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[SPFC.Net] Categorias de base - Gabiel Barros


Categorias de Base

Após a era Guardiola, a importância da categoria de base na formação de um clube vencedor voltou a ser amplamente discutida no cenário futebolístico. Com um time composto, em sua grande maioria, por jogadores formados no próprio Barcelona, o técnico catalão conseguiu a proeza de ganhar nada menos que 14 títulos de 19 disputados, e se tornar a referência futebolística mundial. Em vista disso, vários clubes, almejando conseguir o mesmo êxito do clube azulgraná, ou pelo menos um êxito parecido, começaram a investir massivamente na formação de seus jogadores.

Essa proposta é extremamente válida e louvável. O clube não gasta uma enorme quantia de dinheiro em contratações, o jogador “prata-da-casa” cria uma maior identificação com o clube e torcida, assimila melhor a filosofia de jogo da equipe. Na teoria, esse projeto é maravilhoso. Porém, na prática, nem sempre as coisas vão tão bem assim. E porque não vão? Por um conjunto de fatores, de personagens, de situações. Não há um só culpado, um único vilão. Contudo, como não gosto de ficar em cima do muro, gosto de debater os problemas apresentados em meus textos abertamente, sem hipocrisia, sem sofisma, sem meias palavras, listarei os dois maiores problemas que, a meu ver, mais prejudicam a implantação de uma categoria de base “a la Barcelona” aqui no Brasil: os empresários e a formação defasada que os clubes brasileiros oferecem aos atletas.

Empresários

Nem todos os empresários são incompetentes, desonestos. Há uma pequena parcela, bem pequena mesmo, que se salva, que se preocupa com a carreira do seu cliente, que não vê seu atleta como uma fábrica de dinheiro. Contudo, a grande maioria não dá a mínima para o lado humano, futebolístico do jogador que agencia. Visam somente o lucro.

É claro que o jogador deve se preocupar com o seu lado financeiro, visto que sua carreira é curta e, depois que pendurar as chuteiras, provavelmente vai viver do dinheiro que conseguiu juntar do período em que jogava bola. Após se aposentar, dificilmente o jogador de futebol conseguirá outro emprego, pois provavelmente não investiu na sua formação profissional por estar se dedicando a carreira futebolística. Por isso, a preocupação com o lado financeiro é válida, mas tal preocupação deve vir aliada ao interesse esportivo.

O jogador, caso queira se consagrar, fazer história num clube, ser reconhecido, idolatrado, deve pensar somente em ganhar títulos, marcar gols, fazer jogadas plásticas. Ele nunca deve se burocratizar, achar que não precisa melhorar. Deve sempre estar insatisfeito consigo mesmo, sempre pensando em ganhar mais títulos, a nível pessoal e de equipe. Sua cabeça deve se focar exclusivamente no FUTEBOL. O dinheiro deve ser pensado como consequência, como algo a posteriori. Caso contrário, o atleta corre grande risco de jogar sua carreira fora. Ele ganha dinheiro, e só. Fica rico, mas não alcança a satisfação pessoal. E quem é o responsável de fazer com que o jogador mantenha-se focado somente no lado futebolístico e não deixe que o lado financeiro o atrapalhe? A pessoa que gerencia sua carreira, ou seja, seu empresário.

Esse é o papel esperado deles. Contudo, o que temos visto desses profissionais, principalmente aqui no Brasil, é justamente o contrário: em vez de fazerem o jogador focar no lado esportivo, fazem com que foque no lado financeiro.

O resultado disso é vários boleiros, que poderiam se tornar grandes craques, tornando-se jogadores medíocres. Em vez de aconselhar o seu agenciado a ir para um time onde poderia desenvolver o seu futebol, esses empresários gananciosos fazem com que seus atletas vão parar em times da Arábia ou da Rússia, mercados marginais onde ganharão rios de dinheiro, mas jogarão seus potenciais fora e não passaram da mediocridade. Outro conselho bem comum que esses empresários pilantras costumam dar aos seus atletas é iniciar um processo de “fritura” com o clube: ir à mídia e, visando um melhora contratual, dizer que se sente infeliz, desvalorizado com o tratamento que lhe é dispensado. Algumas vezes isso dá certo, como deu certo para o Cristiano Roanldo durante sua passagem no Manchester United, ou dá errado, como deu errado para o ganso no Santos.

Temos inúmeros exemplos de vários jogadores brasileiros que poderiam ter se tornado grandes craques, ter feito história na seleção e em seus clubes, mas por ouvir esses empresários pilantras, tornaram-se jogadores medianos, burocráticos. Exemplo: Anderson (ex-Grêmio), Nilmar (ex-Internacional), Breno (ex-São Paulo), Alexandre Pato (ex-Internacional), Ilsinho (ex-Palmeiras e São Paulo), Ricardo Oliveira (ex-Portuguesa, Santos, São Paulo) etc.

Nas categorias de base, a influência nociva desses empresários é ainda maior. Muitos garotos, que sequer ganharam um título de grande expressão, que ainda não são ninguém no futebol, por ouvir esses profissionais canalhas, acham que nem precisam mais jogar, acham que precisam ter um contrato milionário, além da capacidade financeira do clube. Quem perde com isso somos nós espectadores, que em vez de vermos grandes craques atuando, vemos é um bando de jogadores mercenários, “pernas”, mimados por empresários, que não jogam porra nenhuma mas acham que são um Falcão, um Gérson, um Clodoaldo, um Zico da vida.



Formação defasada

“O Brasil é o país dos Neguebas.” Com essa frase, Tostão, o centro-avante do Brasil na Copa de 70, sintetiza bem o atual quadro futebolístico brasileiro: jogadores que correm, correm, correm, e mais nada. Quando precisam carregar bola, dar um drible, tocar em profundidade, fazer lançamentos, chutar para o gol, não dão conta, não sabem.

Desde cedo os clubes brasileiros priorizam a parte física em detrimento da parte técnica e tática. Visando preparar o atleta para um futebol dito competitivo, aguerrido, pegado, os treinadores das categorias de base das equipes brasileiras focalizam, nos treinamentos, atividades de força muscular, velocidade, potência, resistência (aeróbia e anaeróbia) e flexibilidade. Exercícios, como toque e domínio de bola, chute ao gol, posicionamento tático ficam relegadas a segundo plano.

Não que eu seja contra os treinos físicos. Pelo contrário, acho-os extremamente importante e fundamental para a formação do atleta. Contudo, ele deve vir aliado com a parte técnica e tática. O futebolista deve possuir preparo para percorrer grandes distâncias, já que o futebol atual é bem mais corrido. Porém, ele não deve saber somente correr, como um maratonista, mas carregar a bola, correr com inteligência. O jogador deve ter um chute forte, e para isso a atividade de força muscular é extremamente importante. Contudo, ele deve saber bater na bola, posicionar o seu pé de apoio, senão, de que valerá o seu chute forte, se ele não conseguir acertar o gol adversário?

Em relação à formação pessoal do atleta, creio ser desnecessário comentar o quão os clubes brasileiros estão defasados. Basta assistir a duas ou três rodadas do brasileirão para facilmente chegar às seguintes conclusões: jogadores, que embora não tenham conquistado nenhum grande título, acham que são gênios; jogadores desrespeitando a história e tradição do clube em que atuam; jogadores mais preocupados no seu visual que em seu futebol.

Essa falta de comprometimento e profissionalismo dos jogadores brasileiros contemporâneos pode ser facilmente percebida na nossa seleção. De um selecionado de craques galácticos, respeitados, temidos e admirados no mundo inteiro, a seleção canarinho se transformou num amontoado de “picas-couve” e “pés-de-rato” que sequer conseguem ganhar com propriedade da África do Sul, jogando em casa com uma torcida de 50 mil pessoas a favor.

Esse selecionado medíocre, com jogadores descompromissados e preguiçosos e com um técnico burro, reflete com maestria a situação sociopolítica do nosso país: os que podem fazer algo pelo Brasil estão mais preocupados com questões insignificantes de segunda ordem; os que estão no poder não têm a mínima capacidade para estarem lá (na verdade, só Deus sabe como eles chegaram lá!). Abstenho-me aqui de tratar tais assuntos, pois pretendo, nesse texto, debater ideias de ordem técnica e táticas sobre as categorias de base dos clubes brasileiros, e não entrar nesse terreno pantanoso que é a política brasileira, e nem retratar essa instituição cretina e infame que é a CBF.

Pra formar jogadores compromissados com a instituição que defendem, preocupados com a boa gestão de suas carreiras, profissionais que, ao vestirem a amarelinha, representem dignamente o nosso país, é imprescindível que os clubes inculquem em seus atletas, desde cedo, valores como: disciplina, honestidade, humildade, comprometimento. Caso contrário, continuaremos vendo jogadores “pernas”, pintados como craques pela mídia, ganhando super salários, maltratando a bola, não proporcionando a nós, espectadores, espetáculos e, pior de tudo, fazendo nossa seleção passar vergonha.

Assim como na parte técnica e pessoal, os clubes brasileiros também erram, e muito, na formação tática de seus jogadores. Em vez de ensinar o atleta a se posicionar de maneira que melhor recomponha a zaga, que melhor saia no contra-ataque, que corra menos, que marque mais, parece que os clubes brasileiros estão ensinando para os futebolistas o seguinte: marque o mínimo e corra o máximo que puder, de preferência feito uma barata tonta.

O correto posicionamento tático dos jogadores não deveria ser algo tão difícil para os treinadores brasileiros, pois até meados da década de 90, o Brasil dominava esse quesito. Essa defasagem tática do futebol tupiniquim não deve recair somente nas costas dos técnicos. A grande maioria dos futebolistas brasileiros, fieis adeptos do “futebol foca” e metrossexuais assumidos, pouco ajudam a equipe a jogar organizadamente, dentro de uma estratégia de jogo definida e com uma marcação bem cerrada, que exige muita entrega do atleta. Esse grandes profissionais de merda estão mais preocupados em dar “showzinhos”, mostrar a nova cor do esmalte de suas unhas, o novo corte de cabelo, a nova chuteira colorida etc. Eles se preocupam tanto em fazer uma dança bizarra para comemorar o gol, que não é que esquecem de pôr a bola pro fundo da rede?

Diante das situações expostas aqui, quem sai perdendo, como já disse anteriormente e volto dizer agora, é somente nós, espectadores.

Na condição de torcedor, devemos cobrar da diretoria de nossos clubes mais transparência, ética, profissionalismo. Devemos cobrar que os cargos gestores do clube sejam eleitos meritocraticamente. Devemos cobrar profissionalismo dos atletas, da comissão técnica, da mídia. Se não nos mobilizarmos, esse circo de horrores que tomou conta do nosso futebol continuará, e por muito tempo. Não querendo demonstrar resignação e inércia com a seguinte pergunta, mas, em um país tão desigual, oligárquico, preconceituoso como o nosso, nós pobres não deveríamos ter pelo menos um futebol de qualidade para tentar esquecer as nuanças da vida? Panem et circenses, afinal.

Gabriel Barros

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