Rhodolfo viveu momentos conturbados no São Paulo. Hoje, é um dos líderes (Foto: Tom Dib)

A diretoria do São Paulo acabou 2011 com o seguinte objetivo: tornar o time mais “cascudo”. Por isso, dispensou uma série de jogadores “sem fibra” e buscou algumas contratações de mais “pegada”. Neste ano, de fato, o elenco passou por uma transformação. Contudo, a maior mudança de espírito aconteceu em um jogador que já estava no Morumbi há um ano: o zagueiro Rhodolfo.

Contratado no início de 2011, o jogador já tem histórico de altos e baixos no Tricolor. Após um início meteórico, com gols e boas atuações, ficou bastante balançado com uma proposta da Juventus (ITA). Assim, seu desempenho caiu. Questionado pela diretoria por "corpo mole" na época, passou por uma metamorfose neste ano: incorporou estilo “guerreiro” e tornou-se líder da equipe.

– Fiquei mexido porque os valores eram muito acima do que eu ganho no São Paulo. Fiquei noites sem dormir. Mas ainda não tinha feito nada pelo clube e eu quero dar retorno – explicou, em entrevista ao LANCENET!.

Apesar do estilo, Rhodolfo deixa claro: não é só com "cara feia" que tornou-se um líder. No início do papo com a reportagem, tentou fazer jus ao “beque de fazenda”. Depois, se soltou, fez piadas e até admitiu: é um dos mais brincalhões do elenco.
– Às vezes meu pai e minha mãe me ligam e brincam: "Nossa, que nervosinho" (risos). Eles sabem que ali dentro eu sou uma coisa e fora de campo sou outra. Com o grupo também é assim. A gente brinca demais.

Com a faixa de capitão durante o período em que Rogério Ceni e Luis Fabiano estavam machucados, Rhodolfo também chama a atenção por declarações fortes nas entrevistas após os jogos. Sem alisar sequer para os próprios companheiros dentro de campo, também promete não dar espaços para Neymar e Ganso no clássico deste domingo, contra o Santos.

Para isso, o camisa 4 se vale de seu próprio retrospecto contra o Peixe com a camisa do São Paulo. Nos dois jogos do ano passado em que pegou o Santos, foi implacável. No primeiro, na Vila Belmiro, anulou Neymar e arrancou empate por 1 a 1. No segundo, goleada por 4 a 1 em Mogi Mirim.

Se o lema de Neymar é “ousadia e alegria” Rhodolfo não fica atrás. A alegria, como mostrou, segue presente. E, como um zagueiro à moda antiga, que mete medo, apenas troca a ousadia por raça e seriedade. Assim, quer parar a estrela da Vila para seguir em boa fase no São Paulo.




'FALA MUITO?'
> “Nós não estamos jogando metade do que podemos. Fomos muito mal no jogo”
Libertad-PAR 2x0 São Paulo - 27/10/2011 - O São Paulo jogava por apenas um empate. Mas, em exibição desastrosa, a equipe foi eliminada da Copa Sul-Americana.

> “Faltou vontade. Nós não tivemos personalidade o bastante para vencer”
Corinthians 1x0 São Paulo - 11/2/2012 - No Paulistão Chevrolet deste ano, Rhodolfo se mostrou inconformado com o aumento do tabu contra o rival no Pacaembu.

> “Falam que é culpa da defesa, mas aí vem jogada rápida e ninguém marca. É falta de atenção do resto do time. Temos de acabar com isso”
Palmeiras 3x3 São Paulo - 26/2/2012 - Após o sexto gol em dois jogos, o camisa 4 ficou bravo ao ser perguntado sobre a má fase da zaga.

> “Faltou um pouco de vontade, por pouco não levamos gols”
Independente 0x1 São Paulo - 7/3/2012 - No estreia da Copa do Brasil deste ano, o Tricolor foi mal contra os paraenses e não eliminou o jogo de volta, para revolta de Rhodolfo.

SOBE E DESCE
Início meteórico
Chegou ao São Paulo no início do ano passado, após excelentes atuações no Brasileirão-10 no Atlético-PR, e logo conquistou torcida e comissão técnica graças à firmeza e às arrancadas para o ataque. Estreou com gol contra a Lusa.

Proposta e má fase
O bom futebol no início o credenciou a ser alvo de proposta da Juventus (ITA). O São Paulo, que havia perdido dois zagueiros, não aceitou e Rhodolfo se abalou, o que se refletiu em campo. Tanto que a diretoria pensou até em puni-lo de alguma maneira.



Líder e capitão
Sem Rogério Ceni e Luis Fabiano, que se lesionaram logo no início da temporada, Rhodolfo assumiu a faixa de capitão do time e consolidou-se como um líder. Voltou a mostrar bom futebol, apesar do desentrosamento com novos parceiros.

BATE-BOLA

Rhodolfo, zagueiro do São Paulo, em entrevista ao LANCENET!

Incomodou ter perdido a faixa de capitão para o Luis Fabiano quando ele voltou da lesão?
Eu respeito. O Luis Fabiano ganhou muita coisa na vida. Não tenho nem 10% dos títulos que ele ganhou e da fama que ele tem. Agora ele é o capitão e quando o Rogério voltar, vai ser o Rogério. A gente entende isso. Com a faixa ou sem a faixa, vou cobrar da mesma maneira.

Aumentou a responsabilidade de ser um líder no período em que Rogério Ceni e Luis Fabiano estavam fora da equipe?
Sem o Rogério Ceni e o Luis (Fabiano) o nosso time ficou muito quieto. Foi aí que eu vi que eu tinha que falar bastante. Até comentei com o Paulo Miranda e com o Edson (Silva) que, quando entram no time, é para cobrar mais os caras lá da frente para não desanimarem.

Acha que suas declarações após os jogos podem ter algum tipo de reação negativa no grupo?
É muito difícil chegar onde chegamos. Não podemos deixar as coisas acontecerem de mão beijada. Em alguns jogos a gente tem que ralar um pouco mais e ter mais vontade. Foram poucas partidas que a gente jogou e deu esse mole. Não pode dar sopa para o azar. Por isso eu cobro. Mas não acho que o grupo reage mal. As minhas declarações são apenas o que conversamos no vestiário.

Chegou a se arrepender após alguma dessas declarações?
O grupo, mesmo sendo jovem, é bastante rodado e experiente. Por isso reagem bem e nunca me condenam pelo que falo após o jogo.

Existe algum jogador que serviu de inspiração para esse espírito de liderança que você possui?
O Paulo Baier. Pude jogar com ele no Atlético-PR. É um cara sério e que cobra bastante em campo. Eu aprendi muitas coisas com ele.