Quando entrar no principal gabinete do Palácio dos Bandeirantes, hoje de manhã, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, vai ouvir o que não quer. O governador Alberto Goldman (PSDB) vai insistir no Estádio do Morumbi como opção mais viável para a cidade receber a abertura da Copa de 2014. Se nenhum argumento convencer o cartola a rever o veto ao campo do São Paulo, as alternativas são a nova arena do Palmeiras ou um reformado Pacaembu, nessa ordem. Não será da boca do tucano que sairão palavras como Pirituba ou um futuro estádio do Corinthians.

Ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e do presidente do Comitê Paulista, Francisco Luna, Goldman quer ouvir de Teixeira as explicações para o veto ao Morumbi, feito durante a Copa da África do Sul e comunicado pelo site da CBF. "Quero conhecê-lo, conversar com ele sobre isso", diz o governador.

Há explicação para essa diplomacia. Nenhuma autoridade de São Paulo admite abrir mão do jogo inaugural da Copa, mas já se trabalha com essa hipótese e deixará a decisão para a CBF. Para compensar, a capital quer negociar o Congresso da Fifa, o centro de mídia e uma semifinal. Nesse caso, a Arena Palestra tem capacidade suficiente (45 mil lugares) e infraestrutura ao redor. Reformar o Pacaembu não é uma prioridade e um estádio em Pirituba, nas palavras de Goldman, é "um fastaminha". O tucano só não amenizou ao responder às cobranças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Leia trechos da entrevista exclusiva ao Estado.

Cobrança de Lula

Ele deveria olhar para dentro da casa dele antes (de nos criticar). Faz 33 meses que a decisão da Copa foi tomada, e o problema maior hoje são três, como disse corretamente o Ricardo Teixeira: o primeiro são aeroportos, o segundo, aeroportos, o terceiro, aeroportos. Em São Paulo, é o maior drama, independentemente da Copa. Já vinha sendo e se agravará muito se nada for feito. Ele (Lula) não tem autoridade para nos dar lições. Nossas ações estão em dia. Teremos a Linha 4 do Metrô, com a Estação São Paulo-Morumbi, a pouco mais de um quilômetro do estádio. Além disso, e por sugestão deles, antecipamos a execução da Linha 17-Ouro, um monotrilho ligando a Linha 1 à Linha 4, passando pelo estádio. É um investimento de quase R$ 3 bilhões, onde há dinheiro do Estado, empréstimos do BNDES e da Caixa. Não há um centavo de repasse da União.

Abertura

São Paulo vai pleitear a abertura da Copa. Mas essa decisão não está na nossa mão. Envolve os clubes donos de estádios ? só o Pacaembu é público ? e a CBF, todos entidades privadas. Nossos investimentos só podem ser feitos para atender a população e devem ser permanentes. O que vamos discutir amanhã (hoje) é isso. Temos estádio para a abertura. Esses critérios (da Fifa) não são uma coisa rígida, são maleáveis. Em Johannesburgo, muitos critérios não foram atendidos. Para chegar ao Soccer City, o sujeito andava quilômetros. Aqui (no Morumbi) é pouco mais de um quilômetro.

Reunião

São Paulo tem alternativas: o estádio do São Paulo, o do Palmeiras, o Pacaembu, que não é o ideal. Eu nunca conversei com ele (Ricardo Teixeira) sobre isso e o que queremos é conversar, com boa vontade. Vamos fazer uma coisa que interessa à cidade, ao Estado e ao País, que é ter a abertura aqui. Qual é o fato existente: aquele anúncio no site da CBF de que o Morumbi não foi aceito e o projeto que o São Paulo encaminhou. Não sabemos qual foi a atitude da CBF em relação a esse material. Essa é a conversa. Nós insistimos na abertura, achamos que o Morumbi é o mais próximo da realidade, mas temos alternativas. Estamos preparados para a Copa, diferente de algumas cidades. A Copa precisa de São Paulo.

Pacaembu

É um estádio antigo, que exigiria investimentos para reformas. Mesmo assim, não me parece que tenha condições de abrigar a abertura. Até acho a reforma do Pacaembu importante, independente de Copa, mas não é uma prioridade. E não será isso que se pretende para a abertura.

Arena Palestra

Temos as informações todas. O presidente do Comitê Paulista (e secretário de Planejamento), Francisco Luna, esteve com o pessoal do Palmeiras, conhece toda a proposta, bem estruturada e factível. Mas não é da dimensão que a Fifa está exigindo para a abertura. Há umas duas semanas, o Palmeiras mostrou o que está sendo feito. A conclusão seria para o final de 2012. No entorno há toda a infraestrutura necessária, um grande estacionamento previsto. Precisaria só de intervenções pontuais.

Pirituba

Isso (complexo de eventos) nasceu no governo Mário Covas, quando se achava necessário ampliar os espaços para exposições. No início do governo Kassab (2006), eu e o secretário (na época, de Habitação) Orlando Almeida sobrevoamos a cidade e encontramos essa área, na esquina da Rodovia dos Bandeirantes com o Rodoanel e com uma linha da CPTM. Kassab fez um decreto de utilidade pública e fez um projeto onde se entendeu que valia a pena uma arena para 40 mil pessoas para shows, para viabilizar uma concessão à iniciativa privada. Para chegar a isso, é um processo longo e, mais que isso, sem datas definidas. É impossível colocar Pirituba na mesa de discussão, porque é impossível definir datas. Isso foi um fantasminha que passou por aí. Você sabe, fantasmas não existem. Claro que passou porque alguém falou, alguém se entusiasmou, mas alguém que não tem conhecimento do processo todo. Se surgir Pirituba na reunião, vou dizer: "Esquece. Não existe".