O avanço do coronavírus e a suspensão do futebol no Brasil por tempo indeterminado levou os principais clubes do país a se mobilizarem para garantir a sobrevivência financeira. Com a maior parte das fontes de receita se esgotando, a prioridade, desde sexta-feira, é uma negociação trabalhista com atletas para reduzir salários e direito de imagem - a iniciativa, entretanto, foi mal recebida principalmente pelos atletas de elite, com os maiores vencimentos.
Paralelamente, diretores financeiros dos principais clubes elaboraram um pacote mais abrangente de medidas para discussão, incluindo congelamento de débitos com o poder público, isenções de impostos e antecipação de verbas.
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A linha geral da proposta aos atletas surgiu na última sexta, em uma reunião por vídeo com a presença de quase 50 clubes das séries A, B e C do Campeonato Brasileiro. O pacote envolve férias imediatas de 30 dias, a partir dessa semana, para os jogadores; a partir do 31º dia, caso a situação não esteja normalizada, redução de 50% nos salários e direitos de imagem; se depois de mais 30 dias a suspensão dos torneios persistir, seria permitida a suspensão dos contratos até que a pandemia seja superada.
Há debate sobre definir um piso às medidas, aplicando apenas nos vencimentos superiores a R$ 40 mil mensais. Há pequenas divergências internas e opções em debate, como suspender pagamento apenas de direitos de imagem, mas, em linhas gerais, a discussão é sobre um corte dos vencimentos de atletas pela metade dentro de 30 dias.
Dirigentes ouvidos pela reportagem avaliam que a sugestão inicial citada nessa reportagem foi considerada positiva pelos sindicatos estaduais, e, por sugestão das próprias entidades, passou a ser enviada a alguns jogadores durante o final de semana.
Porém, entre os atletas, a primeira reação foi de indignação e não aceitação das condições, principalmente entre os que atuam na elite do futebol nacional, que defendem clubes da Série A e são donos dos maiores salários. O UOL Esporte teve acesso a manifestações nas quais jogadores de renome reclamam que seguem tendo despesas mensais e que não aceitarão cortes salariais.
A reação causa apreensão e até pânico nos clubes do país. Cartolas de cinco diferentes clubes da Série A afirmaram à reportagem que já lidam com pedidos de patrocinadores para suspender os pagamentos, já que não há mais exposição de imagem. As receitas de transmissão da Globo são as únicas garantidas no momento, mas há receio de que isso possa mudar nos próximos dias.
Os dirigentes argumentam que o pacote é razoável, já que os jogadores de fato não estão trabalhando, e, com os 30 de férias e os cerca de 15 dias desde a generalização da pandemia, teriam 45 dias de recebimento integral de salários antes que começassem a sofrer efeitos financeiros.
Uma nova reunião é prevista para a manhã desta segunda-feira, para seguir debatendo o caso. O prazo para adoção e anúncio das medidas é curto também - isso deve acontecer a partir de quarta-feira, ainda essa semana, mesmo que deflagre um conflito entre times e seus jogadores.
Diretores financeiros articulam pacote mais abrangente
A questão trabalhista dos atletas é a mais urgente, mas não é a única em pauta nos clubes do Brasil. A Associação Brasileira de Executivos Financeiros do Futebol (Abeff), presidida pelo diretor financeiro do São Paulo, Elias Albarello, e que reúne dirigentes de finanças de vários times do país, preparou um pacote de sugestões que está sobre a mesa e será debatido no decorrer da semana. Um prazo final para uma decisão acontece em 30 de março.
Um documento elaborado pela Abeff e obtido pelo UOL Esporte, dirigido a diversos órgãos do governo federal, a tribunais nacionais, à Globo, à CBF e à Turner, apresenta medidas amplas chamadas de necessárias para a "manutenção econômica do futebol brasileiro em função da pandemia de Covid-19". São três frentes: medidas relativas a taxas, tributos e questões trabalhistas; medidas relativas a custeio de competições e medidas relativas a receitas e geração de caixa.
A órgãos do governo Jair Bolsonaro a Abeff sugere a suspensão de pagamentos do Profut outros programas de parcelamento de impostos por 12 meses, além da suspensão da cobrança dos próprios impostos federais (IRRF, INSS, FGTS, PIS, COFINS). No âmbito trabalhista, a permissão para acordos de redução de salários não só de jogadores, mas também de funcionários e colaboradores, além da possibilidade de suspender o pagamento de acordos já existentes firmados em ações judiciais e negociações, sem que isso resulte em qualquer multa ou penalidade.
Os diretores financeiros sugerem pedir à CBF que, quando aconteça o retorno das competições, ela custeie as despesas logísticas das equipes no Campeonato Brasileiro, assim como despesas de arbitragem, exames antidoping e outros. Além disso, também falam em isenção das taxas de registro de jogadores. A discussão sobre mudanças de calendário - uma hipotética adequação ao modelo europeu, com o Brasileiro invadindo o primeiro semestre de 2021, ou a mudança de fórmula para 'mata-mata' foram deixadas na gaveta, a pedido de Walter Feldmann, secretário geral da confederação, conforme apurou a reportagem.
A CBF ainda demonstra otimismo nos bastidores para a manutenção do Brasileirão como previsto em 2020. Mais: mesmo com adequações, há intenção de terminar os Estaduais, a pedido das federações locais, que costumam faturar o melhor da temporada nas finais dos torneios. O anseio, no entanto, não encontra muitas adesões entre os clubes da Série A.
Há ainda um pedido de criação de um fundo emergencial de socorro a clubes por parte da CBF, liberação de antecipação de receitas de TV e aceleração na liberação de programas de apostas que possam gerar receita extra. O documento, no entanto segue em debate, e ainda não foi encaminhado a autoridades.
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