O Choque-Rei do último domingo foi quente. Provocações, troca de agressões, empurrões, seguranças em campo... Tudo o que ocorreu depois da vitória do Palmeiras por 2 a 1 sobre o São Paulo , no Allianz Parque, pelo Campeonato Brasileiro, poderia ter sido uma briga de condomínio entre vizinhos, como ocorre em Os Outros, série do Globoplay lançada em 2023. Diversos jogadores dos dois clubes, que já treinam separados por apenas um muro, residem em um condomínio de alto padrão localizado próximo ao CT da Barra Funda e à Academia de Futebol, centros de treinamento de São Paulo e Palmeiras, respectivamente. Zé Rafael e Nestor, por exemplo, que trocaram agressões após o Choque-Rei do último domingo e foram expulsos por Raphael Claus, são vizinhos de torres. A privacidade e o alto padrão do condomínio dificulta que são-paulinos e palmeirenses se encontrem com frequência no dia a dia. As torres onde já moraram Dorival Júnior e Endrick, por exemplo, possuem elevadores que levam seus moradores direto aos apartamentos, sem contato com vizinhos. Mas Wellington Rato, um dos moradores, alertou depois do último clássico: – Todo mundo mora aqui perto, todo mundo se vê no dia a dia, aí tem uns que querem fazer graça para a torcida deles porque estão jogando em casa… Aí no outro dia se encontra no prédio, e aí? Aí pode gerar uma confusão maior. É manter o respeito. Tem que saber ganhar e saber perder, mas nunca faltar com respeito ao adversário – disse o atacante tricolor. Brigas entre condôminos viraram, recentemente, série do Globoplay - que teve sua segunda temporada lançada na semana passada. Em 2023, "Os Outros" ganhou destaque ao falar sobre as dificuldades de relacionamentos em um condomínio de classe média do Rio de Janeiro. No drama, filhos de dois casais brigam, e os pais tentam intervir, mas encontram dificuldade para chegar a um acordo. A briga, em "Os Outros", ganhou maiores proporções e passou a envolver, também, outros moradores. Nas torres onde moram diversos jogadores de Palmeiras e São Paulo, a presença das estrelas já é rotina e também afeta os vizinhos, mas sem brigas. – O Wellington Rato eu encontrei hoje, inclusive. Ele estava no mercadinho com a família. Nem quis falar nada. Mora no prédio de lá (outro lado). Nestor mora aí. O Zubeldía também, mas não o encontrei – disse um morador que não quis se identificar. – O Deyverson morava aqui, o Scarpa também. Eu já vi o Piquerez, o Endrick. Tenho um pouco de vergonha, mas falo com eles. Só dei oi e pedi uma foto. Só não deu tempo de pedir uma camisa – disse a filha de outro morador. Em um condomínio, se alguém tem dor de cabeça é o síndico. Nas torres onde moram os rivais, a responsabilidade por tudo o que acontece lá é do gestor Edevaldo. Ele admite que a rotina não é fácil, mas que não tem problema com os jogadores. – Festas até que não tem problema, fazem a reserva. Mas é complexa a vida no condomínio. Mas aqui não ocorre nada. Futebol é alegria, não precisa de briga nenhuma – falou o gestor. Por causa da proximidade com os centros de treinamentos dos dois clubes, o condomínio virou uma das principais opções para os jogadores e técnicos de Palmeiras e São Paulo. Luís Zubeldía, Abel Ferreira, Raphael Veiga, Rodrigo Nestor, Wellington Rato, Estêvão, Piquerez, Zé Rafael e Gustavo Gomez são alguns dos moradores do condomínio. De acordo com o Google Maps, ele fica a apenas cinco minutos a pé do CT da Barra Funda e da Academia de Futebol. Espionagem? A proximidade entre centro de treinamentos já foi motivo de polêmica no Choque-Rei no passado. Em 2017, depois de perder por 2 a 0 para o São Paulo, o então técnico palmeirense Cuca estranhou o fato de o são-paulino Rogério Ceni ter utilizado um esquema tático parecido com o que ele tinha escolhido. A suspeita, à época, era de que o treinador do Tricolor havia "espionado" um treino do Palmeiras em prédios ao redor da Academia de Futebol. – Aqueles prédios lá na frente do Palmeiras, não sei, não... (risos) Porque quem espelhou meu esquema foi o São Paulo. Faz parte. Se botou (espião) ou não, faz parte do jogo. Ele disse que teve uma intuição, mas que intuição forte – disse Cuca, à época, em entrevista ao sportv. Rogério Ceni, porém, havia explicado dias antes como pensou em escalar o São Paulo e alegou não ter informações sobre o Palmeiras: – Não tinha uma ideia exata de como o Palmeiras jogaria, porque não consegui informações suficientes. Tinha minhas convicções, como o Michel (Bastos) na esquerda. O Mayke na direita, eu já não tinha tanta certeza. Não achava que ele (Cuca) iria tirar um jogador de frente, manter dois atacantes e jogar com mais um homem no meio-campo. Mas acho que ele imaginava um São Paulo com três volantes – disse Ceni. Separados por um muro e elevadores, jogadores de São Paulo e Palmeiras ainda podem se encontrar mais vezes nesta temporada. Se passarem de Nacional e Botafogo, os rivais vão se enfrentar nas quartas de final da Conmebol Libertadores. O Palmeiras enfrenta os cariocas na quarta-feira precisando de uma vitória por dois ou mais gols de diferença para avançar. O São Paulo encara os uruguaios no Morumbis, na quinta, por uma vitória simples para garantir a classificação.
– Todo mundo mora aqui perto, todo mundo se vê no dia a dia, aí tem uns que querem fazer graça para a torcida deles porque estão jogando em casa… Aí no outro dia se encontra no prédio, e aí? Aí pode gerar uma confusão maior. É manter o respeito. Tem que saber ganhar e saber perder, mas nunca faltar com respeito ao adversário – disse o atacante tricolor.
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