– Ele veio conversar comigo. Começou gaguejando um pouco, mas perguntou se eu consentia o namoro dele com a Rose. Era gente finíssima, muito educado. Eu não sabia quem era, mas o reconheci. Pensei: "Esse menino é do Mogi! Veio lá de cima". Mas eles sempre tinham boas amizades. Naquela época, os meninos eram mais sossegados. Não tinha por que proibir, dizer não para ele.

Era Rivaldo pedindo permissão a Valdemar Mosca para sair com a filha dele, Rose, primeira namorada (e primeira esposa, anos mais tarde) depois que deixou Paulista, no litoral pernambucano, para tentar embalar a carreira no futebol.

Quase 20 anos depois, na véspera do clássico contra o Palmeiras, último clube no Brasil antes de Rivaldo decolar para o mundo, o LANCE! volta no tempo para buscar o Rivaldo que poucos conheceram: o moleque de 19 anos, tímido, romântico e sonhador. E que fugia dos padrões de beleza habituais (de décadas passadas e de hoje): alto, magrelo, pernas tortas, que costumava vestir "bermuda de Rambo" e chinelo de dedo.

Os amigos da época dizem que Rivaldo nunca gostou de beber. O negócio era refrigerante e sorvete.

– Mesmo quando ele ia na pracinha, que bombava ao lado do estádio, com o Válber, ficava num canto – diz Leto, quatro anos mais velho, o terceiro do trio contratado pelo Mogi ao Santa Cruz, no início de 1992.

A pracinha também foi point para o namoro de Rivaldo com Rose. O ponto de ônibus tinha quase que um banco exclusivo para eles. E passavam vários carros até que o casal partisse para a casa do sogrão.

Quando chegava, normalmente, o jantar já estava pronto. O prato predileto? À tarde ou à noite, arroz, feijão e ovo, tudo muito simples.

O namorico durava até a madrugada, quando Rose acordava o irmão, Badi, para levar o namorado ao Estádio Wilson de Barros, atual Romildo Vitor Gomes Ferreira – Rivaldo dividia um dos quartos do alojamento do estádio com Válber.

Não havia conforto nem luxo. O que o Rivaldo de 1992 ostentava mesmo era talento para o futebol. O mesmo que o transformou no milionário de hoje, eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, em 1999, e pentacampeão pela Seleção, em 2002.

Bate-Bola com Badi Mosca
Ex-cunhado de Rivaldo, e hoje assessor 'faz-tudo' do meia

LANCENET!: Imaginava que o menino que namorava sua irmã se transformaria no Rivaldo de hoje?
BADI: Nunca! Ainda mais pelo jeito que eu o conheci. Até 92, eu jogava no Monte Azul. Cheguei em casa, um dia, às 7h, abri a porta do meu quarto e tinha um puta de um negão na minha cama. Fui para o quarto da minha mãe e minha irmã estava dormindo num colchãozinho... Aí contou que era o namorado dela. Falei: "Pô, nem o conheço e o cara já está dormindo em casa?". Se os dois estivessem dormindo no mesmo quarto, dava um pau nele naquela hora (risos).

LANCENET!: Rivaldo dava muito trabalho?
BADI: Não, não. Era sossegado. O problema é que ele ficava até 2h namorando lá em casa. Aí, minha irmã me chamava e eu o levava para o alojamento do estádio. Mas como já era tarde e o portão estava com cadeado, ele tinha de pular o muro para ir dormir. E lá ia eu ajudá-lo.

LANCENET!: Qual a primeira lembrança que você tem dele na época?
BADI: Além da dele dormindo na minha cama? (Risos) Acho que ele dentro do ônibus, de pé, indo encontrar minha irmã. Eu esperava ele com ela no ponto... Aí eu falava pra Rose: "Olha lá, chegou seu negão!". Chinelo de dedo, bermuda do Rambo... (gargalhadas). Mas não vai pôr isso, não, que ele fica bravo!