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Entrevista com Rogério Ceni

Rogério Ceni, completa nesta terça-feira, 7 de Setembro, 20 anos de São Paulo Futebol Clube.



São 924 jogos, 23 títulos no time profissional, 3 títulos na base, 90 gols marcados.



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Maior goleiro artilheiro da história do futebol.



O capitão São Paulino é considerado pela torcida um dos maiores jogadores da história do clube.



A diretoria aproveitou o anuncio da parceria com o BMG (26 milhões de reais por 10 meses) para homenagear o ídolo São Paulino.



Após o evento em que recebeu uma camisa comemorativa e uma bandeja de prata, Rogério conversou com a imprensa.



O Capitão São Paulino falou sobre os 20 anos de clube, do atual momento do time e do futuro.



Acompanhe os principais trechos da entrevista.


P – Você comemora 20 anos de São Paulo no momento em que a equipe dá sinais de reação no Brasileirão, isto te deixa aliviado?



RC – Fico contente pelas duas vitórias consecutivas, acho que é um momento em que melhora um pouco a esperança do torcedor.



Saímos daquela zona perigosa, que é a zona do rebaixamento e estamos no meio da tabela.



Fica aquela expectativa de saber se você vai conseguir brigar pela Libertadores, se você vai conseguir manter um bom nível de jogo, uma coisa que descobriremos dia após dia.


P – Quando você percebeu que estava entrando para história do clube não como mais um jogador e sim como o jogador?



RC - Eu entro como mais um jogador que vestiu esta camisa muitas vezes. Acho que essa proximidade com o clube foi ficando mais forte com o tempo, eu não me consigo ver jogando futebol em outro lugar.



Eu tenho uma grande paixão pelo futebol, pelo esporte, mas, minha grande paixão é entrar em campo vestindo a camisa do São Paulo.



Esta ligação aumenta a cada dia e deve durar até o final de minha carreira.


P – Você se lembra do primeiro teste que fez no CCT?


RC- Lembro, muitas pessoas que ainda estão trabalhando no clube participaram daquele primeiro teste. O Sergio Rocha, auxiliar de Carlinhos Neves foi quem me aqueceu, o Gilberto que hoje gerente do CCT foi o preparador de goleiros que me aprovou, trabalhei muito tempo na base com o Dr. Sanchez com o Dr. Auro, que são médicos do profissional hoje, o Ailton massagista, o Ratinho, roupeiro.



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São pessoas que tem muito mais tempo de casa do que eu e participaram de momentos importantes, momentos difíceis.



No começo a adaptação foi difícil, nunca tinha morado sozinho, ainda mais em uma cidade grande como São Paulo, tinha só 17 anos.



O primeiro treino no CCT eu fiz o aquecimento e o Forlan era o técnico, foi alguns meses antes do Telê Santana chegar, eu aqueci, o Gilberto fez alguns treinos específicos para me testar e no final estava tendo um coletivo com o Zetti em um gol e o Gilmar no outro, o Gilmar era o titular naquela época.



No intervalo eu entrei em um gol e o Marcos no outro. Fui super bem no treino, mas tomei um golaço do Leonardo.



Foi muito bacana e fiquei impressionado porque chegar e no primeiro dia já participar de um coletivo na equipe profissional não é fácil!



No dia seguinte, dia 7 de Setembro, eu cheguei ao CCT e fiquei sabendo que tinha sido aprovado no teste e no dia 9 de Setembro eu vim morar no Morumbi.


P – Você hoje se considera um atleta com a carreira além de vitoriosa, perfeita?


RC – Eu me considero um atleta que esta vivendo uma carreira e que pode ser melhorada. Perfeição não existe porque você ganha, perde, passa momentos difíceis, ruins e acho que o que vale é a média do que você faz.



Depois de 924 partidas você tem que ter uma média boa senão não joga tudo isso. Espero nos dois próximos anos de contrato, ganhar, sempre ganhar mais, talvez seja isso que mantenha motivado me mantenha vivo.



Meu único intuito é que o São Paulo seja campeão novamente nestes próximos dois anos é o meu principal objetivo.


P – Existe algum fato que se pudesse mudaria nesta trajetória, alguma derrota, algum fato que te deixou infeliz?


Eu acho que tudo o que era para ser vivido aqui dentro foi vivido, coisas boas e ruins, muito mais coisas boas! Foram grandes conquistas, um tricampeonato Brasileiro inédito, uma Libertadores e um Mundial depois de uma década, um fato que não se ressalta muito, mas é importante são os sete anos consecutivos participando da Libertadores.



O clube cresceu muito, acho que por ter um presidente empreendedor. Não é fácil hoje em dia construir um CT como o de Cotia, o próprio Morumbi esta mudando muito, eu vim aqui outro dia e fiquei surpreso com a quantidade de coisas construídas e pela quantidade de projetos que parece vão caminhar aqui no estádio, houve um progresso enorme nestes 20 anos.



Lógico que o torcedor quer ver o resultado dentro do campo, mas, como patrimônio como benfeitorias o São Paulo é um clube que vem crescendo independente dos resultados pontuais que não são os melhores como foram de 2005 até 2008.


P – Qual a importância do Telê em sua carreira?


RC – Muito grande, é um doa grandes personagens que eu convivi de Outubro de 90 até 1995 quando ele esteve no São Paulo.


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Foi o treinador que me lançou na equipe profissional, um cara muito sério, muito rígido, mas ao mesmo tempo muito correto com as pessoas que eram profissionais e trabalhavam.



Foi meu grande parceiro de tênis no CCT, eu chegava meia hora mais cedo para as concentrações para jogar uma partida de tênis com ele. Telê deixava ordem para o segurança avisá-lo quando eu chegasse para ele me chamar para jogar.



Tive muitas passagens bacanas, lembro de uma em que ele me chamou a atenção por estar sentado em cima da mesa da telefonista!



Telê foi um mestre para o São Paulo Futebol Clube, eu tive grandes treinadores de goleiros, mas, sem duvida Telê é um nome gravado para sempre na história do São Paulo.


P – Você está fazendo 20 anos de carreira em um só clube, você tem noção de que pelos dias atuais muito possivelmente seja o último atleta em atividade a atingir uma marca destas em um clube de futebol?


RC – Acho que tem muita gente que desde as categorias de base se encontram em seus clubes ainda, devem surgir alguns talentos que permaneçam por muito tempo.



Não sei se estas marcas serão alcançadas ou não, algumas talvez, mas são marcas expressivas nos dias atuais. Décadas atrás era uma coisa mais comum mais natural, hoje em dia o mercado, a globalização, o futebol em si, não permite, são dois os motivos: Quando você estoura é jovem você vai embora, quando não estoura e é jovem eles te mandam embora!


P – É algo natural você se tornar presidente do São Paulo no futuro?


RC – Acredito que não, que não seja algo natural! Não necessariamente um bom jogador possa ser um bom presidente. Eu espero poder ajudar o São Paulo da maneira que for possível.



O cargo de presidente é ocupacional, não é uma profissão, não sei se isso pode acontecer, a vida prega surpresas. Uma delas é depois de 20 anos ter chegado até aqui e hoje estar conversando com vocês.



Eu acho que momentaneamente o São Paulo tem gente mais preparada para assumir o cargo de presidente, se um dia esta possibilidade se realizar quem sabe. Eu só espero poder ajudar o São Paulo da melhor maneira possível principalmente na área que eu mais entendo que é o futebol.


P – Como se sente em relação ao final da carreira ou momento de parar?


RC – Me sinto super bem, me sinto em forma, jogando em bom nível, em uma média muito parecida com toda minha carreira desde os 23 até hoje aos 37, então estou muito tranquilo, tenho um contrato que vai até 31 de Dezembro de 2012 e acredito que exista condições naturais de cumpri –lo naturalmente a não ser que apareça no meio do caminho alguma lesão grave como foi a de 2009, e depois pensar no que fazer.



Eu não posso viver 2012 hoje! Hoje eu me sinto bem e diria que continuaria jogando até os 50, mas, o tempo passa e eu tenho comigo que até o final de 2012 estarei jogando.




P – Ficou alguma magoa daquele ocorrido em 2001 com o então presidente Paulo Amaral quando você quase deixou o clube e até antes quando você poderia ter ido para o Goiás?


RC - A proposta do Goiás foi em 1996 quando eu ainda era reserva. O professor Medina esta no Goiás, faltava 6 meses para terminar meu contrato e ele gostaria que eu fosse para lá.



O presidente Fernando Casal Del Rey disse que não poderia me liberar porque eu já tinha jogado muitas partidas pelo clube e caso o Zetti se machucasse não teria um suplente para entrar.



Ele me disse que no final do ano daria passe livre para o Zetti e eu teria uma chance como titular e foi o que aconteceu.


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No caso de 2001 eu guardo mais ressentimento da forma como o presidente tratou a situação, uma coisa extremamente desagradável que tomou um tom que não tinha o mínimo de necessidade de fazer foi uma pessoa intransigente.



Ele vale para mim o que ele vale para história do clube, o que ele acrescentou na história do clube nos dois anos em que presidiu o São Paulo.


P – Fale um pouco do episódio do jogo contra o Atlético Goianiense que você pediu para o Cleber Santana e o Samuel falarem com o Sergio Baresi para entrar na partida, isso causou muita discussão na imprensa!


RC - Eu vejo que vocês precisam de muita noticia, precisam vender jornal, criar debates e polêmicas na TV e no rádio, entendo isso.



Foi um episódio normal não interferiu em absolutamente nada, eu falei para o Cleber e o Samuel continuarem aquecendo e para se aproximarem do Sergio, e já ir forçando para entrar, porque faltavam oito minutos para acabar o jogo e precisávamos de jogadores mais altos no time para anular a jogada aérea do adversário.



Vocês só estão se esquecendo que eu não disse diretamente para ele colocar fulano ou beltrano, foi uma coisa natural, uma conversa com companheiros que aqueciam atrás do meu gol. Quem substituiu foi o Sergio, quem escolheu os jogadores que iriam entrar foi ele.



Eu atropelaria se dissesse ao Sergio para por o Cleber Santana, ai seria uma coisa estranha.



O Sergio escala o time, tem toda a autonomia, quem manda no clube é o presidente, mas quem exerce a função de treinador é o Sergio e nós somos todos funcionários do clube tentando sempre ajudar, mas, todas as decisões são tomadas por ele, quem entra, quem sai, no lugar que quem.


P - Você teme não disputar mais uma Libertadores e acha que a torcida ainda tem desconfiança no trabalho de Sergio Baresi ?



RC – É natural que haja uma desconfiança com quem está começando, eu também tive uma desconfiança quando comecei. A desconfiança é sanada com resultados, nós precisamos ganhar.



Quanto a Libertadores eu espero que a desse ano não tenha sido a última, eu espero em 2011 poder estar disputando!



Sabemos que é um momento difícil, temos metade do campeonato ainda para jogar, temos que fazer um returno muito melhor, temos apenas 25 pontos, é muito pouco para o São Paulo!



Vai depender muito do desempenho que tivermos a partir de agora.



Eu espero não encerrar minha carreira no São Paulo sem novamente jogar a Libertadores, é o meu projeto, 2011, 2012 poder jogar novamente a competição.

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