Finais costumam ser jogos que povoam a mente dos treinadores muito antes de começarem. São partidas que passam mil vezes na mente dos técnicos, enquanto penam estratégias e tentam detectar fragilidades no adversário. Por isso, é tão surpreendente ver uma decisão ter um gol ensaiado exaustivamente durante 45 minutos. Dorival Júnior se preparou para explorar o lado direito da defesa do Flamengo, que viu o gol dos paulistas se desenhar repetidamente sem qualquer intervenção de Jorge Sampaoli. Não foi por falta de aviso.
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Flamengo 0 x 1 São Paulo - Melhores momentos - 1º jogo da final - Copa do Brasil 2023
O argentino definiu a função de Gabigol como a de um “ponta fechado”. Ou seja, ele partiria da ponta direita, mas não atuaria aberto. Não é a primeira vez que se tenta tal solução para fazer o hoje camisa 10 atuar junto a um centroavante. E, em todos os casos, a marcação pelo lado direito foi a grande vulnerabilidade. O tema apareceu com Paulo Sousa, voltou com Vítor Pereira e agora com Sampaoli.
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Gabigol não tem a recomposição como característica, e a exposição a Wesley seria uma consequência natural. O que mais chama atenção é que Dorival Júnior, para explorar o setor, fez o que se anunciava como previsível: escalou Rodrigo Nestor, um meia que partia da ponta esquerda, fechando para o centro do campo até, em seguida, explorar as costas de Wesley.
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Calleri sobe para cabecear em Flamengo x São Paulo — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Calleri sobe para cabecear em Flamengo x São Paulo — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
O primeiro aviso veio num lance aparentemente desimportante. Caio Paulista recebe a bola em seu campo defensivo. Como Gabigol participava da vigilância aos zagueiros do São Paulo, mais especificamente Beraldo, Wesley avança para pressionar o lateral tricolor. Neste momento, Rodrigo Nestor se prepara para fazer o movimento ensaiado: a diagonal às costas de Wesley. É interessante reparar, na imagem abaixo, Lucas abrindo os braços. Ele está livre, porque Pulgar passaria o jogo sobrecarregado com dois meias do São Paulo para vigiar: Nestor e o próprio Lucas. O lance não tem sequência porque Caio erra o passe.
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Caio Paulista recebe e Nestor se move às suas costas — Foto: Reprodução
Caio Paulista recebe e Nestor se move às suas costas — Foto: Reprodução
Pouco mais de três minutos depois, Beraldo recebe a bola para sair jogando e Gabigol corre para pressioná-lo.
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Gabigol parte para pressionar Beraldo — Foto: Reprodução
Gabigol parte para pressionar Beraldo — Foto: Reprodução
Era o segundo aviso, porque o passe encontra Caio Paulista desmarcado e provoca uma tentativa de Wesley de marcar o lateral adversário. Naturalmente, Nestor já está às suas costas. Mas neste lance acaba entrando em impedimento.
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Nestor recebe, mas está impedido — Foto: Reprodução
Nestor recebe, mas está impedido — Foto: Reprodução
Aos 16 minutos, outro aviso. Na imagem abaixo, Caio Paulista se prepara para receber uma inversão de bola feita por Rafinha, deixando clara a orientação do São Paulo para realizar sempre este tipo de jogada. Gabigol está no meio do caminho, distante para marcar Caio. Wesley corre para tentar recuperar espaço, enquanto Nestor faz a diagonal às suas costas outra vez. E Pulgar fica entre seguir Nestor ou vigiar Lucas Moura.
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Inversão de bola pega Caio Paulista livre — Foto: Reprodução
Inversão de bola pega Caio Paulista livre — Foto: Reprodução
O resultado, visto no frame a seguir, é que Fabrício Bruno vai tentar evitar o cruzamento, sem sucesso. O lance termina em finalização de Calleri. Não por acaso, o gol teve roteiro parecido.
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Primeira finalização de Calleri no jogo — Foto: Reprodução
Primeira finalização de Calleri no jogo — Foto: Reprodução
Mas, antes dele, veio mais uma jogada em que o São Paulo seguiu o mesmo roteiro. Outro passe para Caio Paulista, novamente Pulgar está em desvantagem contra Lucas Moura e Rodrigo Nestor, e outra vez o meia corre em diagonal para a ponta, no buraco entre Wesley e Fabrício Bruno.
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Outra vez, Caio Paulista recebe com espaço — Foto: Reprodução
Outra vez, Caio Paulista recebe com espaço — Foto: Reprodução
O mais curioso deste lance aparece a seguir. Nestor está um tanto distante de ocupar o espaço na ponta e Dorival Júnior, da área técnica, corre, salta e gesticula de maneira enfática para que o meio-campista faça a diagonal.
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Dorival pede a Nestor que faça a corrida em diagonal — Foto: Reprodução
Dorival pede a Nestor que faça a corrida em diagonal — Foto: Reprodução
E o treinador tinha razão. Como Nestor não consegue se colocar em boa posição para receber, Caio Paulista força o lance pelo meio e acaba desarmado.
Mas haveria outras oportunidades de repetir a mesmíssima jogada. Dois minutos depois, Pablo Maia recebe e, novamente, mira o passe em Caio Paulista. O Flamengo terminara um ataque e parecia despreparado para defender. Gabigol tem, novamente, Caio Paulista às suas costas.
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Pablo Maia prepara o passe para Caio Paulista — Foto: Reprodução
Pablo Maia prepara o passe para Caio Paulista — Foto: Reprodução
Na sequência, Wesley volta a se ver contra dois adversários. Caio Paulista segue a jogada na direção do centro do ataque e, mais uma vez, a descompensação do Flamengo deixa Lucas como boa opção de passe. O lance termina em finalização travada de Wellington Rato.
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Caio Paulista conduz a bola na direção do centro do ataque — Foto: Reprodução
Caio Paulista conduz a bola na direção do centro do ataque — Foto: Reprodução
E embora estabelecesse uma vantagem tática, o São Paulo não conseguia transformá-la em grandes chances de gol. Tecnicamente, nem era um jogo extraordinário dos paulistas. Ou seja, o Flamengo teve tempo para corrigir o problema. Tanto que o gol só sai nos acréscimos da primeira etapa, desta vez iniciado numa inversão de bola de Wellington Rato para Caio Paulista. Neste momento, Nestor ainda está no círculo central.
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O início da jogada do gol do São Paulo — Foto: Reprodução
O início da jogada do gol do São Paulo — Foto: Reprodução
A seguir, o meia do São Paulo já está partindo para buscar as costas de Wesley, após gestos enérgicos de Dorival na área técnica.
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Nestor se prepara para explorar as costas de Wesley — Foto: Reprodução
Nestor se prepara para explorar as costas de Wesley — Foto: Reprodução
Em desvantagem, Wesley não consegue evitar o passe de Caio Paulista para Nestor.
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Wesley não evita o passe — Foto: Reprodução
Wesley não evita o passe — Foto: Reprodução
Com tempo para cruzar até que o lateral do Flamengo se recomponha na marcação, o meia encontra a cabeçada de Calleri.
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Nestor cruza para o gol de Calleri — Foto: Reprodução
Nestor cruza para o gol de Calleri — Foto: Reprodução
O jogo se decide aí, porque o volume de jogo rubro-negro no segundo tempo não é acompanhado por movimentos coordenados que permitissem entrar na defesa do São Paulo. O tricolor, aliás, defendeu com certo conforto. No entanto, foi conservador demais diante de um adversário que se expunha claramente. O primeiro jogo da final, aliás, deixou muito a desejar tecnicamente. Dos dois lados. O time de Dorival Júnior foi inteligente ao planejar como encontraria o gol no primeiro tempo mas, a rigor, ofereceu pouca coisa a mais.
O Flamengo, em meio a seu caos coletivo, terá sempre a esperança em seus talentos. E o São Paulo também chegou à decisão em meio a oscilações. Durante toda a temporada, mostrou-se um time que tem seus acertos e suas limitações. Diante disso, é impossível dizer que o título está decidido antes do jogo no Morumbi.