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Estúdio de dreadmaker mantém africanos da base do São Paulo conectados às suas raízes

Neste Dia da Consciência Negra, o empreendedor Alisson Costa promete valorizar as origens do povo preto. O dreadmaker de apenas 26 anos tornou-se uma referência na capital paulista, enquanto monta o estúdio em um sobrado na Vila Vermelha, na zona sul.

Ali, o espaço de 32m² tornou-se um local de empoderamento e uma segunda casa para os africanos Azeez e Faisal, do sub-20 do São Paulo .

– Aumento sua “afroestima” – promete Alisson aos seus clientes.

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O atacante nigeriano e o ponta ganês conheceram Alisson por intermédio de Ythallo, companheiro em Cotia. O zagueiro é um exemplo da "afroestima" valorizada pelo estúdio de cabelo de Alisson, exibindo seus dreads nos jogos do Tricolor.

A partir desse contato, Azeez e Faisal ganharam um lugar para se aproximar das raízes. Ambos compartilham o trabalho do dreadmaker nas redes sociais e promovem o orgulho comemorado neste 20 de novembro.

– Sabemos quanto nosso cabelo durante muito tempo foi desprezado e visto como cabelo ruim. Hoje, o cabelo é uma forma de empoderamento e de firmar nossa identidade. Faz parte da autoestima e de como nos vemos, nos amamos, nos cuidamos e como enxergamos o mundo – comentou Alisson.

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Alisson Costa exibe com orgulho o estúdio que virou "casa" de Faisal e Azeez — Foto: José Edgar de Matos

Alisson Costa exibe com orgulho o estúdio que virou "casa" de Faisal e Azeez — Foto: José Edgar de Matos

Em conversa com a reportagem do ge , Alisson sorriu todo o tempo ao falar sobre a "afroestima" do estúdio e a amizade com os africanos do São Paulo . O alcance do trabalho do dreadmaker atinge também outras personalidades do esporte, como Tchê Tchê, do Botafogo, e o ex-jogador Zé Roberto.

Por meio do cabelo vem a mensagem de resistência nos gramados, e Alisson sonha com ainda mais atletas ampliando essa palavra.

– Acho importante que a gente e, principalmente, os jogadores assumam seu cabelo natural, seu cabelo crespo, se empoderar disso, se conectar com as nossas raízes e com a nossa cultura para a gente ser cada vez mais respeitado e promover a igualdade – destacou.

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África é logo ali

Faisal e Azeez frequentaram juntos o estúdio de cabelo de Alisson e Griloo — Foto: Arquivo Pessoal

Faisal e Azeez frequentaram juntos o estúdio de cabelo de Alisson e Griloo — Foto: Arquivo Pessoal

Alisson e os atacantes do São Paulo rompem a barreira do idioma nos encontros. Gestos e o Google tradutor aproximam Brasil e África.

As idas ao estúdio criaram proximidade suficiente para Azeez até apresentar a família a Alisson. Graças à tecnologia, o nigeriano coloca os parentes em contato com o dreadmaker durante sessões no estúdio localizado na zona sul paulistana.

– Estava até falando como Faisal há pouco (antes da entrevista) . Eles falam pouco português, mas ficam bem à vontade. É difícil encontrar lugares que fazem cabelos afro, dreads. A gente tem uma amizade legal, canta, dança e sempre estamos trocando mensagens – comentou.

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– Temos uma troca bacana, às vezes acabo ensinando um pouco de português e eles me ensinando o idioma deles. Bom para todo mundo se adaptar, gosto de deixá-los bem à vontade – acrescentou.

Alisson Costa recebe o nigeriano Azeez no estúdio localizado na Vila Vermelha — Foto: Arquivo Pessoal

Alisson Costa recebe o nigeriano Azeez no estúdio localizado na Vila Vermelha — Foto: Arquivo Pessoal

Teia do futebol

Azeez e Faisal chegaram ao estúdio por indicação de Ythalo. Quem introduziu Alisson ao “mundo da bola”, porém, foi Ithamar Silva, empresário e irmão de Tchê Tchê.

A teia de amizades rapidamente chegou a Zé Roberto e Yerry Mina, ex-Palmeiras e que levou o dreadmaker até para a concentração da Colômbia na Copa América de 2019.

Camisa da Colômbia exibida é recordação do trabalho na Copa América — Foto: José Edgar de Matos

Camisa da Colômbia exibida é recordação do trabalho na Copa América — Foto: José Edgar de Matos

A relação trabalhador-cliente se tornou amizade, apesar da saída de Mina do Palmeiras para o futebol europeu. Com Zé Roberto, alguém mais próximo geograficamente, Alisson ouve e absorve.

– O Zé fala muito para eu cuidar da minha saúde e me dá muito conselho: sempre fala que se faz bem para o corpo faz bem para a mente – relatou, sobre os contatos com o ex-atleta da seleção brasileira.

Entre mudanças de visual e sessões com jogadores, a pauta antirracista é presente. Alisson abraçou a própria identidade há alguns anos, no primeiro contato profissional com o cabelo afro.

Zé Roberto virou um conselheiro de Alisson Costa — Foto: Arquivo Pessoal

Zé Roberto virou um conselheiro de Alisson Costa — Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, o papo é natural com atletas que se sentem seguros no espaço para discutirem suas identidades e se empoderarem. Mas, para Alisson, o processo demorou e teve momentos de dor.

– Começou com os estudos. Eu cresci sendo uma pessoa sem essa identidade. Não gostava do meu cabelo. Eu não me entendia como um homem preto – desabafou.

Casos de racismo no futebol cresceram

A discussão sobre racismo no estúdio de Alisson Costa com jogadores ganha capítulos diante de uma estrutura preconceituosa vigente na sociedade.

Os estádios brasileiros ainda são um espaço tolerante com o preconceito racial. De acordo com levantamento do Observatório da Discriminação Racial do Futebol, o aumento de ocorrências de racismo no futebol nacional subiu 40% entre 2021 e 2022.

Trap é a trilha sonora básica do estúdio de Alisson Costa — Foto: José Edgar de Matos

Trap é a trilha sonora básica do estúdio de Alisson Costa — Foto: José Edgar de Matos

Somente no ano passado foram comprovados 90 casos de racismo no futebol brasileiro. A entidade carrega a tese que os números subiram também pelo aumento da consciência de atletas e agentes do jogo sobre a necessidade de denunciar as ofensas.

Alisson, em um meio diferente, passou por esse processo de reconhecimento.

– A partir daquele contato no salão afro, vi pessoas falando sobre racismo e passei a perceber: “pô, isso que eles estão falando aconteceu comigo”. Ali comecei a estudar, saber com mais profundidade sobre a escravidão e conhecer referências pretas. É um processo dolorido – contou.

O diálogo e o conhecimento surgem como combatentes diante do preconceito, como reitera o profissional no bate-papo com a reportagem e na fala citada há pouco.

A partir de um salão de pouco mais de 30m², os são-paulinos Faisal e Azeez se sentem em casa, e jogadores conseguem ter conforto para discutir sobre um assunto ainda às vezes tratado como tabu em uma estrutura de sociedade que caminha passo a passo para evoluir.

Ythallo, zagueiro da base do São Paulo, indicou o trabalho de Alisson aos africanos — Foto: José Edgar de Matos

Ythallo, zagueiro da base do São Paulo, indicou o trabalho de Alisson aos africanos — Foto: José Edgar de Matos

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Comentários (1)
20/11/2023 20:41:18 ANDERSON ALVES DA SILVA

Esses jovens merecem ser testados no Paulistão

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