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Ricky: 'É normal o ser humano se acomodar'

Em entrevista ao LNET!, jogador explica má fase em 2008 e muito mais

Quando envolveu-se em uma polêmica com um dirigente do Palmeiras em 2007, Richarlyson brilhou em campo. Em 2008, sem essa “pressão”, teve um ano para ser esquecido. Agora, em 2009, criticado por parte da torcida, o volante usa esse combustível outra vez a seu favor. Ele diz que isso é coincidência, mas não há atleta no elenco do São Paulo que cresceu tanto em 2009 como o camisa 20.

Sabe por quê? Porque deixou a acomodação de lado, como ele mesmo resumiu. De possível moeda de troca, o jogador virou outra vez referência no meio-de-campo, voltou a atuar na posição que o consagrou (volante) em 2007 e tem sido o principal marcador na arrancada são-paulina – a equipe é a 3 colocada.

Seleção Brasileira, tetra do Brasileirão, permanecer e jogar com o irmão no São Paulo, agradar o torcedor humilde... Tudo isso é objetivo de Ricky, como contou na entrevista que concedeu nesta quarta-feira ao LANCENET!.


LANCENET!:Em 2007 você foi um dos destaques do time. Foi mal em 2008, mas se recuperou em 2009. Como explicar este sobe e desce?
Richarlyson: Primeiro que 2007 foi um ano maravilhoso, que devo muito ao Muricy por ter me descoberto como volante, quando me deu a oportunidade de trabalhar em uma posição que era bem servida com o Mineiro e o Josué. Ele descobriu não só a mim, mas o Hernanes também. Foram muitas conquistas e depois veio o objetivo maior, que foi ser convocado para a Seleção Brasileira. Chegou 2008 e não tivemos a mesma felicidade. É uma coisa que acontece com o ser humano quando você alcança alguma coisa maior. Você acaba acomodando, pensa que não precisa dar um pique a mais onde tem de dar, que não precisa dar um passo simples onde tem de dar, e foi o que ocorreu comigo.

LNET!:Parecia que você inventava com a bola nos pés. Não fazia mais o simples como agora ou em 2007...
R: Mas não achava que eu estava inventando, até que tomei uma bronca do meu pai, um puxão de orelha da minha mãe, e, quando eu acordei, aí já era tarde, a equipe estava bem e eles deram conta do recado. O Jean, o Hugo, o próprio Jorge Wagner. Sabemos que é assim, quando você não está bem, principalmente no São Paulo, acaba sendo passado para trás. Foi um aprendizado. Vi que quando você alcança um objetivo, tem de ter outro maior para não ser passado para trás. Acabei não participando muito da campanha de 2008, mas ainda atuei no último jogo (contra o Goiás, em Brasília) e pude comemorar com os companheiros. Enquanto os jogadores que foram mais ativos no campeonato tiveram férias, eu fiz uma pré-temporada. Sabia que tinha de dar o melhor de mim, e sabia que o Muricy iria avaliar isso no Paulistão.

LNET!:Teve ajuda de quem para mudar e outra vez voltar a jogar bem?
R: Tive da minha família e adotei a simplicidade. Quando as coisas não estão dando certo, você tem de fazer o simples. Aí pensei: qual a primeira função do volante? Marcar! Então, vamos marcar. Depois, dar o passe e não errar. Depois disso, tenho de ajudar o ataque, enfiar uma bola, que é mais a função do meia. Fiz tudo isso, degrau por degrau, como em 2007, para os outros verem que o Richarlyson estava querendo e voltando. Eu tenho três qualidades fortes: a marcação, o físico e a vontade. Se eu tiver com as três coisas dentro de campo, dificilmente eu vou jogar mal. Agora, se eu der um passe, vou melhorar, se eu fizer um gol, vou ganhar mais confiança. Coisas que não são da minha posição, mas que ajudam na partida.


LNET!:Você ficou mais de um ano sem fazer gol. E ele saiu no jogo seguinte que o Muricy saiu, na derrota para o Corinthians. Só você teve motivos para comemorar aquele dia?
R: Estava me cobrando que os gols não vinham saindo. Aí o Muricy saiu, o Milton Cruz me colocou e eu fiz o gol. E é aquilo, todo mundo estava triste, já que a derrota foi para o Corinthians (3 a 1). Mas eu fiz o gol, então estava feliz. Triste por ter perdido, mas feliz por ter reencontrado o gol e ter jogado em uma posição que eu gosto. É onde encho o saco do adversário. É tão gostoso quando assisto a um programa de televisão e vejo as declarações do Ricardo Gomes dizendo que vai ser difícil suprir minha ausência, que pode encontrar um jogador parecido, mas igual não. É importante para a confiança, para o meu ego, me ajuda para trabalhar. Ter a confiança do treinador é bem importante.


LNET!:E a possibilidade de ser tetracampeão, como analisa isso?
R: É complicado falar, sonho com isso, no começo do ano eu tracei alguns objetivos. E um deles era ser tetracampeão. Porque é muito difícil um jogador chegar a isso. Então, você fica sonhando com isso. Posso entrar para História do futebol brasileiro, mundial, e isso é legal. Mas também penso, será que eu mereço? Mas dá uma motivação maior, e vou buscar até o fim este título.


LNET!:Joga melhor quando tem algum problema fora de campo?
R: Se estou com problema de relacionamento, familiar, com a torcida, ou fora de campo, isso nunca vai refletir no jogo. Vou estar ali concentrado no meu trabalho, e acabou. Acho que foi mera coincidência, até porque hoje é a minoria da torcida (que critica), de uma forma banal no meu ponto de vista.


LNET!:Você se incomoda quando falam da sua vida pessoal?
R: Eu só acho estranho, porque a mídia esportiva tem de falar do trabalho esportivo, dentro de campo, agora se fosse uma revista, ou jornal de celebridades, eu falaria sem problemas. Entra em um ouvido e sai pelo outro. Nunca tive pressão de diretor, de presidente. Nunca pediram para eu mudar nada. Quando cheguei, cortei o cabelo porque estava feio, ridículo. Eu fui e cortei. Ninguém me pressionou, cheguei e falei que estava feio. Tanto é que eu estou deixando crescer de novo, aí estão falando que está ridículo, mas quem tem de gostar sou eu. Nem minha mãe tem de falar. Nunca tive pressão por isso. E é por isso que tenho uma coisa gostosa do São Paulo, que é minha casa. Porque eles deixam eu fazer as coisas que eu gosto, não o que eles querem. Padrão eu sigo, lógico, mas o padrão profissional, o mais importante.


LNET!:Como é a relação com o grupo?
R: Eles até brincam que, depois do Rogério, a faixa (capitão) tinha de vir para mim. Sou o mais antigo depois dele. Mas eu não tenho vaidade, só quero liderar a equipe em campo, porque tenho quatro anos de São Paulo. Deixo isso para o Miranda, o Ceni. Se vier para mim, não tem problema algum. É curioso que eu passei três dias sem treinar por causa dos cartões amarelos (ganhou folga), e disseram que o ambiente ficou mais triste. E eu tiro sarro mesmo, dou risada, chego brincando, brinco se o cara está se vestindo mal. E minha palavra é bom-humor, comigo é alegria. Quando estou de mal, fico em casa. Se você está bem, você não tem rugas e a vida se alonga.
Richarlyson fez 189 partidas pelo São Paulo até hoje, em quatro anos de clube. Ele chegou em 2005, durante a disputa da Libertadores. Não pôde atuar, porque no mesmo ano já havia disputado jogos do torneio pelo Santo André.

LNET!:Quais são as coisas que irritam você no futebol?
R: O antiprofissionalismo é algo que me irrita. Um jogo atrás, não vou citar qual porque é anti-ético contra o árbitro, mas achei que ele tivesse algo contra mim. Eu falei pra ele: “não vou falar mais com o senhor porque sei que tem algo pessoal comigo.” Em jogos passados, foi quem mais me expulsou.
Nota da redação: Richarlyson foi expulso cinco vezes em seus quatro anos de São Paulo e nenhum árbitro o expulsou mais de uma vez. O último cartão vermelho que recebeu foi no empate sem gols com o Palmeiras, no primeiro turno do Nacional, no Palestra.

LNET!:O que projeta para o seu futuro? Pretende ter algum negócio?
R: Já pensei em abrir uma academia de ginástica, com uma clínica de estética junto. Mas mudei de ideia. Agora penso em ter uma loja no shopping, estilo franquia. Ou um restaurante também. Mas é apenas uma ideia. Meu irmão Alecsandro me ajuda em negócios imobiliários. Ele entende mais desse assunto. Então, quando aparece uma coisa boa, ele me liga, pega o dinheiro e acerta tudo.

Confira outras revelações de Richarlyson:

1) Alecsandro
“Ele está em uma ótima fase, marcando gols e o Ricardo Gomes já até me perguntou sobre ele. Quem sabe ele não joga com a gente em 2010. Mas, para isso, precisa parar de fazer gol lá no Inter (risos). Já avisei ele: ‘se ele não for o artilheiro do Brasileiro este ano, nem precisa falar comigo em dezembro.’ Mesmo com Ronaldo no Brasil, sou mais o Alecsandro.”

2) Muricy Ramalho
“Devo muito ao Muricy, por tudo aquilo que ele fez por mim em 2007, por ter me descoberto como volante ao lado do Hernanes. Quando ele foi embora, na conversa com o elenco, ele disse que uma das felicidades dele era ver que eu tinha resgatado o meu futebol, ele estava feliz por ter me dado essa chance. Nós sempre tivemos uma conversa branda, com momentos bons e alguns ruins.”

4) Torcida
“Para a minoria que me ofende, nem ligo, porque é uma coisa banal. Eu me animo com aquele torcedor que guarda o dinheiro suado, que no fim do mês pode até fazer de falta, mas ele faz tudo para ir ao estádio. Não importa se está sol ou chuva, mas ele vibra, chora, quer ver o time vencer, grita... Isso sim é motivamente. Quando estou cansado, porque a rotina cansa, eu penso muito nisso.”

3) Juvenal Juvêncio
“Costumo dizer que, o dia que o Juvenal (Juvêncio, presidente) morrer, eu não sei o que vai ser da minha vida. Tenho ele como um pai. Ele é um cara sincero, um baita profissional, conhece muito de futebol. Fico muito feliz em escutar as palestras dele, com as palavras difíceis que ele costuma falar. Ele é impressionante, sem querer puxar o saco do presidente. Ele e a diretoria me acolheram aqui.”

5) Estilo
“Cada um se veste do jeito que quiser. Mas tem uns jogadores aqui no elenco que são bem cafonas, outros se vestem bem e outros acham que se vestem bem (risos). Tem muita gente que acha que só porque usa uma roupa de marca acha que se veste bem. E não é assim. Mas isso é uma coisa muito legal aqui, porque a gente brinca muito um com o outro, a relação com o elenco é ótima.”

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