Brigas, vandalismo e mortes. Nos últimos anos, esses tem sidos os termos usados para noticiar fatos envolvendo as torcidas organizadas em São Paulo.

No entanto, essa imagem negativa é o principal foco a ser revertido por uma ação que poderá sair do papel na noite desta quinta-feira. Uma reunião na sede da Mancha Verde, maior organizada do Palmeiras, com a participação de 18 torcidas irá determinar os últimos detalhes para criação de uma Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo.

Diminuir a violência nos estádios e garantir uma representatividade das torcidas organizadas do Estado perante o Governo Federal e o Ministério dos Esportes estão entre os principais objetivos das instituições, que ainda pretendem apresentar uma proposta para formar uma torcida organizada única para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

- Sempre que tem alguma audiência pública lá em Brasília, não sabemos quem vai nos representar. Além disso, precisamos diminuir a violência nos estádios, porque sempre que alguém morre nós somos chamados de bandidos, de facção, quando na verdade não somos nada disso - afirmou Claudimir Antônio, o "Tatinho", diretor da Gaviões da Fiel, torcida do Corinthians.

Baseados em exemplos como os do Rio de Janeiro, que já possui uma associação das torcidas desde 1980, e de Minas Gerais, que está em fase final da criação da entidade, as torcidas organizadas de São Paulo olham para a questão da violência como algo pior do que as brigas em dias de clássicos e trocas de xingamentos em páginas da internet.

- A existencia da própria torcida está em jogo, e essa iniciativa visa acabar com isso. Se a violência continuar, as torcidas organizadas acabarão - cravou André Azevedo, presidente da são-paulina Dragões da Real.

Porém, antes mesmo de criar a associação, alguns desentendimentos já surgiram. A maior torcida organizada do Santos, conhecida como Torcida Jovem, já afirmou que não pretende participar da nova entidade, por confiar mais em seu próprio estatuto do que no que provavelmente será criado pela federação.

- Temos estatuto próprio, sabemos tudo o que precisamos fazer com nossos associados, somos organizados internamente e quando precisamos de alguma representação, nós mesmos a fazemos. Não precisamos de federação para nos representar - disse Denis de Almeida, diretor da torcida do Peixe.

Apesar de muitos considerarem a ideia de unir as torcidas organizadas nova, outras entidades já foram criadas anteriormente com o propósito de diminuir a violência e aumentar o elo entre elas. Em São Paulo, a MTO (Movimento das Torcidas Organizadas), também criada nos anos 80, hoje é praticamente extinta depois de vários desentendimentos entre as torcidas. Na internet também há um portal chamado "Torcidas Organizadas Brasil", onde qualquer torcedor pode cadastrar sua entidade.

A ideia de realmente 'organizar' as torcidas agrada também a Federação Paulista de Futebol e a Promotoria Pública de São Paulo. À reportagem do LANCE!, o presidente da FPF afirmou que 'tudo o que for feito com o intuito de promover a paz tem o aval da Federação'. Já o promotor Paulo Castilho acredita que a formar uma associação de torcidas 'não mudará muita coisa, pois a violência nos estádios já está diminuindo graças a outras medidas tomadas pelo Estado'.

De qualquer forma, o simples fato de existir uma iniciativa pela paz já merece os aplausos da sociedade e, principalmente, de quem frequenta os estádios paulistas.

Torcidas organizadas envolvidas

Palmeiras: Mancha Verde e TUP
Corinthians: Gaviões da Fiel, Estopim da Fiel, Camisa 12 e Pavilhão 9
São Paulo: Independente, Dragões da Real e Falange Tricolor
Santo André: Fúria Andreense e Esquadrão Andreense
Guarani: Furia Independente e Guerreiros da Tribo
Botafogo-SP: Fiel Força Tricolor
Ponte Preta: Torcida Jovem Amor Maior e Serponte
Portuguesa: Leões da Fabulosa
São Caetano: Comando Azul

COM A PALAVRA - Paulo Castilho, Promotor Público do Estado de São Paulo

A criação de uma associação de torcidas organizadas não vai melhorar nem piorar nada. Ao meu ver isso é uma maneira de se organizarem e cooperarem com as medidas que estão sendo tomadas com os orgãos competentes. A diminuição da violência já é nítida nos estádios, basta relembrarmos, que o Corinthians foi eliminado da Libertadores em 1991 e 2006 no Pacaembu e o jogo não acabou por falta de segurança, e este anos os caras aplaudiram. Torcida organizada tem gente boa e gente ruim, basta prendermos os ruins e incluirmos socialmente os bons. Se olharmos há dois anos atrás, era impossível eles se reunirem, e hoje fazem isso por conta própria. É um avanço.


BATE-BOLA - Marco Polo Del Nero - Presidente da Federação Paulista de Futebol

LANCENET!: As torcidas organizadas estão se unindo para criar uma federação. O que o senhor acha a respeito?
Marco Polo Del Nero: Se é para acabar com a violência, eu acho válido. Quando as pessoas se unem para fazer o bem, é sempre favorável.

L!: A Federação Paulista de Futebol daria apoio para essa entidade das torcidas?
MP: A FPF trata com os clubes, e não com as torcidas. O nosso relacionamento com elas é apenas um acompanhamento, para que nada de grave aconteça. Mas se o trabalho deles for empenhado em acabar com a violência, podemos apoiar sim.

L!: Acredita mesmo que a violência nos estádios pode acabar?
MP: O primeiro passo é expulsar os maus elementos. Existe muitas pessoas de bem dentro das torcidas organizadas, mas também tem muito bandido e que precisa ir para a cadeia.

L!: A FPF recentemente cogitou uma lei que puniria os clubes com qualquer atitude dos seus torcedores. Isso pode ter interferido nessa reação das organizadas?
MP: Não acredito. Estamos trabalhando para que uma lei penal realmente forte entre na legislação do futebol, mas acho que não é uma resposta direta das torcidas. A lei está sendo analisada e provavelmente tenha que ser seguida no Paulistão do ano que vem.