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Memória E.C: Os orgulhos e as vergonhas dos são-paulinos

Confira a seguir os depoimentos de quem fez parte de dez jogos marcantes: cinco são motivos de orgulho para a torcida são-paulina, e outros cinco são vergonhosos.


Deixe seu recado nos comentários: faltou alguma partida? Quais são os jogos que orgulham e envergonham a torcida do Tricolor?


OS ORGULHOS


1º lugar: São Paulo 2 x 1 Barcelona, em 1992



Depoimento de Zetti:



“Havíamos jogado contra o Barcelona no meio do ano pelo Tereza Herrera e ganhado por 4 a 1, de virada. E esse foi o único jogo que o Telê conseguiu gravar do Barcelona. Não tínhamos mais informações. E eles praticamente não mudaram para o jogo de Tóquio. Acho que 60% do que aconteceu na Espanha aconteceu também no Japão. O Telê treinou muito para a final do Mundial, tínhamos bem definido o que cada um deveria fazer. O Barcelona tinha um toque de bola que chegava ao extremo, um meio-campo que corria muito e marcava bem, mas a jogada forte começava com o Koeman, o líbero. Ele pegava a bola do goleiro e chutava não para os atacantes, mas para a defesa tirar. Aí eles pressionavam a defesa, fazendo o abafa, dificultando a vida do adversário. O Telê pedia atenção para que ganhássemos essa segunda bola. O Barcelona fez 1 a 0 com uma bola perdida no meio-campo, em que o Stoichkov teve muita felicidade no chute de fora da área, contando também com o vento forte. A bola fez uma parábola. Mas senti o time tranquilo depois desse gol. O Muller, principalmente, fez a diferença. O Raí fez os gols, mas o nome do jogo foi o Muller. No segundo tempo, o time passou a acreditar. Era uma novidade disputar o Mundial, tudo era novo para nós. Era novidade para o São Paulo e para o Brasil, que não tinha um representante havia muito tempo. Assistimos ao Barcelona jogar no primeiro tempo, mas no segundo foi diferente. O Palhinha atuou mais adiantado, o Cafu - que foi um dos primeiros alas do Brasil - chegou mais à linha de fundo, e o Raí se movimentou muito. O gol de falta do Raí foi uma jogada muito ensaiada, mas a questão é que ele não fazia gol de falta. Foi marcar o primeiro lá em Tóquio. O Raí ficou vendo o Zubizarreta arrumar a barreira e, logo que terminou, rolou a bola por trás da barreira. O Zubizarreta não via a bola, não sabia o que estava acontecendo. Depois ainda ganhamos o Paulista. Não houve desgaste. Jogamos no sábado, ganhamos do Palmeiras por 4 a 2 e viajamos para o Japão em seguida. Tivemos uma semana para trabalhar para o Mundial. Na volta, acho que chegamos na terça-feira e jogamos no domingo (ganhando por 2 a 1). O time estava muito bem treinado e entrosado, com jogadores dispostos a conseguir os objetivos. Foi muito bacana ter feito parte dessa geração”


2º lugar: São Paulo 1 x 0 Newell’s Old Boys, em 1992


Depoimento de Palhinha:


“O São Paulo ficou muito grande a partir desse título, por todas as competições que disputou e conquistou. Até então todos viam a Libertadores como algo normal. Estava tudo bem mesmo se não vencesse. Depois, mudou tudo. A principal característica daquele time era a amizade. Até hoje nos falamos e nos encontramos. Sabíamos o que representava o São Paulo. O Raí era o principal jogador, mas todos os outros sabiam da sua função em campo. O Telê gostava que o time jogasse para frente e, antes de qualquer coisa, que jogasse bem. O Newell´s também tinha um time forte, com bons jogadores. Sofremos muita pressão na partida na Argentina e seguramos ao máximo, então acho que o 1 a 0 para eles acabou sendo lucro. Sabíamos que era possível inverter a vantagem no Morumbi, onde não cabia mais gente. Já na saída da concentração vimos a torcida, e deu agonia de chegar logo ao estádio e começar a partida. Foi um jogo bastante difícil, porque o Newell´s se fechou bem, e o gol demorou a sair. Disputa por pênaltis é sempre complicado, mas você nunca acha que vai perder depois de ter vencido nos 90 minutos. Depois do título, teve aquela invasão de campo, que foi uma coisa de louco. Mas valia tudo, porque foi um título que marcou época para o São Paulo e para o futebol brasileiro.”


3º lugar: São Paulo 1 x 0 Liverpool, em 2005



Depoimento de Cicinho (atualmente no Roma):



“Tínhamos assistido ao jogo Liverpool 3 x 0 Saprissa e ficamos muito preocupados. No jantar, o Rogério Ceni comentou que nosso time tinha jogadores baixos, como eu, Mineiro e Josué, e que teríamos essa desvantagem. A jogada aérea era um ponto forte do Liverpool. Eu particularmente não tive uma noite bem dormida, quase não preguei o olho, com frio na barriga. Comi quase uma caixa inteira de bombom. Entramos muito concentrados na partida e conseguimos o gol com o Mineiro, um jogador abençoado, com humildade e uma história de superação. O Aloísio saía muito da área, tanto para fazer bem a função do pivô como para uma jogada como essa. O time do São Paulo era muito técnico, com três zagueiros que facilitavam a vida dos laterais, dando liberdade. Depois levamos um verdadeiro sufoco. Sabíamos que seria uma partida difícil e que para muitos era impossível. A nossa vantagem era o toque, colocar a bola no chão e usar velocidade e jogadas individuais. Eles tinham mais estatura e eram mais pesados. Conseguimos usar bem essa estratégia no primeiro tempo, mas no segundo tínhamos a desvantagem da condição física, porque fazia muito frio. Usávamos até cachecol para proteger o pescoço, e eles estavam de manga curta. O Rogério Ceni fez uma partida espetacular, foi o melhor em campo.”


4º lugar: São Paulo 3 x 2 Milan, em 1993



Depoimento de Muller:


“A dificuldade das finais de 1992 e 1993 foi a mesma, mas o jogo contra o Milan foi tecnicamente inferior. Foi truncado, muito disputado. O Milan tinha Baresi, Costacurta, Maldini e Tassotti, que já atuavam juntos há muito tempo e marcavam muito bem. Esperávamos uma partida mais técnica, porque o Milan tinha grandes jogadores. O São Paulo tinha na frente eu, Palhinha, Cafu e Leonardo - ou seja, sem um centroavante fixo. Era uma equipe de muita rotatividade, com aproximação entre os jogadores. O início da partida foi complicado, porque o Milan marcou bem nosso meio-campo e nosso ataque. Eles não esperavam o nosso gol, que saiu de uma linda jogada do André Luiz, que lançou uma bola para a direita. O Cafu pegou de primeira, e o Palhinha se antecipou à defesa. O André era praticamente um estreante, tinha subido naquele ano para os profissionais. Muita gente dizia que ia tremer, e ele teve uma atuação muito boa. No segundo tempo, já não estávamos tão tensos como no primeiro. Jogamos mais soltos, mais leves, mas sem perder a concentração. Nosso jogo encaixou, tivemos mais movimentação e fomos mais ousados. Sinceramente, eu não esperava prorrogação nem pênalti. Confiava muito no São Paulo e sabia que poderia vencer nos 90 minutos. Tive a felicidade de a bola bater no meu calcanhar e ir na direção certa. Quando olhei, a bola estava quase dentro. Na comemoração, fiz aquele desabafo para o Costacurta porque cinco minutos antes eu tinha dividido um lance com ele, e meu cotovelo bateu no rosto dele. Ele não gostou, o Baresi teve que apartar. Foi um desabafo, uma coisa de momento, em que os nervos sobressaem. Estava 3 a 2, já no fim da partida… Depois, os outros jogadores do São Paulo vieram falar comigo, disseram que eu era pé-quente. A minha carreira no São Paulo foi realmente marcada por títulos, pois ganhei a maioria das decisões que disputei”


5º lugar: Guarani 3 x 3 São Paulo, em 1987



Depoimento de Pita:



“No Paulistão não fomos tão bem porque tínhamos seis jogadores na seleção brasileira disputando a Copa, e o Darío Pereyra no Uruguai. No Brasileiro, a história foi diferente. O Pepe entrou no lugar do Cilinho, que havia pedido para sair, mas o estilo não mudou. Era um time muito unido, que falava muito, e com vários jogadores de seleção. Não dava para apontar um que não tivesse nível altíssimo. Tivemos um mata-mata difícil contra América e principalmente Fluminense. Às vezes é bom passar dificuldade antes de chegar à final. O Guarani tinha duas peças principais: o João Paulo, que baseava seu jogo na força e na velocidade pelas pontas, e pelo meio o Evair, que fazia muito gol e às vezes saía da área para distribuir as jogadas. No São Paulo, não adiantava marcar só o Careca, que era o artilheiro. Havia também eu, Silas, Muller, Sidnei… Os dois times jogavam para frente, mas o nosso era mais experiente. Na prorrogação, enquanto o Guarani chutava bola para arquibancada, o São Paulo tocava a bola com calma. Você sempre espera uma final difícil, com um ou dois gols. Quando o Guarani fez o primeiro na prorrogação, pensei: ‘Mataram o jogo’. Ninguém esperava que saíssem mais gols. Hoje acho que, se tivesse mais tempo, ainda teria um gol para cada lado. No fim, já estavam tocando o hino do Guarani e colocando ‘Guarani campeão’ no placar eletrônico, quando saiu o gol do Careca”


AS VERGONHAS


1º lugar: Guarani 1 x 0 São Paulo, em 1990


Depoimento de Pupo Gimenes:


“De 1989 para 1990 houve mudança de diretoria, e a nova assumiu o cargo com caixa zero. Havia dificuldades financeiras, tanto que o primeiro pagamento foi feito por conselheiros. O time era bom, mesmo que o clube não tenha conseguido manter alguns jogadores, porque muitos outros ainda tinham contrato em vigência. Então estavam lá Raí, Zé Teodoro, Nelsinho, Gilmar… O campeonato estava dividido em dois grupos, um com os mais fortes e outro com os mais fracos. No primeiro turno, quando eu era auxiliar do Carlos Alberto Silva, o São Paulo enfrentou os times do grupo dos mais fracos. E, não sei por que, o São Paulo não foi bem nesta fase. Acho que foi porque não tínhamos um homem de área, então deixamos a desejar nas finalizações. Precisávamos somar pontos no segundo turno, quando enfrentaríamos os mais fortes. O Carlos Alberto Silva já havia saído, e o presidente me chamou e disse que eu ficaria com o time. Sou um funcionário do clube, então aceitei a incumbência. Esse jogo contra o Guarani foi disputado e equilibrado. No fim o Nelsinho deu um rapa no ponta-direita do Guarani, e o Boschillia marcou pênalti. Na repescagem, foi contratado o Pablo Forlán como ténico. Eu continuei no clube, como técnico dos aspirantes. E havia jogadores muito bons subindo, como Antônio Carlos, Cafu e Elivélton. Mais tarde eles se juntaram à base que já existia nos profissionais e, sob o comando do Telê Santana, conquistaram vários títulos”


2º lugar: São Paulo 2 x 7 Portuguesa, em 1998


Depoimento de Carlos Miguel:



“O começo do jogo foi parelho. A Portuguesa fez 2 a 0 por méritos, e nós sentimos o golpe. A partir dali, deu tudo certo para eles, até um gol do meio-campo. Foi um jogo atípico. Não sei se aconteceria de novo se jogássemos logo depois. Depois de sofrer o segundo gol, o São Paulo ficou apático e não conseguia segurar a bola. A Portuguesa percebeu isso e passou a trocar passes, tirando proveito das nossas falhas de marcação. Com 4 a 0, eu torcia para o primeiro tempo terminar logo, pois o moral dos jogadores estava baixo. Ninguém tinha confiança para tentar uma jogada. O melhor era irmos logo para o vestiário e conversar sobre o que aconteceu.  Além das cobranças pelos erros, falamos que devíamos fazer de conta que o jogo estava 0 a 0, impondo nossa maneira de jogar. E deu certo, pois criamos chances. Com a expulsão do Alexandre, ficou ainda mais difícil. E aí o que você faz? Sai para o jogo e corre o risco de levar mais gols? Acho que a tendência natural é você sair, mesmo querendo ficar na defesa. E os gols da Portuguesa foram naturais, em contra-ataques. O São Paulo vinha com moral bom no ano, então ninguém acreditou naquele resultado - nem nós, jogadores. A goleada mostrou que não éramos tudo aquilo que falavam de nós. Se éramos rotulados como o melhor time, ali ficou claro que não era bem assim. A derrota abriu nosso olho. E tivemos muitas mudanças no segundo semestre, por lesão ou suspensão, então ficamos sem repetir escalação.”


3º lugar: Corinthians 5 x 0 São Paulo, em 1996


Depoimento de Valdir:


“O São Paulo tinha um time muito bom, mas não dava para competir com o Palmeiras. Quando entrava em campo, todos já sabiam que ia ganhar. Era uma seleção, com uma base já montada. O São Paulo havia feito várias negociações e contratou jogadores que tinham ido bem em seus clubes e que já tinham nome: eu no Vasco, Sorlei no Fluminense, Sandoval no Guarani, o Almir vinha do futebol japonês… Foi um time que não chegou a criar uma característica própria, porque atuou pouco junto. Não chegou a ser um time brilhante, mas fez boas campanhas naquele ano. Foi bem no Campeonato Paulista (ficou em terceiro), ficou a um ponto de se classificar no Campeonato Brasileiro e ganhou a Copa dos Campeões Mundiais. O jogo contra o Corinthians é uma dessas situações que acontecem, foi um apagão geral. Depois o São Paulo fez uma negociação com o Cruzeiro (trocando cinco jogadores por Serginho e Belletti), mas acho que não foi por causa de algum resultado. O São Paulo sempre fez muitas negociações, tanto em quantidade quanto em valor. Não mexeu com o grupo, que via esse tipo de negociação como algo natural. Estamos acostumados a isso”


4º lugar: Vasco 7 x 1 São Paulo, em 2001






Depoimento de Adriano (atualmente presidente do Oeste):


“Eu vinha de uma semana com gripe e tive muita febre. Até me obrigaram a sair do apartamento e ficar internado no CT do São Paulo, tomando remédio, sopa e injeção todo dia, de domingo a domingo. Não treinei em nenhum desses dias, nem no rachão da véspera. Fui para o jogo contra o Vasco como titular porque o Nelsinho (Batista) tinha muita confiança em mim e porque eu vinha numa fase muito boa. E eu tive que sair logo no começo (após a expulsão de Ceni), acabou a graça cedo. Para mim, para o Nelsinho e para os outros jogadores, foi uma escolha natural me tirar para colocar o goleiro (Alencar). O Nelsinho deve ter pensado: ‘Ele já não é muito de marcar e não aguentaria os 90 minutos’. Mas a torcida não entendeu. Quando chegamos ao aeroporto em São Paulo, caíram de pau no Nelsinho, questionando a substituição. Ele explicou a minha situação, mas, no calor da revolta, nem tinha jeito. Já seria difícil perder o Rogério Ceni, que é um líder e uma referência para a equipe. Ainda perdemos o meio-campo, com a minha saída, e o Alencar entrou despreparado, falhando em dois ou três gols. Jogando no campo do Vasco, foi duro de aguentar. O time não tinha condições, foi massacrado os 90 minutos pelo Vasco, que ainda perdeu outras chances. No intervalo, o Nelsinho tentou reverter a situação e acabou abrindo o time. O França ficava sozinho na frente, não conseguia fazer nada. Aquele foi um jogo atípico, tanto que na sequência demonstramos força, fazendo 3 a 0 no Atlético-MG em Minas e nos classificando. O Alencar teve uma semana difícil. Procuramos dar suporte a ele, pedindo calma e dizendo que faz parte da vida de um profissional, mas é normal o jogador ficar muito abatido. Sente a cobrança da torcida e dorme mal a semana inteira.”


5º lugar: São Paulo 1 x 4 São Caetano, em 2007



Depoimento de Jadílson:


“Não acho que tenha atrapalhado o fato de o São Paulo jogar a Libertadores ao mesmo tempo. Estávamos concentrados para a partida contra o São Caetano, tanto que começamos bem, criamos várias oportunidades e fizemos 1 a 0. O São Caetano empatou no fim do primeiro tempo e virou no segundo. Depois que fez o segundo gol, o São Paulo não conseguiu mais jogar. Não mudamos a maneira de jogar por termos a vantagem do empate e entramos para ganhar. O São Caetano fez por merecer a vitória e conseguiu um resultado justo. Não dá para tirar os méritos do adversário, que tinha um bom toque de bola e muita rapidez no ataque. Tinha um bom conjunto também. Infelizmente as coisas não saíram como a gente esperava. É melhor passar a borracha e apagar esse jogo, porque foi triste sair do Campeonato Paulista como forte candidato ao título.”


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