Recentemente, tivemos a oportunidade de refletir sobre a arbitragem em um clássico entre São Paulo e Palmeiras, onde o time paulista se sentiu severamente prejudicado. Dois incidentes controversos, um pênalti não assinalado e a falta de expulsão de um jogador adversário, levantaram questionamentos sobre a atuação dos árbitros. O que ocorreu no Morumbi foi considerado por muitos como um escândalo, principalmente se levada em conta a importância e o impacto que erros desse tipo podem ter em partidas decisivas.
O técnico Hernán Crespo fez declarações que suscitaram dúvidas sobre sua sinceridade, ao afirmar que nunca havia vivenciado algo assim em seus 32 anos de carreira. Tal afirmação, considerando sua longa trajetória na Argentina e na Itália, parece exagerada, pois certamente ele esteve presente em situações muito mais graves do que as ocorridas na partida recente. Essa retórica pode servir para desviar o foco dos desafios que sua equipe enfrenta e das dificuldades de se adaptar às mudanças táticas do adversário.
Por outro lado, Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, deixou de aproveitar uma excelente oportunidade de se posicionar de maneira justa. Ao não reconhecer os erros de arbitragem que beneficiaram sua equipe, ele se juntou ao coro de treinadores que preferem não discutir questões que afetam o jogo. Um comentário simples sobre os erros que prejudicaram o adversário, reconhecendo que os benefícios passam e voltam, poderia ter contribuído significativamente para um debate mais construtivo sobre o assunto.
As declarações do dirigente José Boto, do Flamengo, também levantaram críticas. Em vez de focar nas questões pertinentes à sua equipe após uma derrota, ele desviou o assunto para outras partidas, o que foi visto como uma tentativa de escapar de suas próprias responsabilidades. Seu tom parecia denotar uma superioridade, como se ele viesse ao futebol brasileiro apenas para ensinar, mas se calasse em momentos em que seu time obtinha vitórias. Isso demonstra uma postura que não visa resolver problemas, mas sim agravar a temperatura das discussões no meio esportivo.
Em uma análise mais ampla, as punições aos árbitros e a intervenção da CBF demonstram que o problema da arbitragem brasileira é estrutural. A simples suspensão de árbitros, sem uma verdadeira profissionalização e independência do setor, é uma solução meramente simbólica. Os clubes, por sua vez, parecem usufruir dessa situação para justificar seus desempenhos frente a torcidas que ano após ano permanecem na crença de que são as únicas vítimas de um sistema problemático. Essa dinâmica perpetua a insatisfação e os pedidos de mudança, mas a verdadeira transformação ainda parece distante.