Ricardo Gomes afirmou mais de uma vez que Miranda tem “cabeça boa”, que não seria afetado pela ausência na lista de convocados por Dunga para os últimos amistosos da Seleção.

A três meses do início da Copa, porém, o zagueiro sentiu o golpe. O que antes era notado apenas internamente está cada vez mais nítido dentro de campo.

Miranda parece se desligar em momentos importantes durante os jogos. Desatento, por exemplo, levou um drible debaixo das pernas no gol de Moreno que resultou na derrota para o Once Caldas, semana passada, pela Libertadores.

Na quarta-feira, contra o Oeste, o zagueiro cometeu falta desnecessária que lhe rendeu o terceiro cartão amarelo, desfalcando o time diante da Ponte Preta, domingo, em Campinas.

A queda de rendimento, porém, não começou neste ano. Na reta final do Brasileiro, Miranda já havia falhado em jogos decisivos, como na derrota para o Botafogo, quando foi facilmente driblado por Jobson.

A verdade é que ele sentiu que poderia ficar fora da lista da Copa em novembro do ano passado, depois dos amistosos contra Inglaterra e Omã. Dunga chamou apenas jogadores que atuam na Europa, e Thiago Silva ocupou o seu lugar.

O zagueiro do Milan fez dois bons jogos no Catar, sendo novamente lembrando pelo treinador para o último amistoso antes da convocação final, contra a Irlanda, na terça-feira. Ele não entrou em campo, mas parece ter conquistado um lugar ao lado de Lúcio, Juan e Luisão.

Expulsão

Outro detalhe que joga contra é que, diferentemente de Thiago Silva, Miranda não deixou boa impressão na última chance que teve. O são-paulino acabou expulso no jogo contra a Venezuela, na despedida do Brasil nas Eliminatórias em outubro, em Campo Grande.

“Trabalho visando ajudar o meu clube e também para ir à Copa do Mundo. Fiquei de fora da última lista, mas vou continuar trabalhando para estar lá. Se eu não for será uma frustração muito grande”, admitiu.

Mais do que frustração, Miranda poderá ver todo o planejamento que traçou para sua carreira ir para o espaço. No começo deste ano, ele recusou uma transferência para o Wolfsburg, da Alemanha. A proposta de US$ 20 milhões (R$ 35 milhões) foi aceita pelo presidente Juvenal Juvêncio, mas o jogador não quis ir.

O motivo vai além do nascimento do seu segundo filho em janeiro. O zagueiro confiava plenamente que estaria na Copa do Mundo. A intenção era conseguir uma transferência mais vantajosa na janela de agosto.

“Ele está investindo na carreira dele”, chegou a dizer, à época, o superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha.

Agora, com poucas chances de ir à África do Sul – só entraria na lista de Dunga se algum dos zagueiros se machucar – está ficando cada vez mais claro que Miranda errou ao não deixar o Brasil no começo do ano. E isso está interferindo em seu rendimento dentro de campo. (M.A.)