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Rogério Ceni: 'Acho que é possível estender meu contrato'

LANCENET! realiza entrevista exclusiva com goleiro, que completa 20 anos no clube na terça-feira

Rogério Ceni completa 20 anos de São Paulo na terça-feira (Foto: EFE)

Bodas de Porcelana. Assim se chama a comemoração de um casamento que completa 20 anos de duração. Como o de Rogério Ceni e o São Paulo Futebol Clube. Nesta entrevista exclusiva ao LANCENET! , na segunda parte do especial de homenagem às duas décadas do capitão no Sampa, ele relata, com detalhes, como virou mito. O camisa 1 também já repensa a aposentadoria e pode não encerrar a carreira em 2012, como previsto.
Leia abaixo:

LANCENET!: Você completará 20 anos de clube. O que lembra de 7 de setembro de 1990?
Rogério Ceni:Após perder dois treinos, um por cancelamento e outro porque me perdi na cidade, em 7 de setembro fui fazer testes, mas não imaginava que iria entrar. Era coletivo do profissional, e eu chegando para teste. Zetti em um gol e Gilmar no outro. Eu e Marcos Bonequini fora.


LNET!: Qual o maior impacto que sentiu ao chegar em São Paulo?
RC:Foi quando passei ao lado do estádio. Não acreditava que existia um desse tamanho. O Morumbi era imenso, uma coisa que eu dizia: “Nossa Senhora”. Aquilo era impressionante. Hoje, para mim, passo lá todo dia e parece que diminuiu, ficou de um tamanho normal (risos). Ou nós que crescemos.

LNET!: Quando deixou Sinop, pensava que faria história pelo Sampa?
RC: Em princípio, meu teste seria no Bragantino. Depois, no Santos. Antes de viajar, o diretor do Sinop conseguiu falar com José Acras, conselheiro do São Paulo, e me conseguiu um teste. Antes de sair, deram o telefone de José Acras. Chegamos, ligamos e marcamos o teste.

LNET!: Onde você morou no começo?
RC: No Morumbi, de 1990 a maio de 1994. Eles me pressionaram para desocupar o quarto para os juniores, estava no profissional há dois anos. Não queria mudar porque a Sandra (esposa) morava no Morumbi (bairro), ficava longe e Telê Santana exigia que às 23h, 23h30, tinha de estar no CT. Era ruim atravessar a cidade após o treino, cansado. Juntei dinheiro e mudei.

LNET!: No Morumbi, quem foram seus companheiros de quarto?
RC: Tive mais de um, porque fiquei três anos e pouco. Eram 12 quartos, mais ou menos, para dois. Pérsio foi quem mais tempo ficou comigo, mas nem subiu para o profissional. Hoje, sei que está no interior.

LNET!: Como era Telê Santana?
RC: Tinha dias em que ele começava a contar histórias, era mais extrovertido. Normalmente, quando você estava mais sozinho. Quando era um grupo maior, era reservado. No treino era sério, cobrava, mas gostava de mim. Falava: “Vocês têm de bater na bola igual a esse menino.” Ele gostava que deitasse o corpo. Os caras chutavam de qualquer jeito, e ele dizia: “Mostra como é que é.” Eu ficava sem jeito, porque mandava mostrar. Não nas que cobrava, mas quando estava no gol. Ele falava: “Olha como chega rápido na bola.”

LNET!: Como conquistou a vaga no banco no Mundial de 1993?
RC: Em 1993, Marcos Bonequini queria jogar, mas o Zetti estava superbem, não tinha como. Então, ele foi para o Novorizontino. Porque o São Paulo contratou Gilberto e ele seria terceiro goleiro. Mas Gilberto não foi bem e fiquei como segundo. Marcos voltou e Jair (então treinador de goleiros) queria que ele viajasse. Mas Telê disse que não, que queria que fosse eu. Dali em diante, nunca mais saí. Ou jogava quando Zetti ia para a Seleção, ou ficava no banco.

LNET!: Quase foi para o Goiás em 96...
RC: Já estava há quatro anos na reserva e meu contrato acabava em dezembro. Eles me ligaram para saber se queria jogar o Brasileirão. E foi um ano em que o Goiás fez um grande time. Pagariam três vezes mais do que ganhava. Falei com (o ex-presidente) Fernando Casal de Rey, expliquei que não queria ficar enchendo o saco para jogar. Ele disse que Zetti estava com 31 anos, tinha 70 e tantos por cento do passe, e que achava que era o último ano dele, pois iam dar o passe de presente por serviços prestados. Renovamos por dois anos, me aumentaram um pouco o salário e apostei. De fato, em dezembro, deram o passe, Zetti foi para o Santos e virei titular.

LNET!: Em 2001, após ser afastado, você cogitou defender o Cruzeiro?
RC: Aquela vez, por causa da briga, estava tudo praticamente certo. André iria para o São Paulo na troca, eles dariam um dinheiro, só que os clubes tinham bom relacionamento, o presidente (Paulo Amaral) disse para não negociar e eles voltaram atrás. Não era meu desejo sair, na verdade queria ficar, mas ficou uma situação desagradável. Na época foi algo terrível para mim.

LNET!: Agora, seu contrato vai até o fim de 2012. Pensa em estendê-lo?
RC: Acho que é possível, mas não consigo vislumbrar isso hoje. Quando chegar mais próximo do fim, daí, sim, vou conseguir responder se será encerrado o contrato em 2012 ou se vamos continuar. Não consigo ter isso fixo na minha cabeça.

LNET!: Se parar, o que vai fazer?
RC: Ainda não sei, no nosso país não dá para pensar dois anos para a frente. Acredito que algo ligado ao esporte, à minha profissão, pela experiência que adquiri nesses 20 anos e mais os que virão até o término do contrato. Algo ligado a isso.

LNET!: Qual foi o dia mais especial?
RC: Muitos. O dia em que fui aprovado, quando subi definitivamente para o profissional, infelizmente, foi com a morte do Alexandre, mas foi um dia especial. Mas tem o primeiro título paulista, em 1998, o gol na final em 2000, o Mundial e a Libertadores que nós ganhamos em 2005, o tricampeonato brasileiro. Cada dia conta-se uma história. Meu primeiro jogo como titular no profissional, a estreia na Espanha. Falar um é difícil, mas o principal talvez seja 8 de setembro de 1990, quando soube que passei no teste. Foi o mais feliz e deu continuidade para que todos acontecessem.

LNET!: Após 20 anos, o que representa o Tricolor para Rogério Ceni?
RC: Tenho como a extensão da minha vida. É, no mínimo, 50% do que a vida significa para mim. Não é indiferente ganhar e perder só pelo resultado, é pela instituição. Defendo como se fosse meu. Jogo, vejo o dia a dia, as mudanças, e sinto como se fosse a minha empresa. Não é, lógico que não, mas me apego de uma maneira que vejo as coisas como um torcedor, um atleta ou na posição do dirigente. Muitas vezes o cara é cobrado, mas fez o correto, só não deu certo. Em outras, você vê que o atleta podia se dedicar mais. Assim como vê que o torcedor podia estar mais presente. Vejo todos os modos como isso funciona.

LNET!: O seu interesse pelo clube é diferente de qualquer outro...
RC: Tenho um interesse muito grande, e não é interesse político. Não quero o lugar de ninguém fora das quatro linhas. Quando acabar, vou continuar tendo sempre admiração e carinho enorme pelo clube, porque minha história está aqui. Até hoje, com 37 anos, tento entrar no CT todo dia e fazer o meu melhor, me dedicar ao máximo. Cuido como se fosse meu. Vejo coisas às vezes acontecerem, desde não apagar a luz até a comida que é jogada fora, que cuido como se fosse meu. Porque é um costume, é mania, é como se fosse minha casa. É a minha casa. Passo muitos dias do ano aqui, não é o lado do torcedor apaixonado, mas de dar valor àquilo que você tem e oferece conforto para você.

LNET!: Como vê o São Paulo hoje?
RC: É um momento bem mais difícil do que nos últimos anos. Chegamos a uma semifinal de Libertadores e não conseguimos a vaga do Mundial e nem a conquista. Isso causa um abalo psicológico momentâneo, que faz com que você não atinja seus objetivos, não tenha força e concentração para os resultados no Brasileiro. É um ano diferente, estamos longe dos líderes, com pouca possibilidade de alcançá-los. Temos de fazer tudo para sair dessa situação incômoda, subir ao máximo, e o objetivo tem de ser viver o próximo jogo. Para que, neste campeonato, possamos vislumbrar a vaga na Libertadores. Assim, em 2011, vamos poder buscar o que perdemos em 2010.

LNET!: Por que, chorando, você lamentou a eliminação na Liberta?
RC: Eu achava que era muito possível chegar e, pela posição no Brasileiro, poderia ser a última chance de ser campeão do mundo. Ainda tenho na cabeça buscar outra Libertadores e, depois, disputar o Mundial. Este ano não foi possível e, no Brasileiro, não estamos em uma posição que possamos dizer que vamos jogar a Libertadores do ano que vem. Então, fiquei triste. Gostaria de ter, foi a mais próxima dos últimos anos depois da de 2006 (perdeu a final para o Internacional), era vencer a semifinal e estaríamos no Mundial. É uma série de coisas que passam, você lembra das dificuldades, então foi muito triste. Todos deram a vida naquele jogo, mas não foi ali que perdemos, mas no Beira-Rio. Apesar do resultado aceitável, não conseguimos fazer o que precisava. Chegamos próximos, então, quando isso acontece, a alegria de chegar, como foi a do Internacional, é grande, mas a tristeza também é muito mais profunda para quem é derrotado.

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