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As torneiras de Rosario

A cidade onde qualquer veneração é lei

POR LEO LEPRI

É o mais puro fanatismo isso que percorre a tubulação do sistema de abastecimento da cidade de Rosario. Porque não existe outra explicação para os fenômenos que acontecem por lá. A água que consomem e com a qual se banham os moradores da cidade, localizada a pouco mais de 300 quilômetros da capital Buenos Aires, possui a capacidade única de transformar quem a bebe no mais convicto dos extremistas. Por isso, a escolha por um dos lados recusa qualquer sacrifício menor que alguns palmos de pele onde estampar a indelével marca da paixão.



Porque o rosarino é, antes de tudo, um obsessivo.

Jonathan Gómez, ex-jogador do São Paulo, que chegou e saiu com a rapidez de quem procura comprar um sofá em um açougue, é mais uma comprovação científica da parcela de adoração que compõe o H2O daquelas torneiras. Gómez corre pela vida exibindo um trabalhado C.A.R.C. na perna, pouca coisa acima do joelho esquerdo (mas ainda não encontrou o sofá). Antes dele, Patón Bauza, sem tatuagem mas com sentimento, explicou ao são-paulino que em Rosario o único time possível é o que carrega o nome da própria cidade. Assim era como pensava um tal Ernesto, que acabou mais conhecido no simples Che. Alberto Granado, companheiro de viagens e cúmplice de tantas histórias com Guevara, assegurou que o revolucionário era torcedor do Central.

Entre as agulhas dos estúdios de tatuagens, Gómez não é o único jogador em marcar a paixão. Di María também traz no corpo a fidelidade ao Central e à bandeira argentina (logo abaixo de um palhaço de caráter duvidoso). No mesmo desenho, o escudo e o Monumento a la Bandera, uma das atrações turísticas da cidade que inspirou o general Belgrano a conceber o maior símbolo pátrio argentino. Perdido entre algum rascunho no corpo de Lavezzi, o sujeito que for atento encontrará o símbolo sagrado.

Claro que o outro lado também reúne os seus na calçada. Éver Banega exibe orgulhoso o escudo do Newell’s na panturrilha da perna direita. Preferiu nunca esconder o clube pelo qual torce e, sempre que o meião permite, deixa o recado mais evidente. Messi, por enquanto, apenas colou um adesivo do clube na garrafa térmica para o seu mate. Brian Sarmiento, destaque no campeonato anterior, não tem tatuagem do time, mas não é dos que passam vontade. Quando ainda era jogador do Banfield, ano passado, foi para arquibancada alentar o Newell’s na partida contra o maior rival.

Há quem jure que EL LOCO só é LOCO porque é rosarino. E alguém nega? A imagem de Bielsa carregado pela torcida, corpo ainda efervescente e campeão, continua palpável para qualquer leproso que se diz de buena fé.

E se o amigo achou pouco até aqui, pois então saiba que se trata de uma loucura que já não respeita nem a casa da avó ou a escolinha das crianças. Porque quando as coisas iam mal lá pelos lados do Parque, era a Sra. Rodríguez, avó de Maxi, quem se queixava do portão que sempre aparecia pichado com juras nada amistosas ao netinho (quando não sobravam algumas balas). Como violência pouca até parece bobagem, assim que o zagueiro Pinola começou a negociar sua transferência para o River Plate, foi o muro da escola de seus filhos que recebeu todo desabafo irracional. E nem vamos entrar aqui no mérito dos banderazos e toda loucura desatada das camisas de força antes de cada clássico rosarino.

Nas cidades que vivem às turras entre o venoso e o arterial, cada um obedecendo sua cor, somente a tubulação do sistema de abastecimento de Rosario é capaz de tornar jogador quem nasceu para ser torcedor.

E vice-versa também.

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