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Há 32 anos, Chicão erguia a taça no Mineirão

A caminhada do Tricolor rumo à conquista do Brasileiro de 1977, com um time inesquecível

"O São Paulo é zebra". Assim dizia a crítica especializada em 1977. Ao término do Campeonato Paulista daquele ano se classificara em terceiro lugar. O bicampeão Internacional, de Falcão; o Atlético Mineiro, de Cerezo; o Fluminense, de Rivellino e o Flamengo, de Zico, eram mais cotados ao título. Mas o Tricolor se preparou bem para o certame. Trouxe do sul o também - e então - bicampeão Rubens Minelli, o capitão da seleção uruguaia Darío Pereyra e manteve a boa base que fora campeã paulista de 1975.

A competição seria longa. Fases e mais fases para se decidir o campeão. Na primeira, o São Paulo se classificara em segundo lugar, com dezoito pontos, em um grupo de dez times (ficou dois pontos atrás do Palmeiras). Na fase seguinte, novamente se classificou no segundo posto, com sete pontos ganhos (desta vez atrás do Corinthians, também com dois pontos de diferença) e com uma sonora goleada no então favorito Internacional: 4 a 1 em Porto Alegre - dois gols de Serginho, um de Zé Sérgio e um de Teodoro.

Na terceira fase, a vaga para a semifinal foi conquistada com o primeiro lugar do grupo, 11 pontos: uma boa campanha de três vitórias, um empate e somente uma derrota - para o Botafogo de Ribeirão Preto, 0 x 1. Naquela partida, descontrolado por ter um gol seu anulado, Serginho deu um pontapé no bandeirinha. Julgado e punido, ficaria fora das finais do campeonato.

Então, nas semifinais, um confronto inesperado: São Paulo x Operário de Campo Grande (MS). Primeira partida, Morumbi lotado (recorde de público do São Paulo FC até hoje em jogos pelo Campeonato Brasileiro: 109.584 pessoas), pressão e jogo apertado até os 32 minutos do segundo tempo, quando Serginho inaugurou o placar. A porteira se abriu e a partida encerrou-se com 3 a 0 a favor do Tricolor (Neca e Serginho, novamente, completaram o placar). Com a boa vantagem acumulada, a derrota fora de casa por 1 a 0 no jogo de volta não atrapalhou. Era a hora da grande final...
5 de março de 1978, Mineirão fervendo com 102.974 pessoas. O Atlético Mineiro decidia o título em sua casa, jogo único, pelo fato de ter melhor campanha acumulada nas fases anteriores.

Se o São Paulo não teria Serginho, enfim julgado e suspenso pelo STJD, o Galo não teria também Dadá Maravilha, pelo mesmo motivo. Estratagemas psicológicos foram adotados de lado a lado, com ameaças de efeitos suspensivos para os dois jogadores. Rubens Minelli então ousou, mandou que Serginho fosse à Belo Horizonte com o restante do grupo, de última hora, e que até aparecesse nos vestiários trajado com o uniforme de jogo. Foi aquele alvoroço! A imprensa mineira achou que o Tricolor havia de fato conseguido o efeito suspensivo.

Desconcentrados pelo diz-que-me-diz dos bastidores, os mineiros subiram ao campo e foram surpreendidos pela melhor postura dos jogadores tricolores, que tiveram as melhores chances de gol durante o jogo: Viana acertou o travessão durante o tempo regulamentar e o zagueiro Márcio salvou em cima da linha um cabeceio de Chicão, na prorrogação.

Pênaltis. Primeiro Getúlio, ex-jogador do Atlético, passos lentos e firmes, toque forte na bola e a defesa de João Leite. A decisão não começara bem para o São Paulo...

O Estádio do Mineirão parecia explodir naquela tarde, princípio de noite. Ziza colocou o time de Minas na frente. Peres depois empatou, 1 a 1. Alves recolocou, a seguir, o Atlético na frente. Veio então Chicão. O Deus da Raça Tricolor, Chicão. Correu e... escorregou. João Leite defendeu novamente. O título parecia escapar...

Se Joãozinho Paulista marcasse o seu, com 3 a 1, seria muito difícil recuperar. Waldir Peres então se destacou, herói, quando o adversário ajeitava a bola para a cobrança: deixou sua meta e foi ter-se com ele, tirou a bola do lugar e o provocou. Pressionado, Joãozinho mandou a bola nas alturas... Antenor, na seqüência, acertou o gol para o Tricolor.

Era a vez, então, de Toninho Cerezo bater, apoiado por mais de cem mil vozes aos gritos de "Galô, Galô, Galô". Lá foi então Waldir Peres, novamente, aprontar com o jogador mineiro... Veio o chute, chute alto, acima de Waldir, acima do travessão: para fora!

Bezerra, são-paulino, marcou o seu. Que virada! Que reviravolta na decisão. Agora Márcio, aquele que salvara o galo durante a partida, teria a responsabilidade de manter o Atlético vivo na disputa. Waldir Peres então pegou pesado: deu um tapinha nas nádegas do zagueiro como se o eximisse da responsabilidade - o que obviamente teve o efeito contrário. Cobrança executada e... Novamente, bola lá em cima, fora do gol!

O São Paulo assim se sagrava Campeão Brasileiro pela primeira vez. A primeira de muitas do maior campeão da competição. Um bom retrospecto para aquele que largara como zebra... Uma zebra tricolor.

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