Poucos jogadores podem se dar ao luxo de encerrar a carreira aos 32 anos e enxergar um futuro sem depender do que herdaram com as chuteiras nos pés. Paulo Roberto Jamelli Júnior não chegou a fazer história no mundo da bola com as camisas São Paulo, Santos e Real Zaragoza, da Espanha, mas aproveitou o tempo e as ocasiões para enriquecer o seu currículo.

Desligado da gerência de futebol do Coritiba por vontade própria, no fim de março, o ex-meia-atacante de 35 anos também dos japoneses Kashiwa Reisol e Shimizu S-Pulse, Corinthians e Barueri quer continuar ligado ao meio que o despontou. Seja como dirigente ou técnico.

– Sempre procurei me especializar ao mesmo tempo em que estivesse jogando. Prestava atenção no que os dirigentes e treinadores faziam, reparava em suas posturas. Mesmo quando estava na Espanha, fiz curso de psicologia e gerenciamento de pessoas. Quando parei minha de jogar futebol num domingo no Barueri (em 2007), comecei já na segunda-feira como dirigente. Estou me especializando e reciclando. Tive propostas e sondagens para virar treinador, mas ainda não me decidi. A certeza é que irei continuar no futebol – disse, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.

Copinha com o “expressinho”

Apesar de ter o nome muito ligado ao Santos, em 1995, Jamelli apareceu de vez em 1993. Com a camisa do São Paulo, clube que esteve ligado desde jovem, ele não cansou de levantar canecos, principalmente nas divisões de base. Ainda que tenha participado do grupo campeão da Taça Libertadores, Supercopa e Recopa de 1993, o título que teve um gostinho mais especial foi o da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em janeiro do mesmo ano. Na final, vitória histórica por 4 a 3 contra o Corinthians, com direito a três gols do meia-atacante. O "expressinho" do Tricolor Paulista contava ainda com Rogério Ceni, André Luiz e Juninho Paulista.

– Aquele jogo foi o que mais me marcou, até porque naquela época eu era apenas mais um tentando espaço no time júnior. Foi ali, contra o Corinthians, num Pacaembu lotado, com todo o Brasil assistindo, que eu me garanti entre os profissionais. Cheguei ao São Paulo com 12 anos e saí com 20, e ganhei tudo, desde o infantil. Foi uma escola ser dirigido pelo Telê Santana Você com 16, 17 anos conviver com Raí, Muller, Zetti e outros tantos foi a maior lição que aprendi no futebol – afirmou.


Sem muitas oportunidades no Tricolor Paulista, Jamelli foi contratado pelo Peixe, onde ficou marcado na campanha que levou o time ao vice-campeonato no Brasileirão de 1995. Apesar da polêmica envolvendo a arbitragem de Márcio Rezende de Freitas, o jogador não guarda mágoas e relembra uma época de vacas ainda mais magras.

– O Santos estava numa fase muito ruim, e desde a época do Serginho Chulapa, nos anos 80, não tinha feito uma campanha relevante. Foi ali que surgiu o Santos forte no final da década de 90, que também apresentou Diego e Robinho. O time do Giovanni e companhia em 95 foi o grande salto para o Santos voltar a ser grande. Andava na rua e até mesmo corintianos, são-paulinos e palmeirenses nos paravam, pelo futebol ofensivo que jogávamos – contou, sem ressentimentos com a perda do título.

Seleção brasileira com Zagallo

A ótima fase o levou à seleção brasileira de Zagallo, em 1996. Com a amarelinha, Jamelli disputou o Pré-Olímpico na Argentina, a Copa Ouro, nos Estados Unidos, onde participou da campanha que ficou com o vice-campeonato, e alguns amistosos.

– Não tem ninguém que não fique arrepiado vestindo a camisa amarelinha e cantando o hino do Brasil – declarou.

Pouco depois, uma proposta para jogar na Espanha mudou sua vida. Era o Real Zaragoza, onde atuou durante 1998 e 2003.

– Posso falar que foi a melhor fase da minha carreira. Joguei seis anos lá, e ainda tenho muito vínculo com o clube, conheço muita gente, alguns negócios. Fui campeão (Copa do Rei 2000/2001), fiz sucesso, e o pessoal até hoje lembra da minha passagem por lá. Ainda penso em um dia voltar para lá com minha família – disse.

Passagem modesta no Timão

Uma proposta do Corinthians o trouxe de volta ao Brasil. A situação que Jamelli passou é semelhante com a do volante Edu, que chega ao Timão após títulos e saída de jogadores. O meia, no entanto, não conseguiu criar um grande vínculo com o clube, e saiu no ano seguinte, após o 15º lugar no Brasileirão.

– Acho que individualmente fui bem no Corinthians, mas eu cheguei durante a janela, com o timaço campeão paulista desmontado. Tinha Liédson, Jorge Wágner, Fábio Luciano, Kléber, Gil... Era um sonho realizado, já que praticamente toda a minha família é corintiana, nascida e criada na zona leste, mas como estava vendo que as coisas não estavam boas por lá, aceitei nova proposta do Japão – afirmou.

Com muitas lesões nos joelhos, e entrando numa fase de mais clubes no currículo e menos jogos, Jamelli optou por encerrar a carreira aos 32 anos. Algo que não se arrepende justamente por ter se preparado para viver sem as mordomias de um jogador de futebol.

– Ganhamos dinheiro, valores altos, mas que aos 34, 35 anos tudo acaba. Tem que se preparar. Vários amigos passaram dificuldades quando pararam, mas deram a volta por cima. E essa é uma das minhas maiores preocupações: procurar gerenciar a carreira durante a minha vida de atleta. Ter um pé de meia sabendo que um salário de um médico ou engenheiro seja muito menor – contou.