
Todas as grandes finais e decisões que disputei ao longo na minha carreira foram marcantes, mas o título mundial de 1993 se tornou uma partida inesquecível graças ao gol inusitado que fiz no finalzinho.
Antes do jogo, vivi uma situação curiosa. Assim como em 1992, quando fomos campeões contra o Barcelona, eu cheguei ao Japão uma semana antes da final com muita dor no tornozelo esquerdo. Era exatamente a mesma lesão do ano anterior.
Foi uma coincidência muito grande e eu fiquei três dias sem conseguir treinar, só fazendo tratamento. O saudoso massagista Hélio Santos passava uma pomada anti-inflamatória e eu tinha de dormir com o pé todo enfaixado e enrolado em um plástico.

Mesmo sabendo que problemas nas articulações são diferentes de lesões musculares e que a recuperação não é tão demorada, a ansiedade era muito grande.
Não queria perder a partida por nada e só fui liberado para treinar faltando dois dias para o jogo. Ainda assim tive de fazer uma infiltração para poder jogar.
Normalmente, em decisões daquele peso, os técnicos gostam de fazer uma preparação diferenciada. Não tenho nada contra quem faz isso, mas o Telê Santana sempre teve um método de trabalho muito simples.

Ele não era de dar palestras sofisticadas. E a verdade é que no futebol não existe fórmula para o sucesso. Para vencer, você não precisa fazer nada estratosférico. E foi nesse clima de humildade que encaramos o Milan.
A partida começou bastante equilibrada, e o Milan chegou a acertar uma bola na trave, mas quem saiu na frente foi a gente com um gol do Palhinha depois de um cruzamento pela direita. Logo no início do segundo tempo, eles empataram. Não demorou muito e fizemos o segundo gol com o Cerezo. O problema é que o Milan empatou mais uma vez.

Aí veio o lance do meu gol. O Cerezo lançou e, na dividida com o goleiro, a bola acabou batendo no meu calcanhar e entrando. Uns cinco minutos antes do gol eu tinha tido uma discussão como Costacurta, e assim que a bola entrou eu virei e percebi que ele estava na minha frente. No calor da partida, fui em sua direção e o xinguei em italiano (Müller, que tinha defendido o Torino entre 1988 e 1991, falou para o zagueiro: “Este gol é para você, palhaço”).
Mas foi uma coisa de momento. Não tinha nada pessoal contra o Costacurta, tanto que no ano seguinte, nos Estados Unidos, nós nos encontramos na Copa do Mundo e conversamos normalmente.
Só fiquei triste de ter perdido a comemoração do título com o restante do elenco na volta ao Brasil. A Seleção Brasileira tinha um amistoso contra o México e eu, Zetti, Cafu e Palhinha fomos convocados pela CBF. Acabamos indo para a Cidade do México e perdemos a festa em São Paulo.

