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Juvenal avisa: 'Craques são raros; Falta jogador para decidir'

Em entrevista exclusiva ao LANCENET!, presidente do São Paulo abre o jogo sobre o time

O tom de voz grave, o cheiro do cachimbo apagado há segundos, a camisa aberta no segundo botão, a temperatura do ar condicionado congelante e a postura de comando em sua cadeira, praticamente um trono.

Entrar na sala da presidência no Morumbi dá a impressão de uma volta no tempo, passeio pelo reduto de Don Corleone, protagonista de “O Poderoso Chefão”.

Na última sexta-feira, Juvenal Juvêncio recebeu a reportagem do LANCENET! no início da noite. Em meio a reuniões sobre o Morumbi e visitas ao CT de Cotia, o dirigente de raras entrevistas encontrou tempo para lamentar a falta de craques no país. E no São Paulo.

NÃO PERCA TAMBÉM A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA COM JUVENAL JUVÊNCIO

Craques como Luís Fabiano, de quem Juvenal guarda com carinho uma camisa 9 da Seleção Brasileira enquadrada e com uma dedicatória do seu ex-atacante.

– Que falta não faz um Luís Fabiano, um Careca, não? – indagou.

Mesmo sem eles, o presidente revela otimismo em relação ao futuro tricolor. Além do time, Juvenal falou sobre a Copa-2014, a questão dos garotos “fugitivos” e explicou até a origem de seu linguajar refinado.

Confira a íntegra da entrevista:

LANCENET!: A batalha para que o Morumbi receba a abertura da Copa-2014 é sua maior como dirigente?
JUVENAL JUVÊNCIO: É gigantesca, mas não se encerrou. Não é o que falta, é o que você já venceu. Quando começamos estava zero, progrediu muito. Isso será debatido até dezembro de 2012. Vamos gastar no Morumbi 10% do total da obra de mobilidade no entorno. O governo do Estado tem projeção de metrô, Avenida Perimetral, canalização de córrego. dois piscinões, área de televisões, estacionamentos, desapropriações. Tudo custa mais de três bilhões de reais. Sem isso, não tem Copa. Temos crédito junto ao BNDES para a reformulação. Se fosse para as oitavas de final, estava pronto, mas queremos mais. A Copa é um grande evento e temos tradição nisso. A Madonna colocou 210 mil pessoas aqui em três dias. U2, Beyoncé, nomes desse porte vieram, e ninguém se queixa do gramado ou de acidentes. Falar do Morumbi virou modismo, mas enfrentamos e temos dado passos fortes.

L!: Não é prejudicial o clima de animosidade entre clube e Fifa?
J.J.: Nunca houve animosidade. As conversas são boas. Não sabemos fazer mágica, há dificuldades que temos de examinar. Há especialistas da Alemanha aqui, gente versada nesse processo. Não temos expertise de cobertura de estádio, mas eles têm. Importamos a mão-de-obra. É muito difícil, trabalhoso, há exigências, detalhes. Mas nós brigamos.

L!: O senhor consegue se imaginar no Morumbi pronto? Imagino que seria uma satisfação indescritível.
J.J.: Ainda é abstrato, embora as fotos mostrem uma visão simpática. É uma obra importante. Não existe nada mais chique em São Paulo do que o Morumbi. Está próximo do aeroporto, das Marginais, do Rodoanel, das redes hoteleira e hospitalar, dos centro de compras, cultural e de lazer, do metrô. A Avenida Perimetral vai tirar 40% do trânsito da Giovanni Gronchi, que é intransitável durante a manhã, um desastre em dias de shows. Isso é o legado. Na segunda-feira não tem jogo, acabou a Copa, mas haverá o legado para a população.

L!: O senhor não acha que os títulos dos últimos anos tornaram o São Paulo uma equipe fria demais, até desinteressada?
J.J.: Isso é dos homens. Mas o São Paulo tem cultura de pensar em títulos, espírito vencedor. Com a mesmice, as pessoas se acomodam e, contra isso, fiz a renovação. Trouxe 12 jogadores porque precisava capacitar a equipe e fazer uma ebulição, trazer sangue novo, diferente. Nosso produto é a emoção, precisamos tê-la sempre quente. Não começamos bem, mas temos um time competitivo, não tenho dúvidas. Sempre tenho cuidado com o que falo. A competição é um risco, mas temos de ter competência para competir. Acredito fortemente que temos e vai encorpar.

L!: Este elenco é o melhor, ou um dos melhores que o senhor já montou?
J.J.: É difícil falar, mas acho muito bom. Na prática ainda não jogou. Estávamos sem jogadores importantes como Rodrigo Souto, Alex Silva, Fernandinho. Estou esperançoso.

L!: E se o elenco é tão bom, a responsabilidade do técnico aumenta?
J.J.: Aumenta, não é? Sou partidário disso. Porque se você tem um time competitivo, tem de ter resultado. Senão dá uma dicotomia.

L!: O Ricardo Gomes é o homem correto para administrar esse elenco?
J.J.: Ele é muito correto, trabalhador, sério, aplicado, responsável, sem bravatas. Acredito que vai ter êxito.

L!: O senhor não acha que o São Paulo tem muitos bons jogadores, mas ninguém capaz de decidir? Não falta o craque?
J.J.: O craque é cada vez mais raro, embora estejam aparecendo jovens importantes. Falta um jogador que decide. Que falta não faz um Careca, um Luís Fabiano? Isso é importante, senão você fica capenga. Bem atrás, bem no meio, mas não conclui. Não é fácil achar 11 jogadores de alto nível, mas acredito muito no time.

L!: Em alguns jogos, o São Paulo aparenta falta de vontade no Paulista. O clube quer ganhar essa competição?
J.J.: Sim! A Libertadores traz mais coisas, público, ressonância, a expectativa, os anseios e a glória são maiores. Isso é um despertar natural no atleta, mas não há menoscabo em relação às outras. Há um aquecimento natural quando a importância da partida é maior. Tivemos nove dias de pré-temporada, isso não existe. Estamos fazendo no Paulista. Então põe um, outro, tira, poupa aquele. Isso leva o espectador a achar que há uma dissídia. Esse é o momento de experimentar, a disputa é importante, mas tem uma temperatura menor. O público é uma resposta disso, é baixo em todos os times.

L!: O senhor tem mais um ano de mandato. Há alguém no São Paulo capaz de substituí-lo?
J.J.: Claro que tem, mas o presidente não fala sobre isso (risos). Aqui falamos de futebol, Copa do Mundo, de política não falamos, atrapalha.

L!: É um hábito seu usar termos raros da língua portuguesa, que muita gente não entende. Qual o motivo disso?
J.J.: Vem da leitura, eu gosto, e é tão espontâneo. Quando vi, já falei. Mas percebo que entendem. Falei da carta de alforria e ouvi depois. É corretíssimo. As entrevistas sobre futebol são de uma mesmice bruta, não? Não sei como o cara em casa consegue assistir. "Perdemos porque não foi bem, a grama tava alta, choveu muito, o árbitro errou, vamos mudar no segundo tempo...". Em todos os jogos tem isso? Se vendemos emoção, qual eu transmito com essa palavra? No ano passado, perguntaram por que não ganhamos o campeonato. "Porque fomos incompetentes!". No dia seguinte o Belluzzo me telefonou: "Juvenal, você falou que o time é incompetente?". "Falei". Ele me deu parabéns (risos).

L!: O senhor lê muito? Que tipo de leitura mais aprecia?
J.J.: É um hábito cotidiano. E sai uma palavra ou outra espontaneamente, às vezes até me arrependo, mas também não prejudica, não é? Eu estudo, anoto o porquê das coisas. Leio sobre coisas ligadas ao mundo político. Na última quinta-feira, no Supremo, teve uma decisão do José Roberto Arruda. Ao vivo, todos os ministros falando. Deixei de assistir a uma partida de futebol para ver os ministros. Entendeu? Essa preocupação é importante (risos).

L!: Não se arrependeu da mudança de canal?
J.J.: Não. Até porque eu torcia contra o time que estava ganhando (risos).

L!: Quando dizem que é folclórico, o senhor se ofende ou fica satisfeito?
J.J.: Não me acho folclórico. Quando falo algumas coisas fora do diapasão, as pessoas dizem. Se compararmos com os que já tivemos, eu não sou. Não sei como se interpreta o folclore, tem sentidos negativo e positivo. O maior que tivemos foi o Vicente Matheus, que era fantástico. Outro era o Mendonça Falcão. Eles tinham um linguajar inculto nas letras, mas na inteligência eram muito sábios. Eu me lembro que houve reunião do Clube dos 13 no Rio de Janeiro e o Dualib era diretor de futebol do Corinthians, estava no lugar do Matheus enquanto ele não chegava. Quem presidia a sessão era o Márcio Braga, do Flamengo. Era um negócio contra a Globo e precisava de unanimidade. Chega o Matheus e o Márcio diz que faltava só o voto dele. O Matheus perguntou: "Como votou o Juvenal?". "O Juvenal votou sim", respondeu o Braga. "Se ele votou sim, vou votar não. Se é bom para ele, não é para mim" (risos). E votou não! Enfim, se falarem que sou folclórico, vejo pelo lado positivo.

L!: O senhor sempre vai aos jogos com uma camisa xadrez de gola vermelha. É uma superstição?
J.J.: Poderia ser superstição, é um hábito também. Dizem que o hábito faz o monge. Gostei dessa linhagem e uso.

L!: E não muda mesmo quando perde.
J.J.: Você tem de acreditar, senão... (risos). Isso surgiu e você se habitua com esse processo.

L!: Quantas camisas iguais o senhor tem?
J.J.: Tenho bastante, são todas parecidas, não pode mudar muito. Não sei quantas (risos).

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