Ricardo Oliveira, por todos os clubes pelos quais passou, sempre foi artilheiro. Mas o que pouquíssima gente sabe é que, no começo da carreira, ainda nas categorias de base da Portuguesa, o atacante e hoje maior esperanças de gols do São Paulo quase virou zagueiro.

A ideia, que soa maluca em virtude da capacidade adquirida por Ricardo como atacante, partiu de J. Alves, que ficou conhecido por fazer trabalhos especiais com Hernanes (que o chama de cientista), quando o atual camisa 8 da Lazio (ITA) ainda pertencia ao Tricolor.

Formado em Educação Física, Alves, que ainda aplica suas teorias revolucionárias em Hernanes, era auxiliar-técnico das categorias de base da Portuguesa, em 1999, quando viu em Ricardo características para se tornar um verdadeiro fenômeno. Mas como zagueiro.

– Na minha época, ele chutava muito bem, era como uma pedra, mas não o via como um craque. Mas tinha força, era grande, pensei: vou fazer dele o melhor zagueiro do planeta. Em uma semana, treinou, foi um espetáculo, que gosto que deu vê-lo de zagueiro. Saía driblando, fazia gol. É a posição desse cara, pensei – argumentou J. Alves, defendendo-se.

A atitude pegou Ricardo, na época com 19 anos, de surpresa. Ele havia sido indicado para um teste na Portuguesa após ser dispensado do Corinthians e foi aprovado. Hoje, revela que o fato quase o impediu de construir sua trajetória na Lusa, pela qual foi ídolo de 2000 a 2002.

– Não fiquei feliz e no fim do treino disse que, se fosse para ficar como zagueiro, preferia ser dispensado. Mas acabei permanecendo como atacante mesmo – confirmou Ricardo Oliveira, ao LANCENET!.

A atitude causou um desconforto entre os dois, que não tiveram mais contato. J. Alves deixou a Lusa e continuou seu itinerário por outros clubes, como o próprio São Paulo, onde conheceu Hernanes. Já Ricardo construiu sua trajetória no futebol mundial como atacante e o sonho de Alves de torná-lo o maior zagueiro do planeta ficou apenas na imaginação.

Assim, o futebol perdeu um zagueiro. Melhor para as torcidas que foram agraciadas com os gols do atacante Ricardo Oliveira.


Bate-Bola com Ricardo Oliveira em entrevista exclusiva ao LANCENET!

O que lembra deste episódio de atuar como zagueiro?
O treinador mesmo era o Silva, que hoje trabalha em Cotia com a base do São Paulo. O Carlão, da Portuguesa, conseguiu um teste para mim e até ajustar o contrato, fiz um segundo treino. Ele me chamou e disse: "Vou lhe colocar de zagueiro porque você tem postura, é alto, veloz e acho que será um dos melhores zagueiros no mundo". Descobri que tinha um projeto para formar um time com 11 zagueiros.

Qual foi sua reação?
Estranhei, mas fui lá e treinei bem, queria ficar. Ele me disse: "Está vendo, não disse que lhe transformaria em um dos melhores zagueiros do mundo?".

E depois disso?
Não fiquei feliz com a situação, queria ser atacante e comuniquei que iria sair se não mudasse. Aí, acabaram me mantendo como atacante mesmo. Depois subi para o profissional e vieram me entrevistar com o J. Alves para saber o que eu achava sobre esse projeto e ele pediu para eu não falar nada.

O 'cientista'

Realizou trabalho nas categorias de base de todos os grandes clubes de São Paulo até conhecer Hernanes em 2005. De lá para cá, realiza trabalhos especiais com o jogador da Lazio (ITA) e da Seleção Brasileira, ressaltando a importância do conhecimento teórico e científico no futebol. Ficou mais conhecido este ano, quando Hernanes, ainda no São Paulo, revelou que contava com a ajuda de Alves para melhorar seu desempenho.

Com a palavra - J. Alves

Hoje, não precisa mais jogar na zaga
Já faz muito tempo e o ajudei na parte emocional, acho que não ficou mágoa. Nunca mais nos encontramos pessoalmente, não tivemos uma grande amizade na Portuguesa, mas na verdade eu queria formar um time com 11 atacantes. Torço por ele, acho que agora não precisa mais jogar de zagueiro, não. Já o aprovo na parte ofensiva. Mas se tivesse insistido, ele seria o melhor do mundo.