Há marcas que o passar dos anos não consegue apagar. Os jovens torcedores são-paulinos talvez não saibam quem foi José Carlos Serrão, ou simplesmente Zé Carlos. Meia-atacante habilidoso e de drible fácil, o hoje técnico do Sertãozinho-SP chegou ao Tricolor Paulista em 1965, com apenas 15 anos de idade, e jogou entre os profissionais do clube do Morumbi entre 1969 e 1977, conquistando três tÃtulos paulistas (1970, 1971 e 1975).
Presença frequente na seleção paulista durante a década de 70, Zé Carlos esteve até relacionado pelo técnico Zagallo em uma pré-lista para a Copa do Mundo de 1974, sendo afastado devido a uma cirurgia no menisco. O ex-atleta lembra os bons tempos no forte time são-paulino de Pedro Rocha e Mirandinha e não esconde seu carinho pelo clube. Até a moda de cabelo "Black Power" da época vem à mente.
- Sou são-paulino de coração e sou muito grato por tudo o que vivi no São Paulo. Eu era um meia-atacante franzino, habilidoso e extremamente técnico. Não fui muito de fazer gols, mas municiava bem os nossos atacantes. O meu cabelo estilo 'Black Power' também chamava a atenção. Estava na moda. O Serginho Chulapa, o Paulo César Caju... muitos tinham aquele cabelo. E o São Paulo daquele tempo era um timaço. Lembro do Pedro Rocha, do Mirandinha, do Forlán. Era uma grande equipe aquela - comentou.
Porém, o carinho pelo clube que o revelou e os 28 gols que marcou com a camisa são-paulina não foram suficientes para afastar um fantasma do passado. No dia 19 de outubro de 1974, São Paulo e Independiente realizaram a terceira e decisiva partida da Taça Libertadores daquele ano. Na primeira, o Tricolor havia vencido por 2 a 1, no Pacaembu. Os argentinos fizeram 2 a 0 na segunda partida, em Avellaneda, e forçaram o confronto de desempate, que aconteceu em Santiago do Chile. Quem vencesse seria o campeão continental de 1974. E eis que, há 35 anos, o destino marcaria para sempre a vida de Zé Carlos.
- O time do Independiente era muito bom, eles também tinham ganhado a Libertadores de 72 e 73. Foram três partidas equilibradas. Era a escola argentina contra a brasileira, e no último jogo qualquer coisa poderia ter acontecido - disse Zé Carlos.
O Independiente abriu o placar com Pavoni, cobrando pênalti, aos 37 minutos do primeiro tempo. Aos 27 minutos da etapa final, Zé Carlos sofreu uma penalidade, e o São Paulo teria a chance de empatar o duelo e levar a disputa do tÃtulo para a prorrogação. O Ãdolo tricolor Pedro Rocha, que havia feito quatro infiltrações no tornozelo para jogar a partida, não reunia condições ideais para cobrar a penalidade. Com isso, a responsabilidade caiu nos pés de Zé Carlos Serrão.
- Eu sofri o pênalti e segurei a responsabilidade. O goleiro deles defendeu a cobrança, e nós acabamos perdendo por 1 a 0 e ficamos sem o tÃtulo daquela Libertadores. Eu era jovem, tinha acabado de completar 24 anos, e senti mais que os outros. É difÃcil de explicar depois de tantos anos. Bate um sentimento de culpa até hoje, de incompetência mesmo - lembrou.
Após a perda do tÃtulo da Libertadores de 1974, a volta por cima veio no Paulistão de 1975. O São Paulo terminou a primeira fase invicto e se sagrou campeão em cima da Portuguesa, com um quarteto formado por Pedro Rocha, Muricy Ramalho, Serginho Chulapa e Zé Carlos.
- Depois daquela Libertadores que perdemos, o time ficou 58 partidas invicto. Ninguém quebra esse recorde. Depois fomos campeões paulistas na disputa de pênaltis, em que o Waldir Peres brilhou e fechou o gol.
Zé Carlos deixou o time do Morumbi em 1977, aos 26 anos, para jogar pelo Botafogo-PB, onde foi campeão estadual logo no mesmo ano. Após uma passagem também vitoriosa pelo Joinville-SC, em 1978, ele encerrou sua carreira no Deportivo Cúcuta, da Colômbia, em 1980.
- Eu só joguei por quatro clubes, algo difÃcil de se imaginar hoje em dia. Encerrei a carreira de jogador com uns 30 anos de idade. Eu estava com problemas de contusão, e ajudei pouco o meu time na Colômbia - recordou.
Em 1983, Zé Carlos aceitou convite da diretoria do São Paulo e assumiu a função de treinador interino (era funcionário do clube), comandando o time em quatro ocasiões. Na mais importante delas, em 1986, treinou o Tricolor no inÃcio da campanha do tÃtulo brasileiro. Depois, ao longo dos anos, foi técnico de diversas equipes de pequeno e médio porte do futebol brasileiro e duas do exterior (de Polônia e Coreia do Sul). E aÃ, deixou de ser Zé Carlos para se transformar em José Carlos Serrão.
- Eu era auxiliar na base do São Paulo. Depois fui para o profissional e assumi algumas vezes como interino. Foi aà que iniciei a carreira de técnico. Em 86, dirigi o São Paulo no inÃcio da caminhada do tÃtulo brasileiro. Eu fiquei nove meses e depois saà para a entrada do Pepe. Hoje eu sou conhecido como José Carlos Serrão, por isso alguns torcedores do São Paulo não lembram de mim como jogador do clube - contou.
Atual treinador do Sertãozinho-SP, João Carlos Serrão vem mostrando serviço. Ele assumiu a equipe em março de 2009 e já conseguiu o acesso para a Série A1 do Paulistão. Com isso, o Touro dos Canaviais, como é conhecida a equipe, está de volta à elite do principal futebol do paÃs.
Eu estou muito feliz no Sertãozinho. Quando cheguei, o time estava para cair. Mantivemos a equipe na A2 e acabamos subindo para a A1. Foi um desempenho excepcional. Uma das minhas melhores marcas na carreira de treinador. Espero que no ano que vem o time consiga se destacar entre os grandes - encerrou o ex-jogador.
Ficha:
Nome completo José Carlos Serrão
Data de nasc. 12 de Outubro de 1950(12-10-1950) (59 anos)
Local de nasc. São Paulo, Brasil
TÃtulos:
Como jogador
Campeonato Paulista: 1970, 1971 e 1975
Campeonato Paraibano: 1977
Campeonato Catarinense: 1978
Como treinador
Campeonato Paulista: 1981 e 1985
Campeonato Brasileiro: 1986
Campeonato Mineiro (Módulo 2): 1998
Hoje técnico do Sertãozinho-SP, Zé Carlos relembra encontro com Pelé nos gramados. Na época, o atual comandante do 'Touro dos canaviais' defendia o São Paulo e usava o cabelo grande, estilo Black Power
Presença frequente na seleção paulista durante a década de 70, Zé Carlos esteve até relacionado pelo técnico Zagallo em uma pré-lista para a Copa do Mundo de 1974, sendo afastado devido a uma cirurgia no menisco. O ex-atleta lembra os bons tempos no forte time são-paulino de Pedro Rocha e Mirandinha e não esconde seu carinho pelo clube. Até a moda de cabelo "Black Power" da época vem à mente.
- Sou são-paulino de coração e sou muito grato por tudo o que vivi no São Paulo. Eu era um meia-atacante franzino, habilidoso e extremamente técnico. Não fui muito de fazer gols, mas municiava bem os nossos atacantes. O meu cabelo estilo 'Black Power' também chamava a atenção. Estava na moda. O Serginho Chulapa, o Paulo César Caju... muitos tinham aquele cabelo. E o São Paulo daquele tempo era um timaço. Lembro do Pedro Rocha, do Mirandinha, do Forlán. Era uma grande equipe aquela - comentou.
Porém, o carinho pelo clube que o revelou e os 28 gols que marcou com a camisa são-paulina não foram suficientes para afastar um fantasma do passado. No dia 19 de outubro de 1974, São Paulo e Independiente realizaram a terceira e decisiva partida da Taça Libertadores daquele ano. Na primeira, o Tricolor havia vencido por 2 a 1, no Pacaembu. Os argentinos fizeram 2 a 0 na segunda partida, em Avellaneda, e forçaram o confronto de desempate, que aconteceu em Santiago do Chile. Quem vencesse seria o campeão continental de 1974. E eis que, há 35 anos, o destino marcaria para sempre a vida de Zé Carlos.
- O time do Independiente era muito bom, eles também tinham ganhado a Libertadores de 72 e 73. Foram três partidas equilibradas. Era a escola argentina contra a brasileira, e no último jogo qualquer coisa poderia ter acontecido - disse Zé Carlos.
O Independiente abriu o placar com Pavoni, cobrando pênalti, aos 37 minutos do primeiro tempo. Aos 27 minutos da etapa final, Zé Carlos sofreu uma penalidade, e o São Paulo teria a chance de empatar o duelo e levar a disputa do tÃtulo para a prorrogação. O Ãdolo tricolor Pedro Rocha, que havia feito quatro infiltrações no tornozelo para jogar a partida, não reunia condições ideais para cobrar a penalidade. Com isso, a responsabilidade caiu nos pés de Zé Carlos Serrão.
- Eu sofri o pênalti e segurei a responsabilidade. O goleiro deles defendeu a cobrança, e nós acabamos perdendo por 1 a 0 e ficamos sem o tÃtulo daquela Libertadores. Eu era jovem, tinha acabado de completar 24 anos, e senti mais que os outros. É difÃcil de explicar depois de tantos anos. Bate um sentimento de culpa até hoje, de incompetência mesmo - lembrou.
Com o rosto circulado, Zé Carlos posa com time são-paulino que disputou a Libertadores de 1974
Após a perda do tÃtulo da Libertadores de 1974, a volta por cima veio no Paulistão de 1975. O São Paulo terminou a primeira fase invicto e se sagrou campeão em cima da Portuguesa, com um quarteto formado por Pedro Rocha, Muricy Ramalho, Serginho Chulapa e Zé Carlos.
- Depois daquela Libertadores que perdemos, o time ficou 58 partidas invicto. Ninguém quebra esse recorde. Depois fomos campeões paulistas na disputa de pênaltis, em que o Waldir Peres brilhou e fechou o gol.
Zé Carlos deixou o time do Morumbi em 1977, aos 26 anos, para jogar pelo Botafogo-PB, onde foi campeão estadual logo no mesmo ano. Após uma passagem também vitoriosa pelo Joinville-SC, em 1978, ele encerrou sua carreira no Deportivo Cúcuta, da Colômbia, em 1980.
- Eu só joguei por quatro clubes, algo difÃcil de se imaginar hoje em dia. Encerrei a carreira de jogador com uns 30 anos de idade. Eu estava com problemas de contusão, e ajudei pouco o meu time na Colômbia - recordou.
De bigode, do lado esquerdo, Zé Carlos posa com comissão técnica e atletas na conquista do Paulista de 85
Em 1983, Zé Carlos aceitou convite da diretoria do São Paulo e assumiu a função de treinador interino (era funcionário do clube), comandando o time em quatro ocasiões. Na mais importante delas, em 1986, treinou o Tricolor no inÃcio da campanha do tÃtulo brasileiro. Depois, ao longo dos anos, foi técnico de diversas equipes de pequeno e médio porte do futebol brasileiro e duas do exterior (de Polônia e Coreia do Sul). E aÃ, deixou de ser Zé Carlos para se transformar em José Carlos Serrão.
- Eu era auxiliar na base do São Paulo. Depois fui para o profissional e assumi algumas vezes como interino. Foi aà que iniciei a carreira de técnico. Em 86, dirigi o São Paulo no inÃcio da caminhada do tÃtulo brasileiro. Eu fiquei nove meses e depois saà para a entrada do Pepe. Hoje eu sou conhecido como José Carlos Serrão, por isso alguns torcedores do São Paulo não lembram de mim como jogador do clube - contou.
Atual treinador do Sertãozinho-SP, João Carlos Serrão vem mostrando serviço. Ele assumiu a equipe em março de 2009 e já conseguiu o acesso para a Série A1 do Paulistão. Com isso, o Touro dos Canaviais, como é conhecida a equipe, está de volta à elite do principal futebol do paÃs.
Eu estou muito feliz no Sertãozinho. Quando cheguei, o time estava para cair. Mantivemos a equipe na A2 e acabamos subindo para a A1. Foi um desempenho excepcional. Uma das minhas melhores marcas na carreira de treinador. Espero que no ano que vem o time consiga se destacar entre os grandes - encerrou o ex-jogador.
Ficha:
Nome completo José Carlos Serrão
Data de nasc. 12 de Outubro de 1950(12-10-1950) (59 anos)
Local de nasc. São Paulo, Brasil
TÃtulos:
Como jogador
Campeonato Paulista: 1970, 1971 e 1975
Campeonato Paraibano: 1977
Campeonato Catarinense: 1978
Como treinador
Campeonato Paulista: 1981 e 1985
Campeonato Brasileiro: 1986
Campeonato Mineiro (Módulo 2): 1998
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