Que a Taça Libertadores é uma competição internacional, todo mundo sabe. O que apenas poucos percebem é que ela tem fronteiras mais sutis do que se supunha. Das 32 equipes que participam da fase de grupos, apenas três têm seu elenco composto exclusivamente por atletas nascidos em seu país de origem: os brasileiros São Paulo e Sport e mexicano Chivas Guadalajara.


No Tricolor Paulista, o superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha garante que é apenas uma coincidência. O histórico do clube confirma: em 2005, o uruguaio Lugano participou da equipe que conquistou o título e, no ano passado, o lateral equatoriano Reasco só não foi mais ativo na campanha são-paulina devido às lesões que sofreu.


- Quando é para trazer alguém de fora, buscamos jogadores de seleção, que venham de fato a acrescentar, já que a legislação trabalhista impõe empecilhos nesses casos. Nessa temporada não trouxemos ninguém porque não houve conveniência dos negócios. Os mercados estão abertos, mas não vimos grandes revelações, salvo algumas exceções. Se for para trazer por trazer, ficamos com os nossos – afirmou o dirigente, por telefone.
Na equipe de Pernambuco, líder do Grupo 1 com duas vitórias em dois jogos, a ausência de estrangeiros não foi apenas coincidência, mas também fruto de negociações frustradas. No início da temporada, o clube chegou a cogitar a contratação do atacante paraguaio Roberto Ovelar e do meio-campo chileno Daniel González.


O jogador paraguaio acabou indo para o México, enquanto o chileno, que chegou a prometer um gol em cima do Colo Colo, seu ex-clube e adversário de estreia do Leão no torneio, acabou sendo contratado pelo arquirrival Náutico.



- Não termos ninguém de fora no elenco é mera casualidade. Seria bonito dizer que estamos valorizando o atleta nacional, mas foi por acaso mesmo. Com a crise, muitos jogadores vão voltar a atuar no Brasil, e os times terão menos necessidade de buscar reforços fora - afirmou Milton Bivar, presidente do Sport.


É importante lembrar que Hamilton tem dupla nacionalidade. O volante, que se naturalizou em 2003, já defendeu a seleção de Togo, mas não chegou a ser convocado para disputar a última Copa do Mundo.



Nacionalismo mexicano


O caso mais peculiar é o do Chivas Guadalajara, do México. O time, apesar de ter tido um belga entre seus fundadores, é avesso à contratação de estrangeiros. No site oficial do clube, o nacionalismo é estampado como um de seus principais valores.



Na contra-mão, o Colo Colo, do Chile, tem o maior número de atletas 'importados'. Os argentinos Cristian Muñoz, Lucas Barrios, César Alberto Carranza, os paraguaios Rodrigo Riquelme, Nelson Cabrera, José Domingo Salcedo e o colombiano Macnelly Torres atuam no atual campeão do Torneio Clausura.
O Grêmio é a equipe brasileira com o maior número de estrangeiros. Os argentinos Maximiliano López e Herrera e o uruguaio Sério Orteman estão à disposição do técnico Celso Roth. No Cruzeiro, o argentino Sorín é ídolo da torcida. No Palmeiras, o colombiano Pablo Armero e o paraguaio José María Ortigoza dão o toque internacional ao elenco.


A Argentina é o país que mais tem jogadores atuando em outras equipes que disputam a Libertadores: 48. O Brasil, por sua vez, tem dez atletas inscritos na competição por times de outras nacionalidades. O Guaraní, do Paraguai, tem dois no elenco: o volante Willian Schuster e o atacante Negreiros.