explorar tanto o nome dele quanto muita gente de currículo esportivo bem menor faz atualmente. Muita gente agiu de má fé com ele. Por sempre querer ajudar, por querer fazer trabalho social com crianças e coisas desse tipo, ele abraçava, mas muita gente acabou montando nele.


Diego Menasse guarda fotos do avô em casa
Sergio Barzaghi/Gazeta Press

GE.Net - Em que sentido?
Diego - Meu avô era um cara extremamente político. Como ele conhecia muita gente em Brasília e tinha as portas abertas lá, muita gente usou ele para encabeçar projeto sabendo que o nome dele em Brasília resultaria em alguma coisa. Meu avô viajava muito. Ele ficava só uns 120 dias por ano em casa. Ele viajava muito para Brasília, ficava viajando para resolver coisas que não eram para ele.

GE.Net - Além do bicampeonato olímpico, a vida pessoal do seu avô também foi impressionante. Ele se formou em belas artes, educação física, direito, relações públicas e ainda trabalhou como jornalista. Conseguia se expressar em inglês, espanhol, italiano, francês, alemão, finlandês e japonês. Atuou num filme premiado com o Oscar e trabalhou na Embaixada Brasileira na Nigéria. Você acha que essa trajetória na vida pessoal é tão fora de série quanto a da vida esportiva?
Diego - Para te falar a verdade, eu acho até mais impressionante. Ele podia, por exemplo, seguir o mesmo caminho que a maioria dos atletas que faz um resultado expressivo segue: estudar educação física e virar treinador. Mas escolheu outro rumo. Quantos atletas que depois da carreira esportiva seguiram para um lado diferente? É difícil. Quando a pessoa foi orientada ao esporte, ela fica só ali. Outra mensagem que ele deixa é que o esporte abre portas, e ele aproveitou todas, usou o esporte do jeito certo.

GE.Net - Além de atuar, o Adhemar tocava violão e gostava de cantar. Ele também chegou a fazer algumas esculturas. Atualmente, sua mãe é cantora, trabalha como atriz e você está produzindo um filme. Acha que herdaram essa faceta do seu avô?
Diego - Eu acho que sim. Em relação à parte artística, minha mãe sem dúvida herdou dele. Meu avô até falava: "Eu não canto, eu brinco. Quem canta sério é a Adyel". Meu avô fez escultura, direito, educação física, relações publicas... Os cursos que ele fez não têm muito a ver um com o outro, mas ele fez... A coisa que mais me inspira em relação ao meu avô é que ele provou que o ser humano tem a capacidade de fazer tudo que quiser.


PRESIDENTE DA CBAT COMPROU MEDALHAS OLÍMPICAS

As medalhas de ouro olímpicas conquistadas por Adhemar Ferreira da Silva nos Jogos de Helsinque-1952 e Melbourne-1956, antes guardadas em uma sala de troféus na residência da família (foto), foram vendidas a Roberto Gesta de Melo, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (Cbat), após a morte do ex-triplista, em 2001. "Nós vendemos tudo que tinha na sala de troféus. Se ficasse aqui, o tempo envelheceria e estragaria as peças. O Gesta pegou, restaurou e arrumou tudo. O pessoal acha que vale muito, mas é mais o valor sentimental mesmo", explicou Menasse, que não soube precisar as cifras da venda. Gesta mantém uma coleção particular de artigos olímpicos em sua casa, em Manaus.


COB CONTESTA NETO DE ADHEMAR

Através de sua assessoria de imprensa, o COB contestou as declarações de Diego. "Todo o processo de credenciamento para o Rio 2007 foi feito através de critérios próprios da equipe do Comitê Organizador dos Jogos Pan-americanos Rio 2007. Não confirmamos a informação de que o presidente do COB Carlos Arthur Nuzman cancelou o credenciamento", diz a nota.

"A família do Adhemar Ferreira da Silva foi convidada para a entrega do prêmio ao Nelson Prudêncio, em 2001, primeiro ano de entrega do Troféu Adhemar Ferreira da Silva, entregue pela filha do Adhemar, em uma grande homenagem do COB ao primeiro bicampeão olímpico brasileiro. Da mesma forma, as famílias dos homenageados pelo Prêmio Brasil Olímpico são convidadas no ano das homenagens", encerra o comunicado.

Jadel Gregório, por sua vez, admite pouco conhecer sobre seus antecessores. "Sei muito pouco porque não vivi nada, mas o Adhemar foi um fenômeno do triplo, assim como o João (do Pulo). Estou tentando seguir o que eles fizeram", declarou o atleta de 30 anos.


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