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Helena: Entre a fé e a razão

O São Paulo é conhecido, desde sempre como o Clube da Fé. Por várias razões fincadas na sua origem, a partir do nome do santo convertido na estrada de Damasco. E também porque foi uma fé inabalável que o fez renascer das cinzas por duas vezes: com a extinção do departamento de futebol do Paulistano, fruto do advento do profissionalismo, no início da década de 30, ex-jogadores (dentre eles, Friedenreich, o primeiro grande ídolo nacional) e torcedores do clube alvirrubro resolveram fundar o São Paulo FC, mais conhecido como São Paulo da Floresta.

Campeão paulista em 31, esse São Paulo, um esquadrão, sucumbiu sob as dívidas arcadas com a aquisição da luxuosa sede no prédio Trocadero, para ser ressuscitado um ano depois, em 36, na mais extrema modéstia. Basta dizer que os torcedores saíam às ruas com bandeiras e lençóis, pedindo donativos para recolocar de pé o Tricolor (as cores da Bandeira das Treze Listras e também a soma do vermelho do Paulistano com o branco e o preto do Palmeiras da Floresta, com quem o antigo São Paulo se fundira).

Por fim, a figura central de Monsenhor Bastos a fundir sua imagem religiosa ao clube que ele ajudava a fundar novamente. Ajudava não apenas distribuindo bênçãos ao Clube da Fé, mas também transformando a Torre da Igreja da Consolação num claustro dos boêmios rapazes da época, às vésperas de cada jogo importante do São Paulo. Mais do que uma concentração de time de futebol, um retiro de fé.

Mas, a fé - aliás, traço comum entre todos os clubes de futebol e seus torcedores -, com o passar do tempo, foi cedendo espaço à razão. E aquele São Paulo perdulário da Floresta, transformou-se no esquadrão dos anos 40, para, na década seguinte empreender sua mais árdua jornada: a construção do Morumbi. E quem pagou o pato foi o time de futebol, tão modesto nos anos 60. Foram treze anos de estiagem.

Apesar dos reclamos dos torcedores mal habituados pelos timaços do passado, o São Paulo firmou-se na razão para erguer o estádio que lhe forneceria base para, a partir dos anos 70, voltar a formar grandes e vencedores times.

Bem, de lá pra cá, a história é conhecida: foram títulos e mais títulos, e, quando não, sempre esteve ao redor de quase todas as disputas. E o que mais se ouve falar, quando se pretende desvendar o mistério desse São Paulo, é de que seu segredo está na estabilidade política do clube e na sua capacidade organizacional. Traduzindo: a razão acima da paixão.

É bem possível que assim seja. Mas, que, além da razão, o Tricolor precisou de muita fé e reza braba para tirar aqueles onze pontos de diferença em relação ao líder Grêmio, ah, disso precisou.

Trocadilhando: o São Paulo segue sendo o Clube da Fé, com toda razão.

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