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Pesadelo de zagueiro, Lucas foi criança hiperativa

Um pedaço de palha de aço e um barbante são transformados em um rato. Uma caixa de sapato, vela e lençol, com criatividade para desenhar um rosto, se tornam um fantasma. Lucas sempre foi daquelas crianças hiperativas, que não conseguem ficar paradas. Ele cansou de assustar vizinhos distraídos que passaram diante do portão da casa da família na rua Liberalina, no bairro de Americanópolis, zona sul de São Paulo.

As diabruras caminhavam junto com o talento precoce do garoto. A mesma facilidade que tinha para armar travessuras despontava no contato com a bola. Aos seis anos, Lucas já demonstrava ter uma habilidade acima da média dos outros meninos que jogavam peladas com ele na rua.

O pai, seu Jorge, não acreditava muito no que os vizinhos, os mesmos que eram vítimas das brincadeiras do filho, falavam do herdeiro. Até que decidiu, meio que escondido, vê-lo jogar uma dessas peladas. Ficou encantado. O próximo passo foi levá-lo para um escolinha de futebol.

Mas não foi apenas pela maneira com que encarava os outros garotos, quase sempre maiores do que ele, que fizeram seu Jorge apostar em Lucas. O garoto era infernal. O futebol foi uma maneira que o pai encontrou para ele dar menos trabalho aos que tinham de cuidar dele em sua ausência, já que ele e sua esposa, dona Fátima, tinham de trabalhar. A vida não era fácil.

“O Luquinha não parava um minuto. Ele estava sempre dando cambalhota em qualquer lugar da casa. Pior é que se machucava, sempre estava com galos na cabeça”, lembra o pai, usando o apelido, diminutivo do nome do filho, pelo qual todos ainda o chamam na família.

O futebol também lhe rendeu um apelido. A escolinha na qual Lucas deu os primeiros chutes em Diadema era do ídolo corintiano, Marcelinho Carioca. A semelhança física logo transformaram Luquinha em Marcelinho, alcunha que ele carregou até setembro do ano passado, quando pediu para ser chamado pelo nome de batismo.

Foi uma decisão difícil, mas ele não se arrepende. A comparação com um ídolo do rival o incomodava. O garoto chegou a ser pressionado por alguns torcedores do São Paulo para esquecer o apelido. A sua mãe também queria vê-lo jogar como Lucas. Na verdade, o pai queria Lukas, com K, mas, quando foi pedir ao clube, a nova camisa já estava pronta e ficou com C mesmo.

O passado no Corinthians é outra coisa que Lucas quer apagar. Primeiro o de torcedor. Quando criança, ele era corintiano. A paixão permaneceu até pouco tempo. O próprio jogador revelou ao JT, em outubro de 2008, quando foi um dos personagens do “Geração 2014”, que torcia para o Timão. Agora o assunto é tabu. “O Lucas é profissional, ele torce para o time que defende”, disse seu Jorge. “E todos nós somos Lucas Futebol Clube.”

A outra situação em relação ao Corinthians em que ele quer passar uma borracha é sua passagem pelo Parque São Jorge. Depois de brilhar pelo Santa Maria, equipe amadora de São Caetano do Sul, Lucas foi para o Juventus e, três anos depois, aceitou uma proposta para defender o Timão.

Lá o garoto, sempre alegre, não foi tão feliz. Lucas, então com 11 anos, se sacrificava para conciliar os treinos com os estudos, sempre tratados como prioridade, principalmente por dona Fátima. Preocupada com uma queda de rendimento tanto na escola quanto no futebol, ela pediu ao seu marido para conversar com os dirigentes.

O pedido, segundo seu Jorge, não foi nada absurdo. Ele não queria dinheiro. “Pedi ao Corinthians que arranjasse alguma escola que fosse perto do clube e um alojamento”, relembra. O pai cobrou ainda um trabalho específico para o filho ganhar massa muscular, já que era franzino em relação aos outros garotos que jogavam com ele.

Cansado de ouvir “agora não podemos ver isso”, seu Jorge foi atrás de outros clubes para o filho. Foi então que Lucas optou pelo São Paulo, que, antes de ele ir para o Corinthians, já havia demonstrado interesse. Em Cotia, cidade que abriga o CT das categorias de base do Tricolor, ele voltou a ser o garoto endiabrado de sempre.

No campo, Lucas encantava todo mundo com seu talento para o futebol. Fora dele dava muito trabalho aos seguranças. Eles perderam as contas de quantas vezes tiveram de buscá-lo durante a madrugada no lago que existe no CT de Cotia, onde costumava pescar. Em outra oportunidade, o garoto gastou R$ 200 em fogos de artifícios para o Réveillon, mas acabou soltando uns antes da hora e foi apanhado.

As brincadeiras, porém, ficavam fora das quatro linhas. Lucas sempre foi aplicado, trabalhava com muita seriedade. “Ele é engraçado demais, não para um minuto. É pagode o dia todo, mas, quando entra no campo, se transforma. É uma outra pessoa”, conta o volante Casemiro, que conheceu Lucas há sete anos. Desde então, os dois são amigos, além de companheiros de elenco.

A dedicação para buscar melhorar todos os dias fez o garoto conquistar talvez o mais exigente dos seus companheiros. O goleiro Rogério Ceni derrete-se ao falar de Lucas. Ele sempre usa expressões como ‘menino especial’ e ‘jogador diferenciado’ para defini-lo. É só elogios ao seu comportamento dentro do campo e fora dele. Lucas procura aprender diariamente não só com o goleiro, 20 anos mais velho do que ele.

O garoto absorve tudo o que é lhe passado, separando o que será positivo para o seu crescimento e descartando o que julga não ser importante. Ele é ainda persistente. Quando coloca uma coisa na cabeça, dificilmente não consegue realizá-la. Foi assim após se destacar na conquista da Copa São Paulo de Futebol Júnior em janeiro de 2010.

O objetivo era subir para o profissional. Fez mais do que isso: ganhou uma chance em agosto, teve boas atuações e fechou o ano (não tão bom para o clube) como titular. O próximo passo foi o Sul-Americano Sub-20. Lucas desembarcou no Peru sob a sombra de Neymar, mas brilhou tanto quanto o craque santista.

As boas atuações pela Seleção Brasileira, quando levou pancada atrás de pancada, foram responsáveis pela transformação definitiva do garoto. O são-paulino era, então, um homem feito. Situação que só se confirmou poucos dias depois de seu retorno na assinatura de um milionário contrato de renovação, até 31 de dezembro de 2015, com o São Paulo.

Lucas, que ganhava R$ 12 mil, passou a receber R$ 110 mil e sua multa rescisória foi fixada em 80 milhões (R$ 180 milhões). Esse valor o coloca como o segundo jogador mais caro do Brasil, atrás apenas de Ronaldinho Gaúcho, do Flamengo, avaliado em R$ 400 milhões. O dinheiro vai ajudar na realização de outro objetivo que o persistente Lucas havia traçado há alguns anos.

O garoto, aos 18, já poderá dar uma vida melhor aos pais que tanto fizeram por ele. As suas ambições, porém, não param por aí. Lucas quer estar na Olimpíada de Londres em 2012, na Copa de 2014 no Brasil, e atuar em um grande clube da Europa. E tem outro um pouco mais fácil: deseja marcar um gol passando por boa parte da defesa e driblando o goleiro. Alguém tem dúvida que ele não vai alcançá-los? Os vizinhos que Lucas tanto infernizou, com certeza, não. Os zagueiros que se cuidem!


vipcomm

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