Amoroso era querido pela torcida, mas teve saída tumultuada depois do tri mundial
Há cinco anos, Amoroso ajudava o São Paulo a derrotar o Liverpool e gravava seu nome na história do clube, como integrante do grupo campeão mundial em 2005. No entanto, a boa passagem do atacante pelo Morumbi - onde também foi decisivo na Libertadores - foi meteórica e acabou antes do previsto, após um longo e polêmico processo de renovação contratual.
De acordo com ele, por desconfiar de seu potencial, a diretoria não quis oferecer um contrato válido por três temporadas, como era sua vontade. A descrença dos dirigentes também é justificativa para as polêmicas envolvendo o pré-contrato que assinou com o FC Tokyo às vésperas do Mundial e a indefinição quanto ao prêmio em dinheiro que seria recebido pelos jogadores pela eventual conquista.
Amoroso afirma que alguns dirigentes não acreditavam na conquista do tri e por isso teriam projetado utilizá-lo como 'bode expiatório' em caso de derrota. Mesmo magoado e até hoje brigando na Justiça para tentar receber a premiação pelo título mundial, ele não escondeu seu carinho pelo Tricolor nesta entrevista exclusiva concedida à Gazeta Esportiva.Net. "Eu nunca quis sair do São Paulo. Achei que nunca mais sairia e que pudesse ficar até hoje", revela.
Depois de uma rápida e apagada passagem pelo Corinthians, Amoroso ainda esteve no Grêmio e aventurou-se no Aris Tessalônica, da Grécia, antes de voltar ao Guarani, clube que o revelou, para encerrar a carreira. Rodado, ele diz que os dois times que mais gosta são justamente o Bugre e o São Paulo. O nome do estádio são-paulino, aliás, foi modificado pelo ex-atleta. "Falei que ia mudar para Moruntri e está assim até hoje!".
Gazeta Esportiva.Net: O título mundial do São Paulo está fazendo cinco anos. Lembrava da data?
Amoroso: Claro, lembro sim. O tri, né? Falo sobre isso com o maior prazer!
GE.NET: Você ainda mantém contato com os jogadores que fizeram parte daquele time?
Amoroso: Mantenho. Para não ficar no esquecimento, a gente se fala por internet, celular e rádio. Tenho contato com Luizão, Júnior, Fabão, Alex Bruno, Edcarlos, Lugano... Falo também com o Cicinho, o Danilo, que agora está no Corinthians... A gente se fala sempre.
GE.NET: Como foi a noite anterior ao jogo do Liverpool? Conseguiu dormir bem?
Amoroso: Na verdade, o jogo do Liverpool não era o mais perigoso. A ansiedade que havia era para a estreia, contra o Al-Ittihad, para tirar aquele friozinho da barriga por entrar numa competição onde você não pode perder. Para nós, o primeiro jogo era mais importante e enfrentar o Liverpool seria conseqüência. Me lembro muito bem que, momentos antes da estreia, eu e os jogadores mais experientes, com o aval do Autuori, reunimos todo mundo e dissemos que aquela poderia ser a última oportunidade da maioria de disputar um Mundial. Todo mundo tinha que esquecer a vaidade e os problemas familiares e pensar só no título.
Com Amoroso, Morumbi virou "Moruntri"
GE.NET: Pelo jeito, a conversa deu resultado.
Amoroso: O grupo se fechou e fizemos dois jogos maravilhosos. No aquecimento para o jogo contra o Liverpool, no campo sintético que havia ao lado do vestiário, lembro que o Autuori reuniu todo o grupo e pediu para que fizéssemos tudo o que sabíamos porque com certeza sairíamos com o título. O Mineiro foi abençoado e fez o gol e o Rogério fez uma grande partida. Conheço o Ceni há muito tempo e acho que ele nunca mais vai ter uma atuação como aquela. Foi a partida em que ele mais se destacou.
GE.NET: Antes mesmo da estreia você tinha assinado um pré-contrato com o FC Tokyo e isso também foi muito comentado aqui no Brasil. Isso atrapalhou o grupo?
Amoroso: Na realidade, parte dos dirigentes não acreditava que ganharíamos do Liverpool. Os jogadores acreditavam, claro, mas ficou aquela situação constrangedora, porque eles buscaram dois bodes expiatórios para uma possível derrota: o Cicinho, que já estava vendido para o Real Madrid, e o Amoroso, que tinha esse pré-contrato com o FC Tokyo, que depois não foi cumprido e não valeu nada. Acharam dois jogadores para que pudessem culpar num possível fracasso. Aquilo me revoltou muito.
GE.NET: Mesmo assim, você dizia que estava focado no título e foi o destaque do jogo contra o Al-Ittihad, com dois gols.
Amoroso: Quando fiz aqueles gols, me saiu um peso das costas. Tudo que eu queria na vida era ser campeão do mundo. Ficou aquela tristeza por tentarem tumultuar um ambiente maravilhoso.
GE.NET: Também houve uma polêmica quanto à premiação em caso de título e os jogadores ficaram sem falar com a imprensa depois do primeiro jogo por causa disso.
Amoroso: A premiação foi estabelecida pelo Rogério Ceni e me lembro que o Cicinho perguntou por que ele foi negociar e não o Amoroso, o Lugano ou o Júnior, que também eram experientes. Mas tudo estava definido antes da estreia, o grupo estava fechado e pensava somente no título. Quem criou essa polêmica foram alguns membros da diretoria. Eu, infelizmente, ainda não recebi o prêmio. Mas tudo bem, essa questão está sendo discutida na Justiça.
GE.NET: Quem eram esses dirigentes que não acreditavam no time?
Amoroso: A diretoria é muito grande, tem também os conselheiros... Uns acreditavam, outros não. Acho que não é o caso citar nomes.
GE.NET: Você era um dos líderes daquele grupo. Além do Rogério Ceni, quem eram os outros? O Lugano, que é idolatrado pelos torcedores até hoje, pode ser apontado como principal líder?
Amoroso: Não só o Lugano, outros jogadores também eram líderes. O Júnior já tinha experiência do futebol europeu, o Rogério, eu, o Luizão na época da Libertadores... Vejo o Barcelona jogar com Xavi e Iniesta e lembro dos dois pequenos do São Paulo, Josué e Mineiro, contra aqueles grandões. O Mineiro era mais calado, mas dentro de campo também era um líder. Enfim, era um grupo experiente e forte e acho que nunca mais o São Paulo terá um grupo como aquele de 2005. Ganhou títulos brasileiros na sequência, mas jogadores como aqueles é difícil de encontrar, éramos muito fortes mentalmente também.
GE.NET: Uma das cenas marcantes do jogo contra o Liverpool é a invasão daquele torcedor corintiano que jogou um bambi de pelúcia no Rogério Ceni. Naquele momento do jogo, o São Paulo estava sendo pressionado. Aquilo ajudou o time a recuperar a concentração?
Amoroso: Estávamos tomando pressão, então foi maravilhoso, agradecemos eternamente. Aquilo nos motivou muito mais e o Rogério começou a pegar tudo, deixando o gol do tamanho de uma caixa de fósforo. Sabíamos que estava todo mundo torcendo contra, porque ninguém queria que o São Paulo fosse o único tricampeão no Brasil, superando o Santos de Pelé. Não tinha jeito, atravessávamos uma excelente fase, com um grande treinador e um grupo unido desde a conquista da Libertadores, independente de prêmio ou de qualquer outra coisa. Ninguém estava interessado nisso, só no título.
GE.NET: E os três gols anulados do Liverpool? Aquilo também foi providencial, não foi?
Amoroso: Foi uma grande atuação do bandeirinha [Hector Vergara, do Canadá]! Ele já pode se aposentar e dizer que foi a melhor atuação da vida dele (risos). Ele anulou corretamente. Se tivesse algum tipo de má intenção para dar o título aos europeus, ele deixaria passar um ou dois, mas foi muito correto. Isso nos ajudou e acho que poderiam chutar quantas bolas quisessem: ou o Rogério ia defender ou estariam impedidos.
Atacante era um dos mais empolgados com a festa da torcida após a chegada do Japão
GE.NET: Depois do título, antes do embarque para o Brasil, o Marco Aurélio Cunha declarou que você era o mais empolgado com a festa que a torcida faria na chegada do grupo, acompanhava tudo pela internet. Você foi um são-paulino por seis meses?
Amoroso: Pra falar a verdade, eu nunca quis sair do São Paulo. Eu sempre falo isso e minha família pode comprovar. Cheguei na reta final da Libertadores, num momento em que o time precisava por causa da ausência do Grafite [que passou por uma operação no joelho]. Eu sabia que me sentiria bem, porque cresci com o Luizão no Guarani e ele seria meu companheiro de ataque, também tinha amizade com o Rogério Ceni, tinha jogado com o Júnior no Parma, conhecia o Milton Cruz do Japão e também conhecia o Marco Aurélio Cunha, do próprio Guarani. Além disso, o Autuori conversou comigo antes que eu assinasse e disse que confiava em mim. Eu achava que nunca mais sairia, achei que pudesse ficar até hoje.
GE.NET: E por que não ficou?
Amoroso: Quando acabou a Libertadores, eu fui até a diretoria e pedi para renovar o contrato por mais três anos, disse que me sentia feliz em São Paulo e que minha família estava estabilizada em Campinas. Eu queria ficar para sempre! Mas aí ficou aquela demora, um impasse e parte da diretoria não acreditava em mim. Tudo isso me motivou a voltar para o futebol europeu e, depois do Mundial, o Milan abriu as portas para mim. Todo jogador sonha com Milan, Barcelona ou Real Madrid. Eu estava com 32 anos e achava que aquela proposta tinha caído do céu, mas fui com dor no coração em saber que deixei um clube onde vivi momentos maravilhosos.
GE.NET: Você arrebentou na final da Libertadores e no Mundial. Qual era a justificativa dos dirigentes que não acreditavam em você?
Amoroso: Não sei o que se passa, como funciona essa questão de contrato, então é difícil falar. Quando coloquei a camisa do São Paulo, percebi que tinha caído muito bem e achei que poderia ser um ídolo da torcida. Não guardo mágoa, mas fico triste por não ter sido ouvido quando poderia ficar por mais três anos. Fui para o Milan com um contrato mais curto e não fui tão feliz como poderia ter sido no São Paulo, com menos dinheiro.
GE.NET: Por ter sido campeão da Libertadores e do Mundial em tão pouco tempo, você não acha que é um ídolo?
Amoroso: Eu me considero. Os torcedores sabem que sempre entrei em campo com muita dedicação, garra e carinho pelo clube, seja no Brasileirão, na Libertadores, no Mundial ou na Sul-americana. Fico feliz por fazer parte da história do São Paulo e acho que faço parte desse time de ídolos. Muitos jogadores jogaram mais tempo, mas não ganharam tanto quanto o Amoroso com a camisa do São Paulo. Não saí por questão financeira. Falei que ia mudar o nome do Morumbi para Moruntri e está assim até hoje (risos)!
GE.NET: A forma como saiu do clube não atrapalhou?
Amoroso: Alguns pensam que por eu ter ido para o Milan e depois para o Corinthians, não posso ser considerado um ídolo. Fui criado no Guarani e nunca jogaria na Ponte Preta, mas não vou ser o último e nem fui o primeiro jogador que saiu do São Paulo e jogou por um clube rival. Não fui procurado para voltar quando não estava feliz no Milan. O São Paulo deveria ter aberto as portas, mas só falou comigo quando já estava certo com o Corinthians.
Menos de um ano após o título, jogador foi para o rival Corinthians e irritou os tricolores
GE.NET: Sua passagem pelo Corinthians, em 2006, foi apagada. Se arrepende de ter ido para lá?
Amoroso: Era um momento difícil no clube. O Corinthians atravessava uma fase muito complicada, com indefinições de patrocinador e na diretoria. Ninguém sabia quem mandava ou em quem confiar. Sabia que seria difícil construir uma história como fiz no São Paulo, mas disse que não ia deixar o time cair. E não caiu.
GE.NET: Não tem saudades de ouvir a torcida gritando que você "é um terror"? Não vai mais voltar a jogar futebol?
Amoroso: Daqui pra frente meu rumo é outro. Estou na área de construção, empreendedorismo, e agora trabalho de terno e gravata (risos). Recentemente joguei pelo São Paulo no Showbol [modalidade parecida com o futebol society, que reúne ex-jogadores de futebol] e senti aquele gostinho novamente. Quem sabe no Showbol eu não possa jogar pelos dois clubes que gosto? Guarani e São Paulo.
GE.NET: Tem um recado para deixar aos torcedores do São Paulo?
Amoroso: Eu agradeço principalmente aos companheiros que jogavam comigo. Agradeço também à Torcida Independente, que sempre acreditou no meu trabalho. Momentos antes da partida contra o Liverpool, integrantes da Independente falaram comigo e me pediram pelo amor de Deus para jogar tudo que sabia e já havia mostrado em outros clubes. Eu disse a eles que podiam ficar tranquilos, pois não iriam se decepcionar. O que vale é o carinho dos torcedores que estão sempre torcendo, na chuva, no sol ou na neve. Acertei com o São Paulo sem luvas, com salário muito abaixo do que merecia, mas me sentia bem, o clube é maravilhoso. Se eu tivesse ficado, o São Paulo seria tetra, porque não teria perdido a Libertadores de 2006 para o Inter.
Há cinco anos, Amoroso ajudava o São Paulo a derrotar o Liverpool e gravava seu nome na história do clube, como integrante do grupo campeão mundial em 2005. No entanto, a boa passagem do atacante pelo Morumbi - onde também foi decisivo na Libertadores - foi meteórica e acabou antes do previsto, após um longo e polêmico processo de renovação contratual.
De acordo com ele, por desconfiar de seu potencial, a diretoria não quis oferecer um contrato válido por três temporadas, como era sua vontade. A descrença dos dirigentes também é justificativa para as polêmicas envolvendo o pré-contrato que assinou com o FC Tokyo às vésperas do Mundial e a indefinição quanto ao prêmio em dinheiro que seria recebido pelos jogadores pela eventual conquista.
Amoroso afirma que alguns dirigentes não acreditavam na conquista do tri e por isso teriam projetado utilizá-lo como 'bode expiatório' em caso de derrota. Mesmo magoado e até hoje brigando na Justiça para tentar receber a premiação pelo título mundial, ele não escondeu seu carinho pelo Tricolor nesta entrevista exclusiva concedida à Gazeta Esportiva.Net. "Eu nunca quis sair do São Paulo. Achei que nunca mais sairia e que pudesse ficar até hoje", revela.
Depois de uma rápida e apagada passagem pelo Corinthians, Amoroso ainda esteve no Grêmio e aventurou-se no Aris Tessalônica, da Grécia, antes de voltar ao Guarani, clube que o revelou, para encerrar a carreira. Rodado, ele diz que os dois times que mais gosta são justamente o Bugre e o São Paulo. O nome do estádio são-paulino, aliás, foi modificado pelo ex-atleta. "Falei que ia mudar para Moruntri e está assim até hoje!".
Gazeta Esportiva.Net: O título mundial do São Paulo está fazendo cinco anos. Lembrava da data?
Amoroso: Claro, lembro sim. O tri, né? Falo sobre isso com o maior prazer!
GE.NET: Você ainda mantém contato com os jogadores que fizeram parte daquele time?
Amoroso: Mantenho. Para não ficar no esquecimento, a gente se fala por internet, celular e rádio. Tenho contato com Luizão, Júnior, Fabão, Alex Bruno, Edcarlos, Lugano... Falo também com o Cicinho, o Danilo, que agora está no Corinthians... A gente se fala sempre.
GE.NET: Como foi a noite anterior ao jogo do Liverpool? Conseguiu dormir bem?
Amoroso: Na verdade, o jogo do Liverpool não era o mais perigoso. A ansiedade que havia era para a estreia, contra o Al-Ittihad, para tirar aquele friozinho da barriga por entrar numa competição onde você não pode perder. Para nós, o primeiro jogo era mais importante e enfrentar o Liverpool seria conseqüência. Me lembro muito bem que, momentos antes da estreia, eu e os jogadores mais experientes, com o aval do Autuori, reunimos todo mundo e dissemos que aquela poderia ser a última oportunidade da maioria de disputar um Mundial. Todo mundo tinha que esquecer a vaidade e os problemas familiares e pensar só no título.
Com Amoroso, Morumbi virou "Moruntri"
GE.NET: Pelo jeito, a conversa deu resultado.
Amoroso: O grupo se fechou e fizemos dois jogos maravilhosos. No aquecimento para o jogo contra o Liverpool, no campo sintético que havia ao lado do vestiário, lembro que o Autuori reuniu todo o grupo e pediu para que fizéssemos tudo o que sabíamos porque com certeza sairíamos com o título. O Mineiro foi abençoado e fez o gol e o Rogério fez uma grande partida. Conheço o Ceni há muito tempo e acho que ele nunca mais vai ter uma atuação como aquela. Foi a partida em que ele mais se destacou.
GE.NET: Antes mesmo da estreia você tinha assinado um pré-contrato com o FC Tokyo e isso também foi muito comentado aqui no Brasil. Isso atrapalhou o grupo?
Amoroso: Na realidade, parte dos dirigentes não acreditava que ganharíamos do Liverpool. Os jogadores acreditavam, claro, mas ficou aquela situação constrangedora, porque eles buscaram dois bodes expiatórios para uma possível derrota: o Cicinho, que já estava vendido para o Real Madrid, e o Amoroso, que tinha esse pré-contrato com o FC Tokyo, que depois não foi cumprido e não valeu nada. Acharam dois jogadores para que pudessem culpar num possível fracasso. Aquilo me revoltou muito.
GE.NET: Mesmo assim, você dizia que estava focado no título e foi o destaque do jogo contra o Al-Ittihad, com dois gols.
Amoroso: Quando fiz aqueles gols, me saiu um peso das costas. Tudo que eu queria na vida era ser campeão do mundo. Ficou aquela tristeza por tentarem tumultuar um ambiente maravilhoso.
GE.NET: Também houve uma polêmica quanto à premiação em caso de título e os jogadores ficaram sem falar com a imprensa depois do primeiro jogo por causa disso.
Amoroso: A premiação foi estabelecida pelo Rogério Ceni e me lembro que o Cicinho perguntou por que ele foi negociar e não o Amoroso, o Lugano ou o Júnior, que também eram experientes. Mas tudo estava definido antes da estreia, o grupo estava fechado e pensava somente no título. Quem criou essa polêmica foram alguns membros da diretoria. Eu, infelizmente, ainda não recebi o prêmio. Mas tudo bem, essa questão está sendo discutida na Justiça.
GE.NET: Quem eram esses dirigentes que não acreditavam no time?
Amoroso: A diretoria é muito grande, tem também os conselheiros... Uns acreditavam, outros não. Acho que não é o caso citar nomes.
GE.NET: Você era um dos líderes daquele grupo. Além do Rogério Ceni, quem eram os outros? O Lugano, que é idolatrado pelos torcedores até hoje, pode ser apontado como principal líder?
Amoroso: Não só o Lugano, outros jogadores também eram líderes. O Júnior já tinha experiência do futebol europeu, o Rogério, eu, o Luizão na época da Libertadores... Vejo o Barcelona jogar com Xavi e Iniesta e lembro dos dois pequenos do São Paulo, Josué e Mineiro, contra aqueles grandões. O Mineiro era mais calado, mas dentro de campo também era um líder. Enfim, era um grupo experiente e forte e acho que nunca mais o São Paulo terá um grupo como aquele de 2005. Ganhou títulos brasileiros na sequência, mas jogadores como aqueles é difícil de encontrar, éramos muito fortes mentalmente também.
GE.NET: Uma das cenas marcantes do jogo contra o Liverpool é a invasão daquele torcedor corintiano que jogou um bambi de pelúcia no Rogério Ceni. Naquele momento do jogo, o São Paulo estava sendo pressionado. Aquilo ajudou o time a recuperar a concentração?
Amoroso: Estávamos tomando pressão, então foi maravilhoso, agradecemos eternamente. Aquilo nos motivou muito mais e o Rogério começou a pegar tudo, deixando o gol do tamanho de uma caixa de fósforo. Sabíamos que estava todo mundo torcendo contra, porque ninguém queria que o São Paulo fosse o único tricampeão no Brasil, superando o Santos de Pelé. Não tinha jeito, atravessávamos uma excelente fase, com um grande treinador e um grupo unido desde a conquista da Libertadores, independente de prêmio ou de qualquer outra coisa. Ninguém estava interessado nisso, só no título.
GE.NET: E os três gols anulados do Liverpool? Aquilo também foi providencial, não foi?
Amoroso: Foi uma grande atuação do bandeirinha [Hector Vergara, do Canadá]! Ele já pode se aposentar e dizer que foi a melhor atuação da vida dele (risos). Ele anulou corretamente. Se tivesse algum tipo de má intenção para dar o título aos europeus, ele deixaria passar um ou dois, mas foi muito correto. Isso nos ajudou e acho que poderiam chutar quantas bolas quisessem: ou o Rogério ia defender ou estariam impedidos.
Atacante era um dos mais empolgados com a festa da torcida após a chegada do Japão
GE.NET: Depois do título, antes do embarque para o Brasil, o Marco Aurélio Cunha declarou que você era o mais empolgado com a festa que a torcida faria na chegada do grupo, acompanhava tudo pela internet. Você foi um são-paulino por seis meses?
Amoroso: Pra falar a verdade, eu nunca quis sair do São Paulo. Eu sempre falo isso e minha família pode comprovar. Cheguei na reta final da Libertadores, num momento em que o time precisava por causa da ausência do Grafite [que passou por uma operação no joelho]. Eu sabia que me sentiria bem, porque cresci com o Luizão no Guarani e ele seria meu companheiro de ataque, também tinha amizade com o Rogério Ceni, tinha jogado com o Júnior no Parma, conhecia o Milton Cruz do Japão e também conhecia o Marco Aurélio Cunha, do próprio Guarani. Além disso, o Autuori conversou comigo antes que eu assinasse e disse que confiava em mim. Eu achava que nunca mais sairia, achei que pudesse ficar até hoje.
GE.NET: E por que não ficou?
Amoroso: Quando acabou a Libertadores, eu fui até a diretoria e pedi para renovar o contrato por mais três anos, disse que me sentia feliz em São Paulo e que minha família estava estabilizada em Campinas. Eu queria ficar para sempre! Mas aí ficou aquela demora, um impasse e parte da diretoria não acreditava em mim. Tudo isso me motivou a voltar para o futebol europeu e, depois do Mundial, o Milan abriu as portas para mim. Todo jogador sonha com Milan, Barcelona ou Real Madrid. Eu estava com 32 anos e achava que aquela proposta tinha caído do céu, mas fui com dor no coração em saber que deixei um clube onde vivi momentos maravilhosos.
GE.NET: Você arrebentou na final da Libertadores e no Mundial. Qual era a justificativa dos dirigentes que não acreditavam em você?
Amoroso: Não sei o que se passa, como funciona essa questão de contrato, então é difícil falar. Quando coloquei a camisa do São Paulo, percebi que tinha caído muito bem e achei que poderia ser um ídolo da torcida. Não guardo mágoa, mas fico triste por não ter sido ouvido quando poderia ficar por mais três anos. Fui para o Milan com um contrato mais curto e não fui tão feliz como poderia ter sido no São Paulo, com menos dinheiro.
GE.NET: Por ter sido campeão da Libertadores e do Mundial em tão pouco tempo, você não acha que é um ídolo?
Amoroso: Eu me considero. Os torcedores sabem que sempre entrei em campo com muita dedicação, garra e carinho pelo clube, seja no Brasileirão, na Libertadores, no Mundial ou na Sul-americana. Fico feliz por fazer parte da história do São Paulo e acho que faço parte desse time de ídolos. Muitos jogadores jogaram mais tempo, mas não ganharam tanto quanto o Amoroso com a camisa do São Paulo. Não saí por questão financeira. Falei que ia mudar o nome do Morumbi para Moruntri e está assim até hoje (risos)!
GE.NET: A forma como saiu do clube não atrapalhou?
Amoroso: Alguns pensam que por eu ter ido para o Milan e depois para o Corinthians, não posso ser considerado um ídolo. Fui criado no Guarani e nunca jogaria na Ponte Preta, mas não vou ser o último e nem fui o primeiro jogador que saiu do São Paulo e jogou por um clube rival. Não fui procurado para voltar quando não estava feliz no Milan. O São Paulo deveria ter aberto as portas, mas só falou comigo quando já estava certo com o Corinthians.
Menos de um ano após o título, jogador foi para o rival Corinthians e irritou os tricolores
GE.NET: Sua passagem pelo Corinthians, em 2006, foi apagada. Se arrepende de ter ido para lá?
Amoroso: Era um momento difícil no clube. O Corinthians atravessava uma fase muito complicada, com indefinições de patrocinador e na diretoria. Ninguém sabia quem mandava ou em quem confiar. Sabia que seria difícil construir uma história como fiz no São Paulo, mas disse que não ia deixar o time cair. E não caiu.
GE.NET: Não tem saudades de ouvir a torcida gritando que você "é um terror"? Não vai mais voltar a jogar futebol?
Amoroso: Daqui pra frente meu rumo é outro. Estou na área de construção, empreendedorismo, e agora trabalho de terno e gravata (risos). Recentemente joguei pelo São Paulo no Showbol [modalidade parecida com o futebol society, que reúne ex-jogadores de futebol] e senti aquele gostinho novamente. Quem sabe no Showbol eu não possa jogar pelos dois clubes que gosto? Guarani e São Paulo.
GE.NET: Tem um recado para deixar aos torcedores do São Paulo?
Amoroso: Eu agradeço principalmente aos companheiros que jogavam comigo. Agradeço também à Torcida Independente, que sempre acreditou no meu trabalho. Momentos antes da partida contra o Liverpool, integrantes da Independente falaram comigo e me pediram pelo amor de Deus para jogar tudo que sabia e já havia mostrado em outros clubes. Eu disse a eles que podiam ficar tranquilos, pois não iriam se decepcionar. O que vale é o carinho dos torcedores que estão sempre torcendo, na chuva, no sol ou na neve. Acertei com o São Paulo sem luvas, com salário muito abaixo do que merecia, mas me sentia bem, o clube é maravilhoso. Se eu tivesse ficado, o São Paulo seria tetra, porque não teria perdido a Libertadores de 2006 para o Inter.
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