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Richarlyson manda recado aos que o perseguem: 'Não vou mudar meu jeito'

No São Paulo desde 2005 e prestes a completar 200 jogos, volante diz que é feliz e que, se o clube quiser, renova o contrato por mais cinco anos

Richarlyson Barbosa Felisbino é o jogador que todo treinador gostaria de ter. Atua em várias posições. Meio-campista de origem, também sabe jogar como lateral-esquerdo e zagueiro. Dentro de campo, impressiona pela capacidade física e a raça. Com calma, soube cavar seu espaço no meio-campo do São Paulo, onde também conquistou diversos títulos.


Neste sábado, na partida contra o Rio Claro, que será realizada no estádio do Morumbi, pela terceira rodada do Campeonato Paulista, o camisa 20 completará a marca de 200 jogos com a camisa do time do Morumbi. Para ser ter uma ideia do que isso representa, no elenco atual do Tricolor, formado por 35 jogadores, apenas Rogério Ceni, no clube desde 1990, tem mais jogos disputados do que Richarlyson. E isso, sem dúvida, é motivo de muito orgulho para o jogador que, aos 27 anos, é elogiado por grande parte da torcida. Mas é exatamente a minoria que às vezes incomoda esse potiguar de Natal.

Richarlyson faz o que tem vontade. Extrovertido, abusa das caretas e das comemorações diferenciadas quando marca os gols. E é exatamente "essa atitude" que faz o jogador ser perseguido pela minoria das arquibancadas, formada basicamente por integrantes das torcidas organizadas. A relação é tão estremecida entre as partes que, mesmo quando o jogador balança as redes, esses torcedores não comemoram.


Mas Felisbino, ou Ricky para os íntimos, deixa claro que não vai mudar o seu estilo. Na última quinta-feira, durante 35 minutos, concedeu entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM e deixou claro que, se depender dele, chegará aos 300 jogos. Com ou sem a perseguição dos torcedores. Confira a entrevista abaixo.
GLOBOESPORTE.COM - Nos tempos de hoje, um atleta completar 200 jogos com a camisa de um clube não é um fato normal. O que significa isso para você?



Richarlyson - É gratificante demais. Sinto-me lisonjeado de estar alcançando essa marca em um clube como o São Paulo, que a cada ano reformula o elenco. Chegam e saem jogadores, e eu continuo aqui. Primeiro vim com o objetivo de me estabilizar. Esses anos passaram muito rápido, o que significa que o meu trabalho é bem-feito. Hoje adquiri um respeito dentro do São Paulo. Conquistei meu espaço.

Nesses quatro anos e meio de São Paulo, qual foi o seu melhor momento?



- Com certeza foi em 2007, quando fui eleito o melhor volante do Campeonato Brasileiro. Foi uma experiência feita pelo Muricy que deu muito certo. Lembro que era um meia e gostava de chegar ao ataque. O Muricy estava sem volantes. Josué e Mineiro tinham ido embora. Primeiro ele tentou o Souza, mas não deu certo. E foi tudo de bom para mim. Ganhei prêmios individuais que abriram caminho para defender a seleção brasileira.



E o pior momento?



- Por incrível que pareça, a volta da seleção em 2008. Eu perdi a posição no time, fiquei seis meses na reserva. O time encaixou dentro de uma formação, e o Muricy deu oportunidade para outros atletas. Para mim, foi muito difícil ter de lutar de novo para buscar a posição.



Muitos dizem que você caiu de rendimento em 2008 porque voltou deslumbrado da seleção.



- É claro que a minha responsabilidade aumentou. Mas, quando voltei, não tive mais uma seqüência de jogos. E, para piorar, a cada vez jogava numa posição. Teve partida em que comecei como zagueiro, virei lateral e acabei como volante. Não foi salto alto. Não sou mascarado. Quem me conhece sabe disso.



Considera-se polêmico?



- Não, as pessoas é que acham isso.
Então, por que é perseguido?



- Sinceramente, não sei explicar. É só ver essa última polêmica do cabelo grande. O Ronaldinho Gaúcho tem cabelo grande, o Vagner Love tem cabelo grande, o Carlinhos Paraíba, que chegou agora, tem cabelo grande. Por que comigo a polêmica é sempre maior? Eu não entendo isso. Se eu coloco uma roupa apertada ou uma calça diferente, é polêmico. Com outros, não. Mas quer saber? Isso nem me incomoda mais.

Por que acha que tem esse tratamento diferente da torcida?

- Eu queria saber. Mas aproveito e mando um aviso a quem me critica. Eu não vou mudar, não vou deixar de ser o que sou por causa de uma minoria. Não vou deixar de viver do jeito que eu gosto porque esse ou aquele não gosta. Se eu estiver feliz, o resto não vai importar. Quando surgiu a polêmica do cabelo, quando falaram que iam me bater, eu aproveitei para rezar. Sou muito apegado a Deus. Se eu estivesse cometendo alguma aberração, certamente mudaria. Mas sou feliz porque só faço coisas sadias.
Acha que aquela questão com o diretor do Palmeiras (José Cirilo Júnior, diretor que o chamou de homossexual) tem relação com as críticas que você sofre?



- Sem dúvida. Se não for 100%, tem 99% de relação.



Como terminou essa situação?



- Terminou que eu ganhei o processo. Eu não quis dinheiro, quis apenas que ele se retratasse. Depois, ele pagou cestas básicas para uma instituição de caridade. Depois, ninguém mais me encheu o saco com isso.



E você acha que ficou algum resquício do torcedor?



- Sem dúvida. E sei que não vai mudar. O Brasil é um país muito preconceituoso. E não só em termos de sexo. É de raça, de religião. Isso vai acontecer. Vou carregar isso até o fim dos meus dias no São Paulo. É uma pequena minoria que se acha no direito de se intrometer na minha vida. As pessoas passam do limite.



Não tem vontade de tomar outra atitude?



- Vou fazer o quê? Processar, eu já processei. Vou falar uma coisa que nunca falei para ninguém. Uma apresentadora de TV disse no seu programa que eu me assumi homossexual. E o que eu posso fazer? Vou mexer nisso tudo de novo? Tudo o que aconteceu com o Cyrillo vai ser falado de novo. Por isso agradeço a criação que tive. Eu sou eu e pronto.



De onde tira essa personalidade para reagir sempre? Parece que quanto mais as pessoas falam, mais você tem força.



- Se não agisse dessa maneira, não estaria mais aqui, não tenho a menor dúvida. A minha personalidade vem porque sei o que eu sou e o que eu posso fazer. É claro que, de vez em quando, bate uma pequena tristeza. Aí eu ligo para a minha mãe e para o meu pai em Bauru e fica tudo bem. Meu irmão (Alecsandro, que joga no Internacional) também é um parceiro importante nessas horas. Eles gostam de mim do jeito que eu sou.



E como faz no estádio? Como consegue ignorar as provocações?



- Você não tem noção de como isso me alimenta. É um combustível enorme. Porque sei que é uma injustiça muito grande. Desculpe o termo, mas, quando entro em campo, só penso em f... esses caras.



Não bate medo de sair na rua? Mudou algo na sua rotina?



- Pelo contrário. Faço exatamente as mesmas coisas que sempre fiz. É engraçado. Quando estou na rua ou vou viajar, sou um cara sempre bem recebido, escuto inúmeros pedidos de fotos e autógrafos. O que mostra que é uma coisa pessoal e direcionada por essa minoria. Não tem como ser hipócrita e querer ser bonzinho com essas pessoas, principalmente porque sei que elas não vão mudar de opinião independentemente do que eu fizer. É mais fácil eu sair do São Paulo do que essas pessoas refletirem. Como saiu o Kaká e como saiu o Luis Fabiano. Mas vou fazer o quê?



Quais os projetos futuros do Richarlyson?

- Com certeza, quero chegar aos 300 jogos pelo São Paulo. Estou muito feliz, totalmente adptado e num clube que me respeita e me dá todas as condições. Não sou tão deslumbrado em atuar na Europa. Aqui me sinto em casa. Já falei para o Juvenal (presidente) que se ele quiser renovar por mais cinco anos, eu renovo. Nunca recebi qualquer bronca do presidente e de qualquer membro da diretoria. E isso mostra que faço meu trabalho bem-feito.

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